Portugal tem mais de 8000 sem-abrigo. Marcelo viu menos na rua
O primeiro dia do plano municipal de ajuda aos sem-abrigo por causa do frio contou com o apoio e a presença do Presidente da República, que escolheu esta como uma das causas do mandato. Marcelo Rebelo de Sousa quer ver o número de pessoas em situação de sem-abrigo - cerca de 8000 - reduzido "drasticamente" em 2023, altura em que acaba a atual estratégia nacional.
É especialmente no inverno e quando as temperaturas baixam dos 3 três centígrados, por três dias consecutivos, que as atenções se viram para esta população que está sem teto. É nestas alturas que são ativados os planos municipais e foi para acompanhar a primeira noite que Marcelo Rebelo de Sousa se deslocou, na segunda-feira, ao pavilhão municipal da Graça. Depois seguiu para a rua, onde equipas tentavam sensibilizar as pessoas a recorrer ao apoio que lhes pode ser prestado no pavilhão: roupa, banho e refeição quente. O plano prevê ainda 40 vagas em centros de acolhimento para que os sem-abrigo aí possam pernoitar ou, em último recurso, numa das cinco estações de metro - Cais do Sodré, Rossio, Intendente, Saldanha e Oriente - que vão estar abertas até sexta-feira.
Na ronda que fez pelo Rossio e pelo Saldanha, Marcelo Rebelo de Sousa apenas se cruzou com duas pessoas. E acabou por confessar: "Acho que está menos movimento do que no ano passado ou até em novembro passado. Pode ser que haja menos sem-abrigo." O levantamento que foi feito em todo o país, revela que os números "não ficam muito aquém dos 8000 e tal", indicou. Não foi só o número que surpreendeu o Presidente. Também a distribuição geográfica das pessoas que estão em situação de sem-abrigo: "Lisboa e Porto têm menos de metade do número nacional. Vemos que é um fenómeno urbano, mas não só metropolitano. E em regiões como o Algarve já começam a surgir estruturas de apoio."
O Presidente acredita também que as instituições estão a fazer mais do que faziam antes. "Vai dar trabalho, mas podemos reduzir o número até 2023."
Sair da rua a título definitivo é o que pretende José. Debaixo das arcadas do Terreiro do Paço, o homem não que aqui dorme "há muito tempo", não quis ir o abrigo da autarquia para estes dias de frio intenso. "Queria ter um quarto, mas não consigo pagar os preços que agora pedem. E também perdi o rendimento, precisava era de ajuda para arranjar um quarto que pudesse pagar", fala.
Justifica a recusa de procurar abrigo, com o facto de ali, naquelas arcadas, ser "mais sossegado". Ainda assim, não deixa de admitir que "hoje é das noites mais frias". Está protegido por um casaco com capuz e um cachecol.
Antes de chegarem à conversa com José, as equipas de rua coordenadas pela autarquia foram passando a noite por outros pontos onde sabem que se concentram as pessoas sem-abrigo. Vão estar neste trabalho até sexta-feira, altura em que as temperaturas devem voltar a subir.
O papel das equipas de rua nestes dias é "encaminhar as pessoas para o pavilhão [municipal da Graça]", explicou o vereador dos Assuntos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, Ricardo Robles. No primeiro dia, o pavilhão recebeu mais de 40 pessoas, mas está preparado para responder a 80.