Plano B: O impasse do Governo que destroika apesar das regras que troikam

Bloco de Esquerda acolhe encontro em Lisboa com partidos e personalidades europeias de esquerda contra a austeridade
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No dia a seguir às eleições autárquicas, os cartazes de Ricardo Robles em Lisboa foram substituídos por gigantescas letras a anteciparem um "plano B". O Bloco de Esquerda não perdeu tempo: terminadas as autárquicas, o tempo é de Orçamento do Estado e, uma semana depois da proposta do Governo ser entregue no Parlamento, os bloquistas acolhem uma cimeira europeia contra a austeridade. Será a 21 e 22 de outubro, em Lisboa, e contará com a presença de, entre outros, Jean-Luc Mélenchon, Oskar Lafontaine e Zoe Konstantopoulou.

Para Luís Fazenda, do BE, o Plano B surge para "encontrar soluções políticas e técnicas" para encontrar alternativas ao atual estado da arte na Europa. Em Portugal, com a experiência de governo à esquerda - um executivo socialista apoiado no Parlamento pelo BE, PCP e PEV - há sinais de que algo pode ser feito.

As esquerdas europeias olham para Portugal "de um modo positivo", notou o bloquista. "Têm a compreensão que, numa situação particular, através de um acordo parlamentar, está a ser possível reverter as políticas da troika. Ainda há aí uns restos de troika, mas uma boa parte dessas políticas foi já posta de lado", apontou. Apesar do "mas" desta história: "Ainda bem que, neste momento, há um governo que destroika mas temos, infelizmente ainda, regras de uma política dominante que troika. Vamos lá ver como resolvemos este impasse."

De um só fôlego, o dirigente bloquista traçou o quadro ao DN, segundo os debates que estão a ser preparados por partidos de esquerda na Europa: "Se os tratados não são alterados no sentido de permitir democracia, iniciativa e afirmação nacional dos vários estados-membros; se não são alterados para encontrar uma possibilidade de desenvolvimento que seja para todos os países, incluindo as periferias; se não são alterados no sentido de ter condições para um banco central europeu e democrático e que seja o último emprestador dos estados; e um conjunto de outras condições que são essenciais para a sobrevivência dos estados que têm economias mais fracas ou que têm menos capacidade competitiva no âmbito da União Europeia; se essas alterações não surgirem, se se agravarem as condições de pertença ao euro, haverá alternativas, tanto políticas como técnicas."

É tudo isto que passará, em pouco mais de 24 horas, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, como sintetizou Luís Fazenda, "desde a evolução dos tratados à gestão do euro, das manifestações cívicas de desobediência ao militarismo e à paz", com uma "avaliação global da situação política europeia", depois das eleições britânicas, francesas, alemãs, austríacas. "O que se impõe é que, tendo como fonte vários partidos da esquerda europeia, possamos fazer uma avaliação do ponto da situação da Europa", apontou.

Apesar da experiência portuguesa, o panorama traçado não é otimista. "Agora temos o "Mekron"", argumentou, juntando os nomes da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do Presidente de França, Emmanuel Macron, "mais uma fusão do pensamento alemão e francês, que a nosso ver (e vamos aprofundar esse debate) prosseguem a mesma receita anterior, prevendo-se que os resultados venham ainda a ser piores do que até agora".

Numa Europa em que "os cidadãos não são tidos nem achados, são vagamente consultados em eleições nacionais onde se formam governos que praticamente não têm autonomia", Fazendo argumentou que "Macron e Merkel insistem na centralização e num orçamento controlado a partir da entente do diretório" e ainda pensam "subtrair competências aos parlamentos nacionais, o que aumenta a uniformização e a padronização dos processos de decisão da União Europeia, mas afasta cada vez mais as decisões dos cidadãos".

É uma receita condenada, insistiu, que "vem aumentar as crises". Este Plano B, que se concretiza na sua quinta cimeira, surgiu "como ideia e prática de diálogo", depois "da chantagem à Grécia feita pela Alemanha e de uma forma crítica daquilo que entendemos que foi a capitulação do governo grego".

Para antigos companheiros de estrada do Syriza, há um amargo de boca: "Apesar do referendo em contrário, Alexis Tsipras acabou por aceitar as imposições da Alemanha, sob pena de ser cumprida a ameaça da expulsão do euro. Todos estes partidos e personalidades fazem, têm feito, uma reflexão muito crítica desse passo em falso", rematou Fazenda.

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