O número de imóveis entregues à banca pelas famílias que não conseguem já pagar os seus empréstimos não para de aumentar. Só em dezembro de 2011 foram entregues aos bancos cerca de 37 casas por dia, em dação em pagamento por famílias e por promotores imobiliários, na sequência do incumprimento nos créditos à habitação e à construção, segundo estimativas da associação que representa o setor imobiliário. É mais do dobro da média da totalidade do ano: 17 imóveis por dia.No total, no ano passado cerca de 6900 imóveis foram entregues em dação em pagamento, mais 1100 casas do que em 2010, um agravamento de quase 18%, segundo dados da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.Só no mês de dezembro foram entregues 1155 imóveis, um agravamento de 49% face a dezembro de 2010. Desta forma, de acordo com a APEMIP, o último mês do ano passado foi o mais negativo em termos de volume de imóveis entregues , pelo menos, dos últimos 24 meses."Estes valores demonstram as dificuldades que o sector da construção e do imobiliário estão atravessar", afirmou Luís Lima, presidente da APEMIP, em declarações ao DN/DinheiroVivo."A falta de esperança das empresas promotoras de que vão conseguir vender os imóveis, assim como a própria crise na construção e imobiliário e as dificuldades das famílias" são as principais razões apontadas pelo responsável da APEMIP para o aumento da entrega de casas à banca. As estimativas da associação mostram que as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto concentram 45,2% do número total de imóveis entregues à banca no ano passado, sendo que dos 10 municípios mais penalizados em termos nacionais, apenas três - Loulé, Ponta Delgada e Braga - não pertencem a estas duas regiões."Esta tendência de crescimento tem vindo a verificar-se nos últimos meses e é provável que se mantenha. Uma situação grave sobretudo porque tem contribuído para o encerramento de promotores imobiliários, o que se traduz em mais desemprego", afirmou Luís Lima.Estimular o arrendamentoO responsável da APEMIP criticou ainda o facto de os bancos colocarem novamente à venda os imóveis que lhes são entregues mas a preços mais baixos, com descontos que podem chegar até aos 30%. "Esses imóveis deveriam ser canalizados para o arrendamento, por exemplo, para os fundos de arrendamento que foram criados em 2009. Mas isso acaba por não acontecer, ou seja, os imóveis voltam ao mercado para venda mais baratos, o que pressiona os preços", adianta Luís Lima.Perante este cenário, o presidente da APEMIP explica que "podem dar-se casos em que dois prédios no mesmo local oferecem além de preços diferentes, também condições de financiamento distintas". E explicou: "Enquanto no prédio detido pela banca à crédito e a 100%, no do promotor imobiliário não há. Desta forma torna-se muito difícil para os promotores que ainda procuram sobreviver competir com essa oferta da banca."O responsável da associação do sector adiantou ao DN/Dinheiro Vivo que tem mantido conversações com os cinco principais bancos a atuar no mercado português - Caixa, BCP, BES, BPI e Santander Totta -para os sensibilizar para a questão de canalizar esses imóveis para o arrendamento. "Atualmente existe ainda pouca oferta no mercado de arrendamento para a quantidade de procura que existe. Isso tem contribuído para que os preços se mantenham altos, e é aqui que a banca, com os seus imóveis poderia dar o contributo."Com a crise no sector imobiliário, Luís Lima adiantou que, só no ano passado, o mercado perdeu cerca de 22% de imobiliárias, 40% de construtoras e uma percentagem ainda maior de promotores.