Rui Nogueira "Devia haver uma forma fácil de reorientar os pedidos"
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar admite que o sistema de referenciação tem de melhorar para dar melhores opções aos doentes.
A liberdade de escolha, que permite ao doente escolher o hospital onde quer ser tratado, não deveria ter resolvido boa parte do problema dos tempos de espera para primeiras consultas, que continuam bastante acima do previsto na lei?
Sim, a liberdade de escolha é uma atitude lógica e benéfica para o doente, só que as carências são generalizadas e assim a escolha fica muitas vezes limitada. O problema de base não se resolve com esta solução. O problema de base são as carências estruturais, a falta de médicos e, muitas vezes, a ausência de planificação. O desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) dos últimos anos tem consequências que não se resolvem com cosméticas ou medidas avulsas. Por sua vez, talvez ainda se possa trabalhar melhor o sistema de referenciação de modo a conhecermos e darmos a conhecer ao doente as alternativas viáveis em função do tempo de espera.
Mas os médicos de família notam alguma melhoria com essa alteração de referenciação, em que se pode escolher o hospital com melhores tempos de resposta?
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Inicialmente pensei que iria facilitar mais o acesso, mas na prática tem apenas pequenas vantagens, porque não é visível o tempo de espera estimado ou qualquer outra informação que permita ajudar o doente a fazer opções, na altura do pedido.
Porque não são os doentes encaminhados para outras unidades com tempos de resposta dentro do que a lei prevê?
O sistema de referenciação deveria ser mais amigável de modo a permitir ao doente fazer as melhores opções. Na prática deveria haver uma forma fácil e direta de propor a reorientação automática do pedido de consulta para outra unidade de saúde quando o tempo de espera fosse superior ao programado.
Já lhe chegou algum caso diretamente, enquanto médico de família, ou teve conhecimento de doentes que viram os problemas de saúde agravados depois de terem esperado demasiado tempo por uma primeira consulta?
É difícil acontecer, porque procuramos resolver o problema com outros pedidos quando se deteta uma espera superior ao razoável. Por outro lado, estes casos não são urgentes. Mas as consultas externas deverão ser uma forma normal de acesso ao hospital.
Como se pode resolver, desde logo, a falta de profissionais nestes hospitais, que reclamam mais especialistas, e porque não foram abertas mais vagas para especialidades como dermatologia - nomeadamente na zona centro, onde há a indicação de que foi aberta apenas uma -, uma das especialidades mais carenciadas?
Esta é uma pergunta difícil para mim, mas é conhecida a falta de médicos de algumas especialidades nalguns hospitais. Mas seria bom que não houvesse falta de médicos no Serviço Nacional de Saúde por ausência de contratações. O país está a formar médicos de qualidade e em quantidade mas nem sempre se vislumbra planeamento em função das necessidades. Provavelmente vai ser necessário tomar medidas políticas de modo a contratar mais e melhor para garantir a defesa e a sustentabilidade do SNS.