Presidente quer alternativas claras de governação

Num discurso carregado de mensagens para os diferentes setores da sociedade, Marcelo recusa "ambiguidades diluidoras"
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Às águas turvas, o Presidente da República prefere as águas claras de uma alternativa na governação. Marcelo Rebelo de Sousa disse-o ontem no discurso da cerimónia dos 107 anos da implantação da República, pontuado por uma síntese de recados para os setores mais sensíveis da soberania e da sociedade portuguesa.

No final do parágrafo mais longo do seu breve discurso, o Presidente da República traduziu esta ideia. "E tudo façamos para que as portuguesas e os portugueses saibam", disse, que "dispõem de vários caminhos de escolha - sabendo que a existência de alternativa quanto à governação é sempre preferível às ambiguidades diluidoras, e que só reforçam os radicalismos antissistémicos".

No momento em que o PSD, principal partido da oposição, está a braços com a sucessão da sua liderança - depois de Passos Coelho ter dito que não se recandidataria a presidente do PSD, na sequência dos maus resultados nas eleições autárquicas - há quem tenha recordado as afirmações de Rui Rio, já de 2014, a defender entendimentos entre o PSD e PS numa lógica de bloco central.

O politólogo António Costa Pinto recusa essa leitura das palavras do Presidente da República. "Creio que o professor Marcelo Rebelo de Sousa não iria tão longe." "Sublinharia antes a opção com a clivagem esquerda/direita, que foi muito marcada na formação deste governo, que veio introduzir alguma renovação na democracia, com a qual Marcelo se identifica", interpretou o professor universitário.

Esta maior polarização que existe "é dominada", notou Costa Pinto, "pelo centro-esquerda e pelo centro-direita" e não pelos dois extremos. "Com as alterações de 2015", em que o PS chamou o PCP e o BE para o arco da governação, "a sociedade portuguesa passou a pensar mais" nessa dicotomia de esquerda e direita.

Marcelo Rebelo de Sousa manteve que há também lugar para uma menor crispação política, apesar das diferenças: "Os seus responsáveis políticos e sociais têm a grandeza de alma para fazer acordos no verdadeiramente essencial mantendo as frontais e salutares divergências naquilo que o não é."

Para Marcelo, a democracia deve ser vivida com "protagonistas capazes de olhar para o médio e o longo prazo, ultrapassando o mero apelo dos sucessivos atos eleitorais", notando que "não há sucessos eternos nem revezes definitivos".

Num discurso carregado de mensagens, para os diferentes setores da sociedade, o Presidente da República defendeu que tudo deve ser feito "para que as portuguesas e os portugueses saibam que as suas vidas e bens estarão mais seguros, que a sua inocência ou culpabilidade não será um novelo interminável, que a crise financeira e económica não regressa mais".

Antes, o Presidente da República tinha apontado o "reforço da credibilidade das instituições locais, regionais e nacionais", referindo-se às "funções de soberania", na justiça, segurança interna e defesa.

A justiça deve ser "capaz de resolver os litígios em horizonte comparável ao dos nossos parceiros europeus", a segurança interna tem de ser "encarada como penhor de tranquilidade e previsibilidade por parte dos cidadãos e as Forças Armadas continuam "a merecer o unânime reconhecimento nas suas missões internacionais" e devem ser "sentidas como nossas, cá dentro".

À direita e à esquerda, os partidos acompanharam as preocupações de Marcelo. Com exceção do PCP, com João Oliveira a reiterar as suas divergências na leitura nacional e internacional. O BE, por Pedro Filipe Soares, concordou com o alerta do Presidente de que ninguém pode ficar para trás. Matos Rosa, do PSD, notou que tem defendido que "haja estabilidade e consensos" na saúde, educação, defesa e segurança. E Assunção Cristas, pelo CDS, subscreveu a ideia defendida por Marcelo de que é preciso reconhecer o que corre bem e o que corre mal.

Marcelo deixou um elogio à participação nas eleições autárquicas de 1 de outubro. "Os portugueses entenderam a importância do seu envolvimento cívico, bem como a urgência de começar a inverter um sintoma de aparente desinteresse pela coisa pública." Nos antípodas do ex-presidente Cavaco Silva que revelou, com ligeireza, que nem tinha ido votar.

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