Portugal recua no desenvolvimento humano
Portugal desceu de 41.º para o 43.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Foi ultrapassado pelo Chile e pela Argentina.
Portugal desceu de 41.º para o 43.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A situação do país não piorou, o PIB per capita subiu ligeiramente (23 451 euros), só que cresceu pouco e a Argentina e o Chile ultrapassaram-nos. Está melhor a combater as desigualdades entre homens e mulheres, subindo da 21.º para a 20.ª posição.
Dados do relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que, este ano, destaca o trabalho . Estamos mal nesse capítulo e é o desemprego jovem que está pior, ainda assim melhor do que o de Grécia, Espanha e Itália, que estão à nossa frente no IDH.
É em relação aos rendimentos e ao consumo que Portugal piorou comparativamente aos outros países, 188 no total, mais um do que em 2014. Aumentou a esperança de vida à nascença (80,9 anos) e mantiveram-se os níveis de conhecimento (8,2 anos de escolaridade em média por jovem), terminando a escola por volta dos 16 anos. Estes os indicadores usados para medir o IDH.
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Elísio Estanque, sociólogo especialista em trabalho, desigualdades e movimentos sociais, defende que estes relatórios mostram a importância do emprego nas condições de vida das populações e das sociedades. "Chamam a atenção para a centralidade dos problemas do trabalho como fator de decisivo da dignidade humana e que, por vezes, são desvalorizados mesmo a nível internacional. Chamam a atenção das autoridades e dos governos para o papel do fator trabalho na vida das pessoas e a sua contribuição para o combate às desigualdades e à exclusão social."
O sociólogo destaca que 2013 foi "o ano de maior crise no país", tendo-se agravado as condições laborais, nomeadamente com o aumento da taxa de desemprego e a diminuição da população ativa (ver gráfico)". "Em relação aos restantes indicadores, os valores são semelhantes ao relatório de 2014", referindo-se sobretudo à saúde, à educação e ao ambiente, mas também à igualdade de género apesar da subida de uma posição.
Portugal está entre os 20 melhores países no que diz respeito à igualdade de género. O índice é medido por mortalidade materna (oito mortes por cem mil nascimentos), gravidez na adolescência (12,6% das jovens entre os 15 e 19 anos), número de deputadas (31,3 % no anterior Parlamento) e de mulheres que atingiram o nível secundário (47,7%) e as que trabalham (54,9%). O ranking do desenvolvimento humano é liderado pela Noruega, seguida de Austrália, Suíça, Holanda, Alemanha, Irlanda e EUA.
Portugal está no grupo dos 49 países com níveis muito elevados de IDH, mas no fim da tabela dos 27 Estados membros da União Europeia. Apenas a Croácia, a Letónia, a Hungria e a Roménia têm índices mais baixos. E tem valores inferiores aos países intervencionados pela troika: Grécia (29.º lugar, manteve), Espanha (26.º, subiu) e Irlanda (passou de 11.º para 6.º).
Moçambique e a Guiné-Bissau são os países de língua portuguesa mais mal classificados, com muito baixo nível de desenvolvimento humano, em 180. º e 178. º lugares, respetivamente.
Os responsáveis do PNUD também destacam o tema laboral no relatório deste ano, "O trabalho como motor de desenvolvimento humano". A administradora do programa, Helen Clark, disse na cerimónia de apresentação que "o trabalho digno contribui tanto para a riqueza das economias como para a riqueza das vidas humanas". E desafiou: "Todos os países devem dar resposta aos desafios no novo mundo do trabalho e aproveitar as oportunidades que permitem melhorar as condições de vida e os meios de subsistência das pessoas."
Nos últimos 25 anos, dois mil milhões de pessoas foram retiradas de uma situação de baixo desenvolvimento humano por melhorias na saúde e na educação, salientaram os relatores do PNUD, e que agora importa apostar no trabalho para consolidar os progressos. Destacam que há " 830 milhões de trabalhadores pobres que vivem com menos de dois dólares por dia. E mais de 200 milhões de pessoas, incluindo 74 milhões de jovens desempregados, ao mesmo tempo que 21 milhões são hoje vítimas de trabalho forçado."
As mulheres têm menos probabilidades de serem pagas - três de cada quatro horas não pagas -, recebem em média menos 24% dos vencimentos dos homens e ocupam menos de um quarto das posições de chefia.