"O budismo ensinou-me que não controlamos o que acontece"
Quando se encontrou pessoalmente com o Dalai Lama?
Foi em 1997, na sequência da primeira grande viagem da minha vida, que decidi fazer sozinho, à Índia. Na altura já andava muito interessado no budismo. Fui procurar o sítio onde vive o Dalai Lama na Índia desde que foi proibido de voltar ao Tibete e pedi ao seu encarregado dos Negócios Estrangeiros para ser recebido por ele. "Venha cá", responderam. O encontro teve um grande impacto na minha vida. O Dalai Lama tem uma frase em que nos aconselha a nos comportarmos como um turista de passagem por este mundo e sentirmos que não estragámos o hotel [risos]. É assim que gosto de me sentir.
Antes desse encontro marcante, o que o levou ao budismo?
Recordo-me de ter começado a interessar-me pela filosofia budista na década de 90. Quando estava no 2.º ano do curso de Psicologia da Universidade Clássica de Lisboa tive um balde de água fria: a Catarina, uma amiga madeirense, lindíssima, foi passar as férias da Páscoa à ilha e não voltou: morreu num acidente. Eu tinha apenas 20 anos, estava naquela fase da vida em que somos invencíveis e imortais. A morte dela foi um chão que me foi tirado. Eu era católico mas não encontrei no catolicismo as respostas para o que me inquietava: "O que é isto, a vida?"
E foi à procura dessas respostas no budismo?
Fui. Não foi como no filme Comer, Orar, Amar (2010), ou seja, não vi a luz ou tive uma grande revelação. Foi um processo muito solitário e doloroso.