Passos admite que pode voltar ao governo após intervenção de Marcelo

Presidente e candidato à liderança do PSD quer voltar a ser a maior potência autárquica. Sobre coligação com CDS, nem uma palavra
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O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, admite voltar ao poder antes do final da legislatura, na sequência de um derrube do governo por via da ação da Assembleia da República ou do Presidente da República. Na moção de estratégia global entregue esta tarde juntamente com a recandidatura à liderança, Passos Coelho assume que "o PSD não deixará de estar sempre preparado para reassumir responsabilidades de governo, se a isso vier a conduzir o esgotamento da solução de governo protagonizada pelo Partido Socialista".

De seguida, o presidente do PSD admite vir a contar com Marcelo Rebelo de Sousa (e até com partidos que hoje apoiam o PS) para derrubar o governo de António Costa perante esse eventual esgotamento, destacando que "existem mecanismos no quadro constitucional que permitirão aos partidos políticos com responsabilidades parlamentares e ao senhor Presidente da República avaliarem as melhores soluções a adotar em face das circunstâncias concretas."

[destaque:O presidente do PSD admite vir a contar com Marcelo e até com partidos que hoje apoiam o PS para derrubar o governo de António Costa]

Passos escreve ainda que as decisões que o PSD "vier a tomar em contexto de falência e esgotamento da atual solução maioritária, tomará sempre em conta as circunstâncias reais do país e decidirá no respeito pela sua visão do que então se apresentar como sendo o superior interesse nacional".

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Apesar disso, destaca que, para já, não há pressa em voltar ao poder. "Não é por estar hoje na oposição que passará a defender o permanente recurso a eleições antecipadas ou a instabilidade política como método de afirmação política", defende a moção de Passos entregue esta tarde. Ainda assim Passos não esclarece se aceita voltar para o governo sem antes ser sujeito a um novo escrutínio popular.

Quanto à hipótese de coligação com o CDS no futuro, o documento é omisso, tendo apenas referências breves e descomprometidas aos centristas, como a simples indicação de que conseguiram em conjunto 38% nas últimas eleições.

Costa não é Sócrates, mas perdeu "clamorosamente"

Para o líder do PSD, António Costa vai deixar o país pior do que encontrou, mas nunca como José Sócrates o deixou. Na moção, Passos admite que "a atual linha estratégica de governo pode não acabar necessariamente no retorno à insustentabilidade económica e financeira com o estrondo que acabou em 2011", mas que, ainda assim, "sempre deixará o país em circunstâncias mais vulneráveis e com maiores desequilíbrios."

Passos mostra também que ainda não ultrapassou a vitória (que passou a derrota) eleitoral. Numa parte do texto que intitula de "ganhámos as eleições, mas somos oposição", Passos lembrou que mesmo "depois de anos de dificuldades e de políticas impopulares" os portugueses "recusaram dar ao PS e ao seu líder António Costa a vitória nas eleições".

A moção de recandidatura destaca ainda que o PS perdeu "clamorosamente" as eleições e queixa-se de, mesmo tendo sido o mais votado, o PSD não ter tido "sequer, o benefício da dúvida da maioria dos deputados na Assembleia da República".

[destaque:A moção de recandidatura destaca ainda que o PS perdeu "clamorosamente" as eleições]

Ainda com algum rancor, Passos classifica o Bloco de Esquerda, o PCP e o PEV como "partidos populistas e radicais de extrema-esquerda", que protagonizaram com o PS uma "coligação negativa".

Passos insiste que a perspetiva de acelerar a devolução de rendimentos era errada e por isso "chocou de frente com a Comissão Europeia e o Eurogrupo".

Social-democracia?

A moção tem depois uma parte mais ideológica, em que há o tal regresso à social-democracia. No documento é explícito que "o PSD recusa, pois, qualquer acusação de "direitismo" austeritário com que quiseram, e ainda querem, tatuar a alegada falta de sensibilidade social no exercício de funções governativas".

Apesar disso, é destacado que o PSD sempre foi um partido "liberto do ideal da construção de uma sociedade socialista", preferindo ao invés a defesa da "economia social de mercado, onde a realização dos direitos sociais vem progressivamente associada às condições materiais objetivas que o progresso económico propicia". Nesse mesmo modelo de sociedade em que o PSD se revê "as políticas públicas sociais e a responsabilidade do Estado não se confundem com a mera prestação direta de serviços." Ou seja: não sendo liberal, também rejeita uma postura intervencionista.

Ao longo da moção, Passos tenta também desfazer aqueles que considera que têm sido alguns dos mitos: o facto de ter ido "além da troika", da austeridade ter sido uma opção e do PSD ser um partido desprovido de sensibilidade social.

Maior partido no mundo autárquico

Tal como o DN avançava na edição de hoje, "o PSD tem a aspiração de voltar a ser, em 2017, o maior partido no mundo das autarquias, conquistando o maior número de presidências de Câmara e voltando a desempenhar, simbolicamente, a presidência da Associação Nacional de Municípios".

É ainda defendida no documento a "modernização do PSD", sob o mote de que "a vida política não se esgota nos partidos". Daí que o partido se vá bater pelo "reconhecimento e valorização da atividade das organizações da economia social, ONG, fundações, think tanks e grupos de cidadãos."

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