Os políticos monárquicos "são úteis" nos partidos

A separação entre convicções ideológicas para governar e a defesa de um regime em que a representação seja feita por um rei são vistos como níveis de ação complementares
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O CDS é a exceção aos partidos com assento parlamentar que têm monárquicos em cargos políticos de topo, embora a nível autárquico esse número aumente significativamente e se alargue ao PSD e ao PPM.

Pedro Mota Soares, Telmo Correia, Cecília Meireles ou Nuno Melo são alguns deputados e dirigentes do CDS-PP ligados à defesa da causa monárquica, paralelismo que não é possível fazer com o PSD nem nos partidos de esquerda - exceto o PPM, que tem Paulo Estêvão na Assembleia Legislativa regional dos Açores.

Mas qualquer que seja a filiação partidária, maioritariamente de direita, os políticos monárquicos ouvidos pelo DN consideram fazer "todo o sentido" a sua presença nos partidos num regime republicano, desde logo porque distinguem o sistema de organização política que defendem - o rei como representante máximo dos portugueses - e "a gestão da coisa pública", sublinha Miguel Paiva (PSD), vereador em Vila do Conde.

"São dois patamares compatíveis", observa Miguel Capão Pereira (CDS). "Nos partidos" existem "convicções para governar" consoante as ideologias, enquanto noutro plano está "um movimento político acima dos partidos" que questiona se o regime pode ser republicano ou o reino de Portugal, cuja representatividade do povo se faz através do rei", acrescenta este vereador na autarquia de Aveiro.

Gonçalo da Câmara Pereira, cabeça de lista do Partido Popular Monárquico (PPM) por Lisboa nas últimas legislativas, rejeita essa separação: "Os outros políticos podem ser simpatizantes da Monarquia mas não são monárquicos, são colaboracionistas com a República... monárquicos são os que estão no PPM" e lutam por causas como as da ecologia e do municipalismo, diz ao DN.

Manuel Beninger, deputado municipal em Braga pelo PPM e presidente da Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos (APAM), fundada em 2014, contrapõe: "Temos de ser inclusivos" e, nessa medida, "queremos encontrar um ponto de encontro" entre os cerca de 600 associados "validados pelo povo português" e que, observa, abrangem o espectro partidário apesar do predomínio de centristas e sociais-democratas.

Dinis Ribeiro, ex-autarca do PS em Guimarães que se assume como "um caso atípico" num partido de fortes raízes republicanas, vê "a questão da monarquia [como sendo] de preservação da memória" coletiva. "Faz sentido ser monárquico num partido se tiverem como objetivo pôr o cidadão a pensar pela sua cabeça e não a lutar por um regime", argumenta, enaltecendo o papel da APAM - que realiza a sua segunda convenção a 21 de outubro, no Funchal - como "espaço de liberdade para as pessoas poderem pensar".

Augusto Ferreira do Amaral, antigo dirigente do PPM há muito afastado da política, entende que "não faz sentido haver um partido oposto aos outros com a especificidade de ser monárquico", embora "a monarquia seja uma instituição útil a um país como Portugal. "Os partidos têm como principal objetivo o triunfo em eleições e devem ter programas que se diferenciam na ótica" dessa luta, reconhece, mas "é útil que entre eles haja muitos políticos que pretendam que o chefe do Estado não seja eleito, mas designado por um processo aprovado constitucionalmente que o torne independente das fações" partidárias.

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