Olhó robô: PCP propõe energia mais barata para empresas
Uma fábrica de cerâmica com muitos robôs é exemplo para comunistas defender menos custos energéticos para empresas e facilidade no acesso ao crédito
O caminho é sinalizado por estreitos corredores para deixar campo livre para máquinas robotizadas que circulam autonomamente quase sem intervenção humana. Transportam paletes de pavimentos cerâmicos que vão sendo produzidos numa enorme nave onde se veem poucos dos 175 trabalhadores da empresa Dominó.
Na Cartaxa, arredores de Condeixa, em Coimbra, os robôs fazem muito do trabalho pesado numa empresa que aposta na exportação. É por entre esta maquinaria, com avisos de "máquinas em movimento" e "perigo temperatura alta", que circula uma pequena comitiva de deputados comunistas, com jornalistas a acompanhar e a desviarem-se das máquinas que andam sozinhas.
É o exemplo que assenta bem no revestimento que a bancada do PCP quer dar às suas políticas, traduzidas no tema geral das jornadas parlamentares do partido, que ontem e hoje acontecem no distrito de Coimbra, sobre "a produção, o emprego, a soberania e a libertação de Portugal da submissão ao euro".
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Encaixadas estas peças, o líder parlamentar comunista, João Oliveira, apontou já no final da visita que constataram ali "enormíssimas potencialidades produtivas do nosso país do ponto de vista industrial que, com uma outra política económica, poderiam traduzir em muito mais produção de riqueza". Traduza-se mais: a empresa tropeçou com a crise no setor da construção - "foi inevitável", disse o administrador Alberto Henrique, aos jornalistas - e viveu dificuldades sérias desde 2009 e só nos últimos dois anos atingiu "resultados perto do zero", como reconheceu o membro da administração. Hoje, a empresa dá trabalho a 175 pessoas, 85% das quais no quadro, e exporta cerca de 70% do que produz, sobretudo para a Europa central.
João Oliveira ouviu a administração e apontou duas das principais queixas da empresa (e de muitas empresas): a necessidade de baixar os custos de energia e de um acesso mais fácil ao crédito para as empresas. "Os custos com a energia pesam mais do que custos da mão-de-obra", notou o líder da bancada comunista, referindo-se à empresa Dominó, na Cartaxa.
Há uma fina camada de pó que se agarra aos sapatos ao longo do percurso da fábrica e os deputados comunistas Bruno Dias, João Oliveira e Paulo Sá agarram-se aos factos para melhor avançarem com iniciativas legislativas na Assembleia da República, como promete já no final o líder da bancada aos dois responsáveis que acompanharam a visita. "Espero que a nossa conversa tenha sido útil em prol de alguma coisa", desabafa um deles. João Oliveira diz que sim. Nem que seja para defender dois temas caros aos comunistas: a necessidade de ter "nas mãos do Estado" setores estratégicos como o da energia "para dar outras condições às empresas para produzirem e criarem emprego", mas também ter a banca no setor público, como a Caixa e desejavelmente o Novo Banco, para dar outra atenção ao "desenvolvimento do país" e à "atividade produtiva".
Hoje, no último dia de trabalhos, os deputados comunistas avançarão com um conjunto de propostas a levar ao Parlamento nos próximos meses.