Silva Ribeiro recebe herança com menos militares e mais missões
O almirante Silva Ribeiro toma hoje posse como Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) no meio de pouco habituais expectativas, desde responsáveis políticos a militares e dirigentes associativos, quanto à sua capacidade para mudar a instituição.
Com mais missões e menos efetivos, orçamento reduzido para operações e manutenção e novas exigências a nível da NATO e UE, Silva Ribeiro - catedrático especializado nos domínios da Estratégia, Ciência Política e História - chega ao topo da hierarquia com um trabalho visto como exemplar nos cerca de 14 meses de chefia da Marinha (após anos de turbulência interna).
"É a única pessoa da minha geração em que reconheço capacidade para dar a volta às FA", porque "tem uma preparação excecional e pode exercer o mandato por cinco anos", diz o major-general Carlos Chaves. Presidente da extinta Comissão de Acompanhamento para a Reforma da Defesa, aprovada pelo governo anterior, Carlos Chaves elogia-lhe a "capacidade de dialogar com o poder político sem subserviências e com objetividade" para ultrapassar as dificuldades. Na base dessa convicção estão a "visibilidade e operacionalidade" da Marinha, atingidas "sem choradinho" do que considera o militar "mais bem preparado para o desempenho" do cargo.
Entrar numa nova época
Deputados da Comissão de Defesa exprimiram a mesma certeza, a começar por José Miguel Medeiros (PS): "Tem um currículo excecional, um percurso profissional irrepreensível, uma visão estratégica para as FA". A seu favor joga ainda o facto de, "após uma fase de grande reestruturação" marcada pelos constrangimentos da troika, as FA "entrarem numa época diferente" e chefiados por quem traz "uma visão de outra época".
Para o presidente da comissão, Marco António Costa (PSD), Silva Ribeiro "traz consigo uma linha de modernidade, de pragmatismo na gestão dos recursos" humanos, financeiros e materiais que o levam "a tentar apresentar soluções". Certo é que o novo CEMGFA "terá uma tarefa muito difícil", que começa com "o grave problema do recrutamento de jovens para as fileiras" e se estende aos "novos tempos que se vivem" na NATO e na UE (impondo mais despesas e meios modernos).
João Rebelo (CDS) diz que Silva Ribeiro "é um intelectual, está muito bem preparado" e "não lhe vai ser difícil pensar global em vez de nas capelinhas". Mais, "conhece bem os outros ramos e vai-lhe ser fácil implementar uma cultura joint".
Bruno Vitorino (PSD) é mais cauteloso face aos constrangimentos vividos pelo antecessor, general Pina Monteiro, pois as FA "estão piores, com cada vez menos dinheiro para operação e manutenção". "Desejo-lhe sorte e espero que seja uma pessoa corajosa e determinada", diz.
O coronel Nuno Pereira da Silva (Exército), especialista em questões militares europeias, diz que Silva Ribeiro "tem de ser arguto e conseguir convencer a tutela da necessidade" de mais efetivos. "Sem afrontar o poder político", vai "conseguir fazer este trabalho de diplomacia militar" que permita às FA "passarem a ser da terceira vaga" - pois "necessitam de se digitalizar e de serem interoperáveis entre si, que não são".
António Mota, da associação dos oficiais, diz que o CEMGFA "tem a seu favor" o facto de "promover e facilitar o diálogo" com os representantes socioprofissionais dos militares. "Caso único" e que "deu resultados" foi o de criar um "grupo de trabalho permanente" para essas matérias na Marinha.
Mário Ramos, da associação dos sargentos, modera as expectativas com a incógnita de saber "se o Governo vai atribuir os meios necessários para que as missões possam continuar a ser cumpridas".
Loureiro dos Santos, ex-chefe do Exército, afasta reservas quanto ao facto de o CEMGFA ser da Marinha, enquanto outro ex-chefe, Melo Gomes (Marinha), condiciona o sucesso de Silva Ribeiro à existência de "mudanças legislativas que revertam" a chamada Reforma 2020.