Passos assobia e Marcelo bate palmas no primeiro aniversário da geringonça

Presidente da República deixou elogios à estabilidade da solução governativa, afirmando que superou as expectativas. Líder do PSD diz que estabilidade não é o mesmo que confiança e ataca eleitoralismo do governo
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A geringonça completa nesta semana um ano de governação e, nos últimos dias, vão-se sucedendo os balanços. Ontem foi a vez de o Presidente da República e de o líder do PSD olharem para os últimos doze meses. Eis o que vê Marcelo Rebelo de Sousa: "Conseguimos garantir a estabilidade política que se considerava questionável." E eis o que vê Pedro Passos Coelho: "O governo confunde estabilidade com confiança, e confiança é o que não existe em Portugal."

Medidas as distâncias para esta outra declaração - "devolvemos ao país a normalidade", o balanço de António Costa, feito na véspera -, Marcelo Rebelo de Sousa deu ontem um muito amigável "parabéns" ao governo no seu primeiro aniversário. E o discurso otimista valeu não só para o passado mas também para o futuro. Se a confiança "era muito difícil no arranque desta fórmula governativa", foi entretanto "conquistada passo a passo": partiu-se de "uma situação extremamente complexa, politicamente falando, financeiramente falando, socialmente falando e economicamente falando" e foram-se "abrindo nesgas que se converteram em caminhos", que permitem agora "encarar com outra perspetiva o futuro", sublinhou o Presidente da República.

Um retrato que contrasta com este, de Passos Coelho: "Temos um governo que está centrado sobre si próprio, a disfarçar os problemas, a instrumentalizar o Estado, manifestamente a faltar à verdade quando tem de dar explicações sobre qualquer coisa que o possa embaraçar, criando instabilidade, mas dizendo que podemos estar tranquilos. Não podemos estar tranquilos."

Governo por quatro anos? Sim

Para o Presidente da República, a estabilidade económica e social do país superou as expectativas. Daí decorre que Marcelo se afirme contra um "centrão artificial imposto na governação do país", que seria "pouco clarificador". Falando na abertura da conferência "Que direção para Portugal e a Europa?", promovida pelo Jornal de Negócios e que ontem decorreu no ISCTE, o Chefe do Estado sustentou que "clarificador é conhecer-se exatamente aquilo que é proposto por cada uma das fórmulas governativas que no momento existem, e que podem existir e desejavelmente deveriam existir até ao fim da legislatura". Marcelo diz que há agora uma estabilidade que é "desejável" e que "o Presidente da República tudo tem feito para que se mantenha", seja "na área do governo como na da oposição, no plano dos partidos como no plano das suas lideranças".

Se, no início do ano, Portugal tinha "perspetivas tendencialmente negativas" quanto à estabilidade, Marcelo considera que, com 2016 a chegar ao fim, o cenário é substancialmente diferente. A afirmação é feita na primeira pessoa do plural e este "nós" inclui, além do próprio presidente, o governo: "Conseguimos garantir a estabilidade política que se considerava questionável. Estabilidade na existência de governo, estabilidade nas relações entre governo e Assembleia da República, com uma fórmula governativa particularmente complexa e nunca ensaiada em Portugal, na cooperação institucional entre o governo e o Presidente."

Governo por quatro anos? Não

Pedro Passos Coelho até concorda com Marcelo num ponto: "Parece que temos um governo que é estável." Mas acabam por aqui as concordâncias. O governo confunde "estabilidade com confiança" e confiança foi um bem desbaratado por António Costa ao longo do último ano. "O governo é a principal entidade que mina essa confiança", acusou ontem o líder do PSD, que falava no encerramento de um debate sobre as propostas de alteração orçamental do partido. Para Passos, a maioria "tem um governo estável", o que não tem é uma alternativa ao modelo económico que levou ao voto dos portugueses e, que acusa o líder da oposição, foi entretanto substituído por um plano B que se traduz em cortes no Estado, em medidas extraordinárias, no "maior corte em investimento público planeado de que há memória". A isso juntam-se as "medidas eleitoralistas", como o aumento extraordinário das pensões previsto para agosto de 2017, pouco mais de um mês antes das eleições autárquicas, que Passos qualifica de "eleitoralismo despudorado" e "vergonhoso".

O líder do PSD tem, por isso, uma conclusão muito diferente quanto a ser desejável que o governo termine a legislatura: "Um governo, em circunstâncias de menor emergência, que olhe para um ciclo de quatro anos e queira, a cada ano que passa, ganhar eleições, vencendo na popularidade das sondagens, é um governo que não merece governar quatro anos."

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