"O primeiro-ministro tem de acompanhar a área laboral. Não pode descentralizar"
Estamos no fim de semana que marca a passagem pelo equador da legislatura. Que balanço é que faz da atuação do primeiro-ministro até agora?
Nós não nos pronunciamos sobre aquilo que é a intervenção das pessoas individualmente, pronunciamo-nos sobre aquilo que é a intervenção do governo em termos gerais. De qualquer maneira, quero dizer que na nossa opinião - que transmitimos esta semana pessoalmente ao senhor primeiro-ministro -, está a chegar o momento de o senhor primeiro-ministro ter um outro tipo de olhar e de acompanhamento para a área laboral, porque pode ajudar a resolver problemas, pode ajudar a desbloquear, e houve um momento em que ele esteve mais perto e, de alguma forma, as coisas evoluíram. Depois, a partir da situação em que isto estava a andar bem, subiu para outro patamar e descentralizou, e olhe que a descentralização é importante, mas o problema é que ela não resultou.
Quer deixar Mário Centeno fora de jogo, portanto?
Não, nós não criticamos ninguém, o que dizemos é outra coisa: há áreas em que o primeiro-ministro tem de se empenhar pessoalmente. Já falei na contratação coletiva e na legislação do trabalho, mas há outra que é central para o presente e para o futuro do país, que é a questão da precariedade. Nós temos neste momento a correr uma petição contra a precariedade e pelo emprego com direitos e quero dizer-lhe que está a ter um êxito enorme. Toda a gente está a assinar, sejam trabalhadores com vínculos precários, novos ou de mais idade, sejam trabalhadores com vínculos efetivos, famílias, toda a gente está a aderir. Porquê? Porque se percebeu, hoje mais do que nunca, que a manutenção da precariedade é um instrumento que está a corroer a componente social da sociedade, porque é um elemento que não só está relacionado com os baixos salários como, inclusive, está numa lógica de empobrecimento permanente do país e nós não podemos aceitar.
Gostaria que olhasse um pouco para o papel do Presidente da República. O Presidente dos afetos também tem mostrado nas reuniões que tem mantido consigo a mesma sensibilidade para as questões sociais colocadas pela CGTP?
Como compreenderá, não levarão a mal, mas não vamos comentar as conversas e as reuniões que temos com o senhor Presidente da República. Agora o que nós entendemos e defendemos é que a mensagem presidencial deve dar cada vez mais atenção aos trabalhadores. É muito importante a mensagem relativamente ao combate aos sem-abrigo, à exclusão, sem dúvida nenhuma, mas, atenção, só existe exclusão e sem-abrigo porque há problemas na área laboral. Temos de responder aos problemas a jusante, retirando essas pessoas da rua e procurando dar-lhes dignidade à vida, mas não podemos deixar de responder aos problemas a montante. Estamos a falar da degradação da qualidade do emprego, dos rendimentos, também da vida das pessoas e é aqui que temos de trabalhar, é aqui que temos de atacar mesmo que isso conflitue com outras instituições, nomeadamente com as instituições do poder económico e com as confederações patronais.