No Douro é mais fácil e mais barato fazer pontes

A distância entre as margens é a diferença mais óbvia, mas há outras condições, como as geológicas para as fundações, a ter em conta
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Não é preciso ser engenheiro para se constatar que construir uma ponte a ligar Porto e Gaia, no rio Douro, ou uma travessia no Tejo são projetos muito diferentes. A nova ponte anunciada pelos dois municípios nortenhos tem uma extensão planeada de 250 metros. No estuário do Tejo, a ponte 25 de Abril foi construída num dos pontos mais estreitos entre as margens, com um total de 2278 metros. Qualquer nova travessia obrigará sempre à construção de uma estrutura com uma extensão superior e logo com preços muito mais altos.

A distância entre as margens é a primeira grande e decisiva diferença entre as duas realidades a norte e a sul. "As vezes não é o único fator", aponta Carlos Mineiro Aires, bastonário da Ordem dos Engenheiros. "As condições geológicas paras fundações são também importantes quando pensa no projeto. No caso da ponte 25 de Abril, além da distância entre as margens, houve ainda condições favoráveis, com rocha para as fundações. Na Vasco da Gama [17 kms] já se utilizou a largura toda, com a situação geológica a ser muito diferente", explicou.

Nas seis pontes que ligam Porto e Gaia, a situação geológica é muito favorável. "É diferente da existente no estuário do Tejo. No Porto, todas as seis pontes têm rocha para as fundações", aponta Carlos Mineiro Aires. E até a sétima travessia prevista irá beneficiar destas condições, como adiantou ao DN o engenheiro Adão da Fonseca, autor de um estudo que indicava a localização, entre Campanhã (Porto) e o Areinho (Gaia) como a ideal. "Do lado do Porto há muita rocha, junto à margem. A solução que apontava é que deve ser construída ali uma rotunda, aproveitando mesmo parte dessa rocha", disse o catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, autor do projeto da Ponte do Infante, a mais recente travessia entre Porto e Gaia, inaugurada em 2003, e de diversas outras travessias em Portugal.

Em relação a LIsboa, Adão da Fonseca aponta que as diferenças das condições naturais - grande distâncias entre margens no Tejo - ditam ainda uma realidade social e económica distinta. "Em Gaia e Porto, temos um único centro. Estão juntas, lado a lado. No Tejo é diferente, as margens não têm uma proximidade tão efetiva. São realidades distintas. Lembro-me que na altura da construção da Ponte 25 de Abril, havia urbanistas que defendiam que não era uma boa ideia para o desenvolvimento da margem sul, já que devia evoluir virada para Setúbal e a ponte iria contrariar isso", recordou ao DN.

A construção de pontes no Douro e no Tejo envolve ainda outros fatores. Com margens estreitas, a corrente de água no Douro tem uma velocidade muito maior. No estuário do Tejo, "a tendência é que as águas andem com as marés, para trás e para a frente", aponta Carlos Mineiro Aires, e por isso as correntes tenham menos dinâmica.

A escolha do local é decisiva e depende dos estudos, como se verificou no Porto e acontecerá com uma eventual terceira travessia do rio Tejo. "Os estudos estão feitos, a terceira travessia será entre Barreiro e Chelas. Tem condições conjugadas para ser o local para a uma ponte.

Para se avançar para uma ponte há questões imediatas a responder, diz o bastonário dos engenheiros. "Para quê fazer a ponte? O que leva à sua construção é a primeira pergunta a responder. Depois será estudar qual a melhor solução técnica, qual a mais conveniente, incluindo o local." Além disso há o financiamento. Os custos de uma estrutura como uma ponte são elevados e há opções a tomar. "Em termos de materiais a usar, por exemplo", refere Carlos Mineiro Aires.

Basta comparar o custo previsto para a futura ponte D. António Francisco do Santos, 12 milhões de euros (será a ponte mais barata), com o preço da Vasco da Gama - 900 milhões em 1998, o que hoje significaria algo bem acima dos mil milhões.

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