O alívio de ter "Felizmente Há Luar!" em vez de "Memorial do Convento"
Sorrisos largos e otimistas à porta da Escola Secundária de Bocage, em Setúbal. Sinal claro de que, para a maioria dos alunos, o exame do 12º ano de Português tinha corrido bem. "Foi muito fácil, mas agora vamos ver o que dá", revelava ao DN Fernanda Farias, enquanto ia trocando opiniões de enunciado na mão com os colegas, também convictos de uma boa prestação.
"Estava com medo do Memorial do Convento (de José Saramago), mas assim que vi Felizmente Há Luar! (de Luís de Sttau Monteiro) fiquei mais descansada e confiante", resumiu esta jovem, que dispensou a meia hora de tolerância, tal como os cerca de vinte alunos que pouco depois das 11.30 horas já estavam no exterior da escola.
Entre os vários estudantes com quem o DN falou não havia relatos que admitissem uma "má nota" no primeiro exame nacional, embora a maioria do alunos alertassem para o aumento do grau de dificuldade face ao exame do ano anterior. "Tinha matéria mais relevante de 12.º ano e o terceiro grupo tinha uma parte mais abstrata que obrigava a pensar mais sobre educação, paz, liberdade e justiça", admitia Gonçalo Martins, assumindo que espera "boa nota" para ajudar a alcançar a média de 15 valores que precisa rumo ao futuro académico.
Depois do nervosismo a confiança em Lisboa
Na secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa, os alunos estavam "à espera de Fernando Pessoa" mas encontraram Luís de Camões e Carlos Fiolhais no exame nacional de Português, que "manteve a dificuldade dos anos anteriores". À porta da escola, os estudantes discutiam os textos e os três autores escolhidos: "Felizmente Há Luar!", de Luís de Sttau Monteiro (escritor do século XX); poemas de Luís de Camões (século XVI) e "Aprendendo com os erros", um artigo recente do físico Carlos Fiolhais.
Todos os alunos que falaram com a agência Lusa acharam que a prova não foi mais fácil nem mais difícil do que as anteriores. "Manteve a dificuldade dos anos anteriores. Não era difícil", disse Joana Pereira, aluna de Humanidades, que explicou que a forma escolhida para estudar para o exame foi realizar as provas dos anos anteriores.
Também Jéssica Lage, aluna do 12.º ano de Línguas e Humanidades que quer entrar no curso de Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, disse que a prova "era o mesmo registo" dos anos anteriores.
A surpresa foram os autores escolhidos. Os alunos que realizaram o exame na secundária José Gomes Ferreira acreditavam que iria sair Fernando Pessoa. João Pedro disse à Lusa que "estava à espera de Fernando Pessoa ou do Memorial do Convento" (de José Saramago) e lamentou que tivesse saído "Camões Lírico, porque não foi dado nas aulas".
Na escola de Bárbara Costa, alunos e professores fizeram mesmo um quadro de apostas. "Era uma espécie de 'Placard'". Toda a gente achava que ia sair Fernando Pessoa e tudo votou nele. Ninguém ganhou", contou sorridente a jovem de 18 anos que quer seguir Comunicação Social na Escola Superior de Comunicação, situada mesmo ao lado da secundária onde hoje realizou o exame. Entre um cigarro, umas gargalhadas ou um telefonema da família, os alunos dizem que agora é tempo de começar a pensar nos próximos exames. Joana Pereira vai fazer a prova de Matemática Aplicada às Ciências Sociais, Jéssica vai rever a matéria para o exame de História e João Pedro tem de se preparar para Filosofia.
Segundo os dados provisórios do Ministério da Educação, cerca de 160 mil alunos realizam este ano os exames nacionais do ensino secundário, que começaram hoje de manhã com as provas de Português do 12.º ano. A primeira fase dos exames termina a 27 de junho com as provas de Geometria Descritiva A e Literatura Portuguesa.