Regionalizar?

Não sabemos se a regionalização teria ajudado ou, sequer, se ajudará na mitigação das desigualdades regionais.
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Nem mesmo os centralistas são capazes de negar a profunda desigualdade que a tal geografia limitada que gostam de invocar (“demasiado pequeno para ter regiões”) encerra. Sejamos sérios: não é problema exclusivo nosso (Espanha, Itália e, até, a Alemanha e os Estados Unidos padecem do mesmo mal) e não se sabe muito bem como o resolver (não é fácil encontrar casos de sucesso). Em Itália, por exemplo, o sul continua atrasado, não obstante décadas de injeção maciça de fundos. Em Espanha, algo de parecido se passa com a chamada meseta ibérica. Nos EUA, o apoio e o protecionismo à agricultura não conseguiram evitar o declínio da dita “América rural”. Mesmo a Alemanha, um dos países até aí mais equilibrados da Europa, apesar dos rios de dinheiro despendidos (cem mil euros por pessoa, diz-se), não foi capaz de realmente integrar a Alemanha de Leste, com as consequências políticas - recrudescimento da extrema-direita - que se conhecem.

À medida que a economia e a sociedade se tornam mais complexas, mais difícil é encontrar solução, em particular quando se procura uma solução - a forma, em si, centralista e paternalista, como a questão é, habitualmente, colocada. Por isso, a regionalização não é fórmula mágica. Pensar o contrário é um erro. A sua virtude reside em propor uma abordagem em que se reconhecem as especificidades, construindo sobre elas o modelo de desenvolvimento sem embarcar no equívoco da fragmentação municipalista, nem sequer intermunicipal, incapazes de gerar e permitir aproveitar as economias de aglomeração produtiva, urbana, etc. Para não falar na limitação da capacidade de negociação política.

As dinâmicas dominantes nas últimas décadas afetaram de forma muito negativa o interior do país. Não sabemos se a regionalização teria ajudado ou, sequer, se ajudará na mitigação das desigualdades regionais. Sabemos, porém, o que nos trouxe até aqui. E isso é cadastro que o centralismo não pode escamotear. É tempo de voltar a abrir o dossiê da regionalização, enquanto parte da discussão sobre o modelo de desenvolvimento - o país merece-o.

Economista, professor universitário

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