Partidos que ficaram à porta de São Bento insistem em sobreviver
Ficaram à porta do Parlamento, mas não desistem. São dois dos mais recentes partidos, que há um ano ficaram de fora de São Bento por pouco, com sondagens à boca das urnas a darem conta dessa possibilidade. Agora jogam de novo nas eleições regionais dos Açores, que se realizam domingo, a sua existência. Conhecem as suas limitações, apontam culpas ao sistema, mas não desanimam e sublinham a sua necessidade. O PDR de Marinho e Pinto e o Livre de Rui Tavares são esses dois partidos.
Marinho e Pinto, que lidera o Partido Democrático Republicano (PDR) e é eurodeputado, mantém um discurso muito crítico sobre o sistema. Ao DN, apontou "a injustiça do sistema eleitoral" porque "ao contrário do que advogam os grandes partidos, sobretudo os de esquerda, há partidos que elegeram deputados com menos de 20 [mil] votos, o PDR teve mais de 60 mil e não elegeu nenhum deputado". E logo deixou a acusação de que "o sistema partidário, o sistema eleitoral, estão organizados para favorecer os grandes, e não para favorecer o pluralismo político, não para incentivar o debate político, não para permitir que todos os setores da sociedade estejam representados no Parlamento".
O Livre registou - através de respostas por escrito de Patrícia Gonçalves e Safaa Dib, membros do Grupo de Contacto, a direção do partido - que, depois de ter tido "a melhor estreia de sempre de qualquer partido português em eleições europeias", em 2014, nas legislativas do ano seguinte, tiveram de lutar "contra uma alteração da lei de cobertura da campanha eleitoral feita propositadamente para excluir os partidos emergentes". As dirigentes dizem que o Livre "apresentou-se competitivamente em todas as sondagens", mas acabou "por falhar a eleição de deputados.
O falhanço de ficarem à porta não lhes retira horizonte. "Assumimos essa derrota eleitoral, mas consideramos que ela não põe em causa a necessidade da existência do partido, nem certamente a nossa vontade de continuar a trabalhar para representar o nosso espaço político", escreveram Patrícia Gonçalves e Safaa Dib.
Com outras palavras, Marinho e Pinto também não desiste. Assumindo que "nada tem sido fácil para este partido, desde que ele nasceu" (e concretiza: "Sobretudo desde que anunciei a intenção de me candidatar à Assembleia da República"), o deputado no Parlamento Europeu insistiu que "tudo tem sido extraordinariamente difícil, anormalmente difícil, pelas dificuldades que nos levantaram, a começar pelo Tribunal Constitucional, que não nos deixou concorrer às regionais da Madeira, a começar pelos ataques dos outros partidos, a começar por uma espécie de perseguição que houve, a começar por algumas pessoas que aderiram ao partido por mero oportunismo pessoal, tentando conseguir um lugar ao sol à custa da notoriedade pública do seu presidente".
Marinho e Pinto só pode daqui concluir que "se há coisa que não acontece neste partido é desânimo, não desanimamos, não abandonamos as trincheiras de combate político, não abandonamos as nossas convicções", pelo que antecipa que o seu partido vai "continuar o combate" e "na luta, até porque se justifica cada vez mais a existência de um partido como o PDR".
O Livre quer fazer passar uma mensagem idêntica, mas sem tanta beligerância nas palavras. "Estamos cientes de que a nossa mensagem mais conhecida para as eleições legislativas de 2015, a da convergência, foi concretizada, mesmo quando ironicamente fomos bastante atacados ao longo da campanha por isso. No entanto, os nossos objetivos são mais ambiciosos: o Livre vê-se como um partido que quer pensar o futuro e projetar uma visão pós-capitalista", antecipam Patrícia Gonçalves e Safaa Dib. Para estas dirigentes, o "pilar europeísta crítico e a recusa de um discurso populista e primário de esquerda em relação à União Europeia e que não oferece nenhuma solução construtiva aos defeitos e problemas do projeto europeu", sublinham a pertinência do Livre. "Estas e outras questões fazem parte do ADN do Livre e, a nosso ver, não têm sido suficientemente exploradas pela nova maioria parlamentar, presa ainda a modelos já ultrapassados que não respondem às principais problemáticas societais do presente e do futuro", acusam as duas dirigentes.
No horizonte imediato do PDR e do Livre estão as eleições regionais dos Açores e as autárquicas de 2017. Marinho e Pinto assume que - depois das eleições legislativas de há um ano "e de algumas convulsões e incidentes internos, alguns com alguma gravidade" -, "o PDR está a preparar-se para os novos embates, estamos a concorrer nas regionais dos Açores, estamos a preparar-nos para as autárquicas do próximo ano". O Livre também assume que estão "aqui para ser eleitos e para poder fazer a diferença", querendo "eleger pelo menos um deputado" nos Açores. Nas autárquicas, "o partido não irá concorrer em todos os municípios, mas a estratégia é privilegiar a qualidade e não a quantidade". Para "os principais centros urbanos, onde o partido tem mais força, temos uma estratégia eleitoral própria, passando pela apresentação de candidaturas próprias, por coligações pré-eleitorais ou pelo apoio a outras candidaturas, nomeadamente a listas de cidadãos não-partidárias".