Nyah, a bebé que nasceu na bomba 15 da Galp da Gago Coutinho
8.40 da manhã, 28 de maio, uma segunda-feira como tantas outras a começar em Lisboa. Nasser Camará estaciona o carro na bomba 15 e sai a correr em direção à caixa: "Preciso de ajuda. A minha mulher vai dar à luz." Tremem-lhe as mãos e a voz. Patrícia dirige-se para o carro para ver o que se passa. No carro, com a porta aberta, está Samira Semedo em pleno trabalho de parto. Enquanto uma outra empregada, Tatiana, fala ao telefone com o INEM e anda de um lado para o outro, trazendo água e guardanapos de papel, Patrícia fica com o casal. 7 minutos depois nasce Nyah. Enrugada, cabeluda. 3,310 quilos e 50 centímetros. E uns pulmões fortes. A bebé chora. E todos choram com ela.
Isto aconteceu há duas semanas. Hoje, Nyah voltou ao sítio onde nasceu, com os pais, e reencontrou-se com as suas parteiras para que todos ficássemos a saber a sua história. Nunca tal tinha acontecido num posto da Galp e para assinalar a ocasião a marca decidiu reunir todos os intervenientes e oferecer-lhes algumas prendas, numa cerimónia improvisada entre prateleiras de bolachas e anúncios de descontos em gasolina.
A manhã estava a correr bem até começarem as contrações
Nasser, de 40 anos, e Samira, de 30, moram no Bairro do Armador, na Belavista. Ela é operadora de caixa num supermercado e ele é segurança e personal trainer. Nyah não é a sua primeira filha, têm um rapaz com 10 anos. Por isso, para eles, o parto não é uma novidade. Nasser já tinha assistido ao nascimento do filho. "Mas foi há muito tempo", diz. Naquele dia, Samira acordou às 4 da manhã com algumas contrações mas sem dores.
A gravidez já ia nas 39 semanas e três dias e ela sabia que a bebé poderia nascer a qualquer momento. E voltou a dormir. Acordou pouco depois das 8, tranquila, e de repente começaram as contrações muito seguidas. "Olha que a mãe está aflita", avisou o rapaz. "Não está nada", respondeu o pai, pensando em todas as vezes que ela o tinha obrigado a ir a correr para a maternidade por coisas de nada. Samira foi tomar banho e vestir-se, mandou o filho mais velho para a escola e entrou no carro com o marido para irem à maternidade perceber o que se passava. "Íamos pelas Olaias, mas apanhámos imenso trânsito e tivemos que vir por aqui. De repente ela diz-me que não vale a pena, que temos que parar e pedir ajuda", conta Nasser.
Água quente e toalhas? Aqui só há água engarrafada e toalhetes de papel
As bombas da Galp estavam cheias àquela hora da manhã. Entre menus de pequeno-almoço, cafés e combustível, Tatiana Gaspar não tinha mãos a medir com trabalho. Mas deixou tudo para ajudar no parto. Ao telefone, o INEM dizia que eram necessárias toalhas e água quente. Ela arranjou água engarrafada e toalhetes de papel. Era o que havia. Os vídeos das câmaras de vigilância mostram-na a correr de um lado para o outro. "Fiquei um bocadinho nervosa", recorda. Tatiana tem 23 anos e nunca tinha assistido a um parto.
Patrícia Mendes lembra-se que naquele momento em que se dirigiu para o carro não fazia ideia do que aí vinha. "Achei que ia ficar só ali a segurar-lhe na mão enquanto esperávamos pelo INEM", conta a rir. Consigo ia Adalberto, um outro funcionário que, por acaso, até tem um curso de primeiros socorros. Mas o pai pediu a Adalberto que se afastasse. Logo perceberam porquê: no veículo, sentada no lugar do pendura, a mulher, Samira Semedo, estava já seminua, ensanguentada, a contorcer-se com dores. Não havia tempo para nada.
Patrícia tem 38 anos e uma filha de nove. "Mas nasceu de cesariana, nem sei o que são as dores do parto", diz, como que pedindo desculpa. Mas ninguém diria que não tinha qualquer experiência. Foi ela que, com um simples toque de dedos, fez rebentar a bolsa. Foi ela que conseguiu ajudar Samira a acalmar-se. "Agarra-te a mim e faz força", ordenou-lhe. "Ela estava com muito medo, fechava as pernas e não queria fazer força. Mas eu disse-lhe que tinha de ser."
E a bebé chorou
À segunda contração, nasceu Nyah. O pai estava mesmo ali, de mãos estendidas, e segurou-lhe a cabeça, ajudou o ombro a libertar-se, apanhou-a quando "ela saiu disparada" do corpo da mãe. Limparam-lhe o nariz e a boca, seguindo as indicações do INEM. Nyah chorou. Por momentos, Nasser esqueceu-se de tudo resto. Esqueceu-se que estava na bomba 15 da Galp da Gago Coutinho. Esqueceu-se até da mulher, exausta, sentada no banco reclinado do carro. "Fiquei ali a olhar para ela, a contar os dedinhos, a ver se estava tudo bem", conta. Até que Patrícia lhe disse: "Dá a bebé à mãe." E ele, acordando daquele sonho, colocou a Nyah no peito da mulher. Tinham conseguido.
Tinham passado apenas sete minutos mas parecia que tinham passado horas. "Quando finalmente a bebé nasceu estávamos todos agarrados uns aos outros a chorar", conta Patrícia. Pouco depois apareceu um carro dos bombeiros que estava estacionado do outro lado da rua e foi chamado por um cliente. E cinco minutos depois, finalmente, a ambulância do INEM chegou e levou-as para a maternidade.
Correu tudo tão bem que Samira se levantou e foi pelo seu próprio pé para a ambulância, onde lhe cortaram o cordão umbilical. Mãe e filha foram levadas para a maternidade. Nasser ficou um pouco mais na bomba para limpar o carro. E prometeu voltar para contar as novidades.
"Eles vieram cá mostrar-nos a bebé e nós oferecemos-lhe uma malinha com produtos. Criou-se uma ligação. A menina é nossa sobrinha emprestada", diz Patrícia, enquanto pega na minúscula Nyah ao colo. Está vestida de cor-de-rosa, com uma fita na cabeça e abre muito os olhos. Choraminga de vez em quando. Está um pouco constipada, mas não precisou de quaisquer cuidados especiais depois da aventura do nascimento na rodovia. Samira diz que é uma bebé "muito calma" e que até agora tem dado "umas noites ótimas".
A Galp ofereceu à família mil euros em combustível para um ano e dois anos de energia gratuita, as funcionárias Patrícia e Tatiana também receberam 250 euros de combustível. "Queremos agradecer-lhes por nos terem dado boa energia", brincou João Filipe Torneiro, diretor de marketing da Galp.
(artigo publicado originalmente a 12 de junho)