PSP tem 2219 adeptos identificados por atos violentos em jogos de futebol
A PSP tem identificados 2219 adeptos envolvidos em situações de violência no futebol, segundo dados avançados ao DN por esta força de segurança. Destes adeptos referenciados pelas autoridades, até ao dia de ontem, apenas 19 estão interditados de entrar nos estádios. Oito deles são casuals, elementos sem registo nas claques oficiais e que se organizam para provocar distúrbios e confrontos.
De acordo ainda com a PSP, até abril último, os confrontos entre adeptos tinham triplicado (50 na última época, 180 na presente) e as invasões de campo tinham duplicado (41 contra 21). Incitamento à violência, ao racismo e à xenofobia tinha, até ao mês passado, 31 casos registados.
A violência na Academia do Sporting em Alcochete foi, reconhecem os peritos desta polícia, o culminar de uma época futebolística particularmente agressiva, cujos sinais estavam visíveis. Numa conferência na Assembleia da República sobre Violência no Deporto, em abril, a intervenção do principal especialista da PSP nesta matéria, o superintendente Luís Simões, deixou vários alertas e propostas para travar esta escalada.
A possível justificação para o residual número de interditados face ao elevado total de adeptos, bem como para o recrudescimento desta violência, pode ser encontrada no "diagnóstico" que apresentou: "falta de celeridade das autoridades administrativas; falta de sensibilização do poder judicial na aplicação das sanções; "expedientes" jurídicos que atrasam ou anulam decisões punitivas; discursos provocatórios, por vezes agressivos ou mesmo violentos, de dirigentes e figuras públicas ligados aos clubes e media; mediatização de todos os fatores de conflitualidade clubística nos espaços noticiosos e de debate, com a perceção generalizada de que as audiências serão tanto maiores quanto maior for a agressividade, a gritaria e a falta de educação dos intervenientes nos debates".
A PSP tem uma unidade especializada em violência desportiva - O Ponto Nacional de Informações de Futebol (PNIF) - que faz a monitorização dos "adeptos de risco". Por exemplo, no caso da invasão da Academia de Alcochete, segundo fonte desta polícia, os spotters (operacionais especializados do PNIF)avisaram a GNR, cerca de 15 minutos antes dos acontecimentos, que o grupo estava a deslocar-se para aquele centro de estágios, depois de terem notado a ausência destes no estádio à hora que deviam ter ido levantar os seus bilhetes. Apesar de o alerta ter sido muito em cima da hora, ainda permitiu à GNR mobilizar os meios necessários para a perseguição e detenção de 23 dos cerca de 50 invasores.
O PNIF tem o registo dos membros registados em todas as claques (ver quadros), mas fonte oficial da PSP reconhece que, "em vários jogos, o número de pessoas a juntarem-se aos grupos organizados de adeptos (GOA), especialmente à Juventude Leonina, Super Dragões, White Angels e Panteras Negras, nestes casos tenham mais sócios, embora não se encontrem registados". Há ainda 14 GOA que não estão sequer registados, entre os quais as claques do Benfica.
Na sua intervenção no Parlamento, Luís Simões revelou que cerca de 84% dos "infratores" pertencem aos três grandes, com os adeptos do Benfica no topo a serem responsáveis por 37, 2% dos casos, seguidos do Sporting (27,8%) e do Porto (18,8%). Os bracarenses e vimaranenses seguem-se no "triste ranking" como lhe chamou o oficial superior da PSP.
Entre as medidas que esta polícia já propôs para acabar com a impunidade que claramente vinga no ambiente futebolístico destaca-se uma "sanção extremamente gravosa e ainda não prevista na legislação" que, no entender de Luís Simões, "teria um enorme efeito dissuasor": a "inibição de efetuar a transmissão televisiva" dos jogos, sempre que os adeptos provocassem incidentes. Eventualmente, acrescenta, "realizar também jogos sem adeptos visitantes".