Passos fecha definitivamente a porta a "consenso" pedido por Costa
Pedro Passos Coelho rejeitou este domingo categoricamente o apelo para "consensos" em torno dos grandes investimentos pós-2020 que António Costa lhe dirigiu este verão. "Estão a falar de quê? Quais são as grandes obras públicas que são necessárias?", perguntou.
Considerando que estas obras públicas não terão nenhuma influência no aumento das exportações ou a pôr Portugal no "top 5" dos países europeus mais confortáveis para investimento estrangeiro ("nada disto depende de obras públicas"), concluiu: "Isto é secundário, temos de o dizer."
Assim, o que interessa ao PSD são as reformas do Estado, da Segurança Social, da Educação, da Justiça, da Saúde, porque isso "é que é indispensável para ter um país com menos desigualdades". "Estas serão as nossas prioridades. É por isto que nos iremos bater", garantiu.
Numa intervenção de cerca de 50 minutos, o líder do PSD insistiu na ideia de que o debate público em Portugal está a ser conduzido de uma forma em que se procura "atingir a perna do jogador" em vez de "jogar a bola".
E depois garantiu: "Não respeitamos a dissimulação em política e por isso denunciamos. Não respeitamos a intolerância, não aceitaremos um ambiente de intolerância em que só se discute segundo a perspetiva do pensamento dominante e que quem não pensa como quem está no governo não é bom português, é racista ou é xenófobo ou é outra coisa qualquer."
Porque o "combate" que faz "não é um combate de galos, é um combate de ideias", Passos deixou um apelo: "Quando fizerem a análise de uns e de outros, façam o favor de fazer uma análise isenta." E fez questão de dizer que esse apelo é dirigido para dentro do próprio PSD: "Isto é para todos. Dentro e fora do nosso partido."
Segundo acrescentou, "muitas das reações a várias intervenções" que tiveram lugar nestes dias na Universidade de Verão do PSD "foram reações intolerantes" ou mesmo "incompreensíveis nos tempos que vivemos" e que são "tempos da cultura democrática que é a nossa".
Sublinhando que Cavaco Silva, por exemplo, até expressou ideias "muito próximas" das do PSD, perguntou: "Como é que é possível alguém indignar-se por ter apresentado a sua visão crítica da política? Cavaco Silva não tem direito de apresentar a sua opinião? Porque se responde logo que é ressabiado e que que precisa de palco? Porque se procura desqualificar?" Esta - concluiu - "não é uma forma madura de discutir política" porque "é muito mais fácil chamar mentiroso a alguém do que demonstrar a mentira."
O líder do PSD aproveitou também para voltar a rejeitar a ideia, do Governo e dos seus parceiros, de aumentar o número de escalões no IRS (que o Governo PSD-CDS diminuiu de dez para cinco). Em nome de um princípio de "estabilidade fiscal" pediu que um eventual alívio no IRS se "possa refletir no escalões que já existem".
Depois insurgiu-se mais uma vez pelo facto de o debate público não estar a notar que esta reforma, nos números iniciais do Governo, só admita custos de 200 milhões, enquanto que a reforma que o seu Governo fez para premiar as famílias numerosas custou 400 milhões: "O nosso [alívio fiscal] era péssimo e este, que vai pela metade, é ótimo? Não haverá ninguém que se escandalize com esta falta de pudor?"
Conclusão: este é mais um caso em que o Governo só avança propostas com que possa "diabolizar a oposição" pelo que fez no Governo entre 2011 e 2015, ou seja, tem apenas uma "preocupação é eleitoral". Mas o PSD - garantiu - "manterá o seu "foco no médio e no longo prazo". "É isso que nos motiva. Deixamos a espuma dos dias para a geringonça." Ou, dito de outra forma: "Vivemos bem na oposição. Não temos nenhum problema com isso. E bem no Governo. Não nos sentimos esmagados com a responsabilidade."
Passos denunciou ainda uma suposta incapacidade da maioria que apoia o Governo de fazer internamente as discussões que importam. Referiu, entre outras, as da Educação, Saúde ou Segurança Social mas deu um particular ênfase à da Defesa, no contexto das discussões que estão a ter lugar na UE sobre mecanismos de cooperação reforçada nesta área entre os estados-membros: "Vamos precisar de gastar mais em Defesa. Vão gastar mais? Isso não se discute na geringonça."
E isso - sublinhou - até é mais grave porque o "atual Governo tem condições muito particulares que deviam propiciar uma ação reformista a pensar no futuro": não está dependente da troika para aceder aos mercados da dívida, "beneficia de um preço do petróleo muito favorável", tem estabilidade interna ("a geringonça funciona"), "não se pode queixar da falta de cooperação do Presidente da República", que "tem sido permanente e efetiva" e conta, por último com uma "enorme tolerância em parceiros da sociedade civil".
Face ao discurso que fez no Pontal, Passos Coelho deixou cair as críticas diretas que então fez à nova Lei da Nacionalidade (por, no seu entender, deixar "qualquer um" viver em Portugal e admitir imigrantes tendo estes uma simples "promessa de trabalho"). Contudo, andou lá perto - embora mais veladamente - quando disse que "devemos ser um país a olhar para o mundo [mas] sem ceder na segurança e nos valores" e quando aconselhou a que não se "confunda com multiculturalismo com relativismo".
Num elogio à governação, disse que "ainda bem que o Governo atingiu a meta do défice, nós ficamos satisfeitos com isso". Contudo, logo a seguir sublinhou que se fez uma "recuperação salarial em detrimento de manter o mínimo de qualidade nos serviços públicos". E refutou uma das principais acusações de que a sua governação foi alvo: "Está mais do que demonstrado que a austeridade que existiu foi a necessária."