O declínio das monarquias
Existem hoje 12 monarquias na Europa. Quando foi proclamada a República em Portugal, à exceção de França, todos os restantes países europeus eram governados por regimes monárquicos. Em 1910, a monarquia era a forma dominante de governo no mundo, tirando nas Américas. Meio século depois, a realidade era outra. São menos de 50 no mundo, 16 das quais dirigidas pela rainha Isabel II, ainda que a maioria destas funcionem como regimes republicanos, como a Austrália ou o Canadá, sendo a monarca britânica apenas chefe de Estado simbólica. Além do singular caso do principado de Andorra, cujo governo é dirigido por dois copríncipes, sendo um deles o presidente da República francesa! O segundo é bispo da diocese da cidade catalã de Urgell.
O apelo dos regimes monárquicos permanece, no entanto, em países como o Reino Unido, o Japão, a Holanda, a Noruega, a Suécia, a Tailândia ou o Camboja. Mesmo em Espanha, onde a questão do fim da monarquia se colocou com a abdicação de Juan Carlos, não surge como tema atual uma alteração de regime.
No mundo muçulmano, apesar das tensões e crises - de que são exemplos o ciclo das Primaveras Árabes ou a queda dos preços do petróleo -, as monarquias têm evidenciado um notável grau de sobrevivência. Caso dos regimes do Golfo, da Jordânia e de Marrocos. Neste último país, em particular após a independência em 1956, Hassan II soube criar um espírito de unidade nacional em torno da monarquia, a que sua condição de comendador dos crentes conferiu um estatuto de dignidade acrescida. O seu filho, Mohammed VI, no poder desde 1999, teve de enfrentar uma vaga de contestação em 2011, mas que soube neutralizar com a aprovação de uma nova Constituição, a que se seguiram legislativas ganhas pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento, islamita moderado, que governa em coligação. Na Jordânia, a Abdullah II, no trono também desde 1999, com uma estratégia de modernização da economia, combate à pobreza e tímidas iniciativas de abertura política, foi-lhe possível atravessar o período crítico das Primaveras Árabes sem particulares sobressaltos.
Se a queda da dinastia dos Romanov na Rússia, em 1917, permanece como exemplo do fim trágico de um regime monárquico, pode-se estabelecer um paralelo com o sucedido no Nepal, um século mais tarde, pelo número de mortos numa família real. Os comunistas assassinaram o czar Nicolau II, a sua mulher, os cinco filhos e quatro outras pessoas a 16 de julho do ano seguinte, num total de 11 mortos; em Catmandu, o príncipe Dipendra matou o pai, o rei Birendra, a mãe, o irmão e a irmã e mais cinco elementos da família real a 1 de junho de 2001, suicidando-se em seguida. O massacre levou ao trono o irmão mais novo do rei assassinado, príncipe Gyanendra, que, no espaço de seis anos, acabará isolado da população, sendo a monarquia abolida em maio de 2008. Gyanendra, que nunca fez segredo do seu desdém pelos partidos políticos e pelos maoistas que lançaram a luta armada em 1996, procurou governar de forma absoluta e tentou vencer a guerrilha pela força. O fracasso em ambas as frentes ditará o seu fim político e da dinastia que unificara o Nepal em 1768.
Outro regime monárquico que caiu vítima da contestação nas ruas foi o do xá da Pérsia, Mohammad Reza Shah. Em janeiro de 1979, a culminar mais de um ano de manifestações, greves e atos de resistência passiva, Reza Shah abandona Teerão, abrindo caminho ao regresso do ayatollah Ruhollah Khomeini e à proclamação de uma república islâmica, votada em referendo em abril. Com a proclamação da república, a Pérsia passa a designar-se Irão.
Permanecem no mundo cinco monarquias absolutas: Arábia Saudita, Omã, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Brunei. Manifestamente renitentes em realizarem qualquer tipo de reformas. E ainda uma monarquia teocrática, o Vaticano.
Corrigido ano da morte do czar Nicolau II às 12:37