Uma nova ponte que em 2022 será como uma rua urbana a ligar Porto e Gaia
A ideia de construir uma nova ponte no rio Douro a ligar Porto e Gaia não é nova e até já existiam vários estudos, com diferentes localizações e características distintas. O local - Campanhã (Porto) e Areinho (Oliveira do Douro) - onde será instalada uma nova travessia, ontem anunciada pelos autarcas Rui Moreira e Eduardo Vítor Rodrigues, presidentes das câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia, respetivamente, segue um desses projetos, concebido há anos pelo engenheiro Adão da Fonseca, um catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto que tem já a assinatura em diversas pontes nacionais, incluindo a do Infante, no Douro.
"O local escolhido é o melhor. Nem vejo alternativa. Quando fiz o estudo para a Câmara de Gaia conclui que era o ideal. Permite a requalificação de duas zonas em ambas as margens que necessitam de valorização", contou ao DN o engenheiro Adão da Fonseca, que diz não ter sido agora consultado mas ouviu Rui Moreira, na apresentação do projeto, a realçar a importância do seu estudo para esta nova travessia que será à cota baixa, numa extensão de 250 metros, entre as pontes de São João e a do Freixo. Os custos serão de 12 milhões de euros, a serem suportados pelas duas autarquias, com a previsão de quatro anos para a sua conclusão.
Quando partiu para o estudo de uma ponte, Adão da Fonseca verificou que era simples executar naquele local. "Do lado do Porto, a zona de Campanhã precisa de requalificação e o espaço é bom. Previa uma rotunda para a ligação à marginal do Douro. Em Gaia, no Areinho, uma zona paradisíaca, com praia e área verde, podemos ter o mesmo objetivo", explicou.
Ouvido pelo DN, o presidente da Câmara de Gaia revelou que estas bases, lançadas ainda quando Luís Filipe Menezes era autarca, serviram de "ponto de partida" para o projeto atual. "Esse estudo do professor Adão da Fonseca foi tido em conta. Foi de facto a inspiração principal até porque foi realizado pelo maior conhecedor das pontes do Porto, o atual Edgar Cardoso", disse Eduardo Vítor Rodrigues.
O autarca explica que a necessidade de uma nova travessia é evidente. "A situação está caótica. A ponte da Arrábida era um atravessamento regional, não era uma ponte urbana, e hoje está saturada. A ponte do Freixo foi também concebida como um grande atravessamento entre autoestradas, uma ligação da A1. À Ponte Luís I foi retirado um tabuleiro para o metro. A do Infante deixou muito a desejar na ligação às cidades. Por isso, uma nova ponte faz sentido, significa um novo polo de crescimento, com vantagens para os moradores, económicas e turísticas", explicou.
Rui Moreira adiantou na apresentação, no Laboratório Edgar Cardoso, que esta nova ligação permitirá prosseguir a política de mobilidade articulada entre os dois territórios, que avançará, numa fase posterior, por pedonalizar o tabuleiro inferior da Ponte Luís I e intervir na Ponte Maria Pia (ferroviária e atualmente desativada), tornando-a transitável a peões e bicicletas.
Como a área de intervenção está fora de zonas de património protegido, Moreira frisou que, além de não haver necessidade de pedidos de financiamento, as câmaras têm liberdade para avançar. "Não precisamos de pedir nada ao senhor ministro das Infraestruturas e também não precisamos do Ministério da Cultura."
Eduardo Vítor Rodrigues adiantou ao DN que o caderno de encargos para o projeto, ainda a ser elaborado, terá em conta a coerência da nova estrutura com as atuais pontes. "Os materiais devem respeitar a história das pontes no Douro, com o ferro fundido e o betão a serem os principais", disse, considerando realista o prazo de execução em quatro anos e a previsão de custo de 12 milhões de euros. O autarca revelou ainda que a travessia deve ter apenas duas faixas rodoviárias, uma em cada sentido, mais as faixas pedonais e de ciclovia.
Esta base agrada a Adão da Fonseca. "É importante que tenha uma faixa só para cada lado, e até nem precisa de separador, na minha opinião. Uma ponte como esta deve ter o movimento normal de uma rua. Será urbana", sublinhou.
O engenheiro considera que os estudos que fez para outras pontes devem ser considerados no futuro. "Uma ponte pedonal junto à Luís I faz sentido. E uma travessia rodoviária em Massarelos, à cota baixa, também é possível", afirma, convicto de que Porto e Gaia "têm de trabalhar em conjunto, apesar de não serem uma cidade única formam um centro único". É a grande diferença em relação a Lisboa e ao Tejo. "As duas margens estão muito distantes, são independentes uma da outra."
Foi já anunciado que D. António Francisco dos Santos, falecido bispo do Porto, dará o nome à nova ponte, tendo D. António Taipa, administrador diocesano, em representação da Diocese do Porto, participado ontem na apresentação do projeto. Para o autarca de Gaia, "é a personalidade que melhor simboliza as pontes entre nós. Torna-nos maiores"
Nova travessia a ligar Lisboa e a Margem Sul é tema recorrente. Um grupo de trabalho reúne-se mensalmente, mas sem compromisso
O grupo de trabalho para avaliar a nova localização da terceira travessia do rio Tejo (TTT) continua com reuniões praticamente mensais, mas as perspetivas de o governo avançar com algum projeto a curto prazo são para já escassas. Não existem compromissos com datas nem com locais, apesar de o ministro do Planeamento, Pedro Marques, já ter admitido que a TTT pode avançar após a decisão de alargar a oferta aeroportuária da região de Lisboa à Margem Sul.
O assunto da nova travessia do Tejo é assunto recorrente há vários anos, chegou mesmo a ter concurso lançado, mas que foi suspenso em 2011. A explicação foi a degradação da situação económica de Portugal. Nessa altura, a TTT estava ligada ao projeto de alta velocidade ferroviária.
Um túnel Algés-Trafaria (proposto pela Lusoponte), uma ponte-túnel Beato-Montijo (defendida num estudo da CIP como o melhor acesso ao novo aeroporto na Margem Sul), uma travessia Chelas-Barreiro (solução que chegou a reunir maior consenso do executivo), um túnel Alverca-Margem Sul (sugestão apresentada na Ordem dos Engenheiros) foram algumas das ideias para a TTT.
Entre os partidos, tem sido o PCP a assumir com mais insistência a necessidade de se avançar com a obra. Ainda na quarta-feira, no Parlamento, após a audição do Laboratório Nacional de Engenharia Civil sobre a situação da Ponte 25 de Abril, os comunistas voltaram a insistir com o assunto. O deputado Miguel Tiago considera que é tempo de dar o passo em frente e construir a travessia Barreiro-Lisboa. E avisou que, da parte do PCP, "há intenção de continuar a pressionar para que esse projeto se concretize o mais rapidamente possível" e que essa pressão vai existir "independentemente dos governos". Sílvia Freches