O liberal que coordenará programa social-democrata de Passos Coelho

Passos tem troika de pensadores no terreno a pensar as ideias do partido: Pedro Lomba, Pedro Reis e Matos Correia. Lomba vai coordenar as propostas a submeter a eleições
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São os novos três mosqueteiros da ideologia do PSD: Pedro Reis, Pedro Lomba e Matos Correia. O congresso trouxe um novo esqueleto ao partido que tem agora uma estrutura mais complexa e mais preparada para o combate à oposição.

Fonte oficial do PSD explica ao DN que a comissão permanente (órgão de direção) "trabalha em estreita ligação com os três grupos de trabalho lançados por Passos Coelho: o Conselho Estratégico, o Instituto Sá Carneiro e o Gabinete de Estudos". É por estes três órgãos que vai passar toda a reflexão sobre a doutrina do novo PSD.

Começando pelo gabinete de estudos (GENE), o escolhido por Pedro Passos Coelho foi o antigo secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Pedro Lomba. O ex-governante explica ao DN que o gabinete "tem como função munir com informação ideias e propostas a ação política do PSD". Ora, Pedro Lomba está em estreita ligação com a direção e o grupo parlamentar.

Ao que o DN apurou, as reuniões começaram em maio. Como a ação política passa pelo Parlamento, Lomba reúne-se periodicamente com os doze coordenadores do grupo parlamentar de todas as comissões. Esse grupo inclui deputados como Nilza de Sena (Educação), Duarte Marques (Assuntos Europeus), Duarte Pacheco (Finanças) ou José Cesário (Negócios Estrangeiros).

A ideia é que o GENE funcione para dentro e que dele emane, por exemplo, propostas que possam ser apresentadas no Parlamento, como as 222 que a bancada parlamentar do PSD apresentou no âmbito do Programa Nacional de Reformas.

O partido não está no poder, nem com pressa para ir a eleições, mas há que estar preparado para quando isso acontecer. "Uma das nossas missões é preparar o programa eleitoral do partido", explica Pedro Lomba. Vai ser assim o antigo secretário de Estado o grande coordenador de propostas quando for altura de começar a esboçar um programa para submeter a votos.

Liberal ou social-democrata?

Pedro Lomba, que antes da sua experiência governativa se assumia nas páginas do DN, em 2008, como um "liberal-conservador", irá agora coordenar um programa mais social-democrata? Será compaginável com o lema da última reeleição de Pedro Passos Coelho para a liderança do PSD "Social-democracia, sempre!"? Como o próprio Lomba escrevia, talvez seja possível casar as várias nuances ideológicas no programa do PSD: "O liberal conservador não rejeita a existência de contradições. O que tenta é um equilíbrio difícil entre si e os outros."

Na moção estratégica ao congresso de abril, Passos Coelho deixou cair o slogan com que foi eleito e passou ao "compromisso reformista".

Nas últimas legislativas, Passos decidiu tirar ao presidente do GENE (Rogério Gomes) o papel de coordenador das propostas para submeter a votos e atribuiu a função ao então seu vice-presidente José Matos Correia. Desta vez não será preciso, uma vez que o deputado estará coordenado com Lomba, como presidente do Conselho Estratégico (CE).

O CE não existia desde a direção de Marques Mendes. De acordo com os estatutos do PSD, o Conselho Estratégico "integra personalidades de reconhecido mérito, e competência, militantes do PSD ou independentes, e destina-se a aconselhar o presidente do partido no que toca às grandes questões nacionais".

No tempo de Marques Mendes, compunham o órgão pessoas de dentro e fora do partido como Ângelo Correia, Carlos Pimenta, João de Deus Pinheiro, Eduardo Catroga, Nogueira Leite, Pacheco Pereira ou João Lobo Antunes. Para já, o órgão é praticamente unipessoal: só é composto por Matos Correia. E é provável que assim continue.

Instituto Sá Carneiro renovado

Há ainda um terceiro braço do partido que se espera que ganhe relevância: o Instituto Sá Carneiro. Enquanto o GENE funciona como instrumento interno, o instituto tem uma relação para o exterior.

De acordo com fonte oficial do PSD, ao "novo presidente Pedro Reis, compete-lhe a função de reformular a relação deste órgão com o PSD e com a sociedade civil". A mesma fonte explica que "o instituto será naturalmente palco de diversas iniciativas onde se debaterão os temas mais relevantes para a evolução do país".

O PSD quer manter o que está bem no instituto: a parte de formação. A Universidade de Verão (UV), a Universidade Europa e a Universidade Poder Local são projetos a manter. A UV tem às vezes projeção internacional (já contou, por exemplo, com o atual primeiro--ministro espanhol, Mariano Rajoy) e continua a ter como reitor Carlos Coelho, o último presidente do Instituto.

Compete agora a Pedro Reis preparar o Instituto Francisco Sá Carneiro para o combate político e para iniciativas que o ponham mais ao serviço do partido e abram as portas da sociedade ao PSD, seja com think tanks, conferências ou atividades similares. O fundador Francisco Pinto Balsemão deverá continuar como presidente do conselho geral do instituto.

PEDRO LOMBA

No governo foi responsável por briefings diários do governo com os jornalistas, que duraram pouco pela ineficácia e confusão do modelo. Pedro Lomba chegou ao governo com o ministro Poiares Maduro, sendo secretário de Estado adjunto. Meses após o fim do governo de coligação, Lomba voltou a integrar o escritório de advogados de José Miguel Júdice (PLMJ). Além de assistente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, destacou-se na blogosfera e foi colunista de jornais como o Público, o DN e o Diário Económico.

PEDRO REIS

Foi presidente da AICEP entre dezembro 2011 e abril 2014. É desde setembro de 2015 presidente executivo do BCP Capital. Antes das eleições legislativas foi um dos coordenadores do grupo de economistas que desenhou o programa do PSD (com Moreira Rato e Manuel Rodrigues). Antes do congresso, presidia à Comissão Nacional de Auditoria Financeira do PSD e já fazia parte do Instituto Sá Carneiro (era vogal da administração) e agora foi escolhido por Passos para presidir o órgão.

JOSÉ MATOS CORREIA

Foi várias vezes apontado como ministeriável, mas nunca quis ser ministro. Apesar disso, é um dos principais ativos do PSD no Parlamento. Foi vice-presidente do PSD no anterior mandato de Passos Coelho (2014-2016) e foi o escolhido para do lado do PSD tratar de esboçar o programa eleitoral do partido na últimas legislativas (em conjunto com Assunção Cristas). É deputado desde 1999 e é também vice-presidente da Assembleia da República.

*Com Paula Sá

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