O diplomata que também ajudou a eleger Durão Barroso

Atual embaixador na ONU era o representante junto da UE quando ex-primeiro-ministro foi eleito presidente da Comissão Europeia.
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O embaixador Álvaro Mendonça e Moura, muito elogiado pelo trabalho que culminou na escolha de António Guterres como secretário-geral da ONU, era o representante permanente de Portugal junto da UE quanto o também ex-primeiro-ministro Durão Barroso foi designado presidente da Comissão Europeia.

"Teve a sorte de estar naqueles dois lugares importantes na altura certa. Simplesmente, a sorte tem que ser ajudada e ele é um dos melhores entre nós", realça o embaixador António Martins da Cruz, amigo daquele diplomata há quatro décadas e com quem trabalhou em Genebra nos anos 1980.

"É o único embaixador que conseguiu fazer eleger dois portugueses para os lugares mais importantes na cena internacional", enaltece o embaixador António Martins da Cruz, ministro dos Negócios Estrangeiros quando Álvaro Mendonça e Moura assumiu funções em Bruxelas a 1 de outubro de 2002.

Para o embaixador António Monteiro, apesar das diferenças inerentes à lógica das duas organizações, em que na ONU cada país afirma a sua soberania e na UE há mecanismos de decisão supranacionais em que Portugal também participa, "há similitudes nos contactos que se mantêm e são necessários para perceber os sinais [dos homólogos], o que é importante, qual é posição dos outros países, donde pode vir ameaça à candidatura portuguesa, onde temos de colocar mais peso ou usar argumentos que convençam da bondade da nossa posição".

Isso torna "completamente diferente o tipo e a forma da decisão, o que só mostra que Álvaro Mendonça e Moura é multifacetado e trabalha bem em todos os tabuleiros", enfatiza António Monteiro, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-representante junto da ONU.

Para o embaixador Francisco Seixas da Costa, outro antecessor do atual representante junto da ONU, Álvaro Mendonça e Moura "é sem sombra de dúvida o mais experiente e qualificado diplomata português no âmbito multilateral".

Mendonça e Moura "é o diplomata há mais tempo no estrangeiro [desde 1995 e] completa em Nova Iorque um percurso ímpar que já o havia levado a atuar em nome de Portugal junto das instâncias da ONU em Genebra e em Viena, para além de ter chefiado a importante representação nacional junto da UE", diz Seixas da Costa.

António Monteiro, outro chefe da diplomacia portuguesa durante o tempo de Mendonça e Moura em Bruxelas, não poupa palavras: "É um grande profissional, um, diplomata de mão cheia, com capacidade de mediação, o poder negocial certo, uma defesa hábil das posições portuguesas... já tinha tido um papel relevante como embaixador junto da ONU em Viena na questão das drogas" e na segunda metade dos anos 1990.

Agora na ONU, adianta Martins da Cruz, o embaixador "era o único que tinha o termómetro na mão para saber qual a temperatura da eleição, qual a tendência e as dinâmicas. Tinha de as saber interpretar para passar a mensagem correta que Portugal tinha de dar".

Álvaro José Costa de Mendonça e Moura, 65 anos, é natural do Porto e licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Entrou para a carreira diplomática em 1974, depois de ter sido sido professor do ensino superior. O seu primeiro posto no estrangeiro foi em Genebra (1979), na delegação permanente junto da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Antes tinha sido chefe de gabinete de Barroso como secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. Ao sair de Bruxelas, em 2008, foi embaixador em Madrid até 2013, quando voou para Nova Iorque.

"Se a candidatura de António Guterres era um Ferrari, Mendonça e Moura era os pneus porque, sem os pneus, o Ferrari não anda", concluiu Martins da Cruz.

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