Pedro Simões Coelho: "O sistema de saúde está consolidar a sustentabilidade"

Quanto à avaliação dos utentes ao SNS, destacam a qualidade dos profissionais de saúde, mas estão descontentes com os tempos de espera
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O autor do estudo explica que um sistema sustentável é aquele que proporciona cuidados de saúde de qualidade, que dá resposta às necessidades da população e que incorre em custos que são suportáveis pelos recursos disponíveis. Quanto à avaliação dos utentes, destacam a qualidade dos profissionais de saúde, mas estão descontentes com os tempos de espera

O SNS é sustentável?

Estabelecemos as bases deste índice para 2014 com base 100. Em 2015 estimámos um índice com o valor de 100,2. Uma variação positiva, mas extremamente marginal. Em 2016 temos um índice com o valor de 102,2. O índice de sustentabilidade está a evoluir positivamente e significa que o sistema de saúde está a consolidar a sua sustentabilidade.

O que contribuiu para esta evolução?

Observámos um crescimento da atividade do SNS, que inclui quer cuidados primários quer hospitalares, a uma taxa média que estimamos 1,6%. Que é acompanhado por um crescimento da despesa, mas uma taxa inferior. A despesa cresceu apenas 1,2%. Estamos a observar um aumento da produtividade porque a atividade cresceu mais que a despesa. Em relação à qualidade temos duas componentes que evoluíram de uma forma um pouco diferente: a qualidade percecionada, em que temos um índice de 68,3 que está muito estabilizado, e introduzimos, pela primeira vez, a qualidade técnica - medida por 13 indicadores como reinternamento em 30 dias ou taxa de cesarianas - que evoluiu significativamente: 3,4 pontos. Na junção dos dois índices vemos uma evolução tendencialmente positiva da qualidade.

O que pensam os utentes do SNS?

Temos um índice médio de qualidade de 68 pontos, mas o índice de qualidade dos profissionais de saúde, na ótica dos utilizadores, é de 79, praticamente a tocar na barreira dos resultados muito positivos. Os tempos de espera correspondem ao único item avaliado em termos de qualidade que não supera a barreira dos 60, que definimos para valores positivos. Significa que ainda há uma grande percentagem de utilizadores a fazer uma avaliação negativa dos tempos de espera. Há uma outra linha de análise que tem a ver com a satisfação e confiança: uma tendência positiva e estatisticamente significativa relativamente àquilo que é a satisfação e confiança relativamente aos cuidados recebidos nos centros de saúde. Os cuidados primários estão a evoluir positivamente na satisfação dos utilizadores. Uma tendência, ainda que não seja muito expressiva, posso dizer que a única valência que tem uma tendência negativa são os atendimentos em urgência.

Ainda há 12% de pessoas que não compraram medicamentos por causa do preço. Isso não pode aumentar a pressão sobre os serviços de saúde?

A essa questão só posso responder com o bom senso porque não tenho dados para sustentar a resposta. Mas naturalmente que a não compra de medicamentos tem o potencial de criar mais pressão de procura sobre o sistema, tal como também acontece o movimento contrário. A não procura do sistema por razões relacionadas com o preço faz com que muitas vezes as pessoas tenham sintomas e recorram à automedicação e à compra de medicamentos porque não foram adequadamente diagnosticadas.

Ainda há muitas pessoas que dizem que o seu estado de saúde as afetou nas tarefas diárias, ansiedade e qualidade de vida. O sistema de saúde está a falhar a chegar a estas pessoas?

O índice médio do estado de saúde estimado é de 73,1. Esse resultado mais positivo não pode deixar de nos fazer refletir sobre alguns números que nos parecem muito relevantes: 50% considera que o seu estado de saúde teve um impacto negativo na sua qualidade de vida no último ano. Mais de 50% considera que o seu estado de saúde lhe provocou alguma forma de dor, de mau estar ou de ansiedade ou depressão, 46% considera que o seu estado de saúde afetou a sua capacidade para realizar tarefas diárias. Isto não significa que o sistema não está a responder aos cidadãos. Pelo contrário, observamos que é um sistema que está num movimento sustentável com algum crescimento, quer em qualidade quer em atividade. No entanto, é um sistema que tem de ser capaz de olhar para estes casos e tentar perceber como pode reduzir estas percentagens que não poderão deixar de ter algum impacto no absentismo.

A saúde é um custo ou investimento?

Penso que em todos os anos se tem concluído e reforçado a ideia de que existem componentes dos gastos em saúde que têm de facto retorno económico. Um sistema que seja capaz de aumentar estes vetores positivos a uma taxa de crescimento superior aquela que aumenta a despesa é naturalmente um sistema sustentável.

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