Salas de chuto podem servir mais de 1400 toxicodependentes

Dois espaços fixos serão no Lumiar e Avenida de Ceuta, a sala móvel na zona Oriental de Lisboa
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São cerca de 1400 consumidores de drogas identificados em Lisboa que podem vir a beneficiar das três salas de consumo assistido que a autarquia pretende implementar como projetos piloto até ao final do ano. O número foi obtido no diagnóstico feito no terreno por equipas especializadas, cujas conclusões são hoje apresentadas e que dão início à implementação das chamadas salas de chuto em Portugal, previstas na lei desde 2001.

"Este é um estudo técnico que nos revela que continua a haver um problema grave de consumo na rua. São consumidores de longa duração a que os programas que até hoje se desenvolveram não conseguiram responder. Será uma inovação em Portugal mas é comum na Europa onde existem mais de 40 salas destas", disse ao DN Ricardo Robles, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, para quem devem existir mais consumidores do que aqueles 1400 identificados. Nos diagnósticos efetuados pelas associações Crescer, Ares do Pinhal, GAT e Médicos do Mundo foram ouvidos os consumidores, os moradores das zonas afetadas, as autarquias e as forças de segurança.

A proposta é que avancem três salas, duas fixas e uma móvel. As duas fixas devem ficar instaladas no Lumiar, junto ao bairro da Cruz Vermelha, e na Avenida de Ceuta, enquanto a móvel irá ter atuação em pontos diversos das zonas Oriental e Ocidental da cidade. "São sítios onde existe o consumo o que cria situações problemáticas, para as quais não tem havido soluções, com consumo à porta de escolas, em parques, em bairros", avisa o vereador eleito pelo BE.

Nos diagnósticos, os técnicos verificaram que este grupo de toxicodependentes é uma "população envelhecida, a larga maioria com idade superior a 40 anos, e que apresenta do ponto de vista social, um perfil de pobreza e exclusão social - em situação de habitação precária (sem abrigo, em instituição de acolhimento, casa abandonada ou sem condições)", lê-se no resumo do trabalho que hoje será divulgado com mais pormenor. "Relativamente ao padrão de consumo, verificamos que a maioria são consumidores diários ou regulares, sendo ainda significativa a percentagem dos que referem partilhar material de consumo, o que possivelmente também está relacionado com as condições e contextos em que esse consumo é realizado. É de salientar que a maioria refere consumir em espaço público e sem condições de higiene e segurança: na rua, casas de banho públicas, descampados, prédios abandonados", acrescentam os técnicos. Do ponto de vista da saúde, trata-se de um grupo que apresenta elevadas prevalências para hepatite C, VIH e hepatite B, e baixos índices de tratamento destas infecções. A maioria dos abordados mostrou-se interessada em recorrer a este tipo de serviços assistidos por razões de higiene, segurança e privacidade.

Entre os moradores, alguns disseram "sentir-se estigmatizados por morar num bairro onde há consumo, muito incomodados por consumos nos espaços comuns dos prédios, incluída a existência de lixo e urina, e revelaram preocupação pelo impacto da visibilidade do consumo nas suas vidas".

"Este programa será uma resposta de saúde pública e também social, em que se procurou ter envolvidos os consumidores, as populações e as forças de segurança", apontou Ricardo Robles, que espera ter no final do ano, no máximo no início de 2019, as salas a funcionar. Hoje é dado o primeiro passo, faltam os orçamentos e a montagem do programa.

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