Com a vida suspensa, à espera de um concurso, médicos recém-especialistas foram ontem ao Parlamento apelar aos deputados que possam interceder por eles junto do Governo. Afinal, desabafou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, os clínicos "já não acreditam neste ministro da Saúde". E, fartos de esperar, 6% destes médicos já rescindiram contrato com o Serviço Nacional de Saúde (SNS)..Em abril e outubro do ano passado, 710 médicos concluíram a sua especialidade, mas ainda aguardam que Saúde e Finanças abram os concursos para os colocar no SNS. Ao contrário do que estabelece a lei, o Governo deixou na gaveta os concursos. "Neste momento, por razões que nos ultrapassam, não podemos ajudar o país", desabafou a recém-especialista Inês Mesquita.."Estamos nos hospitais onde fizemos a formação e não nos hospitais que precisam de nós", afirmou a médica, enumerando aquilo que lhes está vedado. Não podem realizar consultas de especialidade, não podem operar ou anestesiar, são médicos com uma formação diferenciada "de 11 a 13 anos", sem que o Estado recorra aos seus préstimos. O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, explicou que, com este travão ao concurso, o Estado está a gastar mais dinheiro. Já há "casos pontuais" de hospitais que, por falta de especialistas, recorrem à "subcontratação de médicos, pagos à hora, onde se chega a pagar o dobro do que se pagaria" aos médicos que aguardam colocação..Questionado pelo DN sobre o número de médicos que já foram à procura de outras soluções, Carlos Cortes notou que, num levantamento feito, "30% dos médicos já assinaram contratos diretos" - são cerca de 210 clínicos: a maioria no âmbito de contratos individuais de trabalho, originando assim também situações desiguais entre estes médicos e ainda entre hospitais que podem ou não contratar nestes termos; e 6% (uns 40 médicos) já saíram do SNS, grande parte para o setor privado e quase uma dezena foi "para fora, emigraram"..Carlos Cortes acrescentou ao DN que a não colocação destes profissionais coloca outro problema: as unidades formativas de médicos "estão nos grandes centros", deixando os "periféricos", ou seja, "hospitais distritais", "à espera" destes profissionais..A assinatura que falta....Aos deputados da Comissão Parlamentar da Saúde, Guida Ponte, dirigente sindical da FNAM, notou que aquilo que o Estado gastou em formação com estes médicos está a ser aproveitado por outras instituições, e José Carlos Almeida, do SIM, avisou que, sem a entrada destes especialistas, "há uma maior sobrecarga para os médicos" que estão nos serviços..Interpelado esta semana pelos jornalistas, antes da entrega da carta aberta no Parlamento, o ministro da Saúde sacudiu a água do capote. "São precisas duas assinaturas e um despacho conjunto", disse. "Este ano há um atraso maior porque o processo está no Ministério das Finanças à espera de ser concluído", afirmou o ministro Adalberto Campos Fernandes, citado pela Lusa.