Negrão "agradou" a Rio. União começa antes do congresso
Rui Rio quis que a união do PSD, naquilo que é possível unir, começasse antes de tomar posse como líder do partido. O 37.º Congresso do PSD começa hoje na antiga FIL, na Junqueira, e o ainda líder eleito tomou opções para manter a coesão em dois órgão vitais. O opositor nas eleições diretas, Pedro Santana Lopes, será o número um da sua lista ao Conselho Nacional e Fernando Negrão, que apoiou Santana na corrida à liderança, é o rosto escolhido para liderar o grupo parlamentar.
Rui Rio prometeu que iria promover a unidade do partido, apesar de não ter reconfirmado Hugo Soares na condução dos deputados sociais-democratas. A escolha de Santana Lopes para encabeçar a lista ao órgão máximo entre congressos segue a linha de Pedro Passos Coelho, que também convidou Paulo Rangel para esse lugar. Com este convite, Rui Rio dá um sinal de que não exclui quem tem valor. Irão no entanto surgir listas de santanistas ao Conselho Nacional porque é um órgão em que o partido quer estar representado e ter uma voz.
Também Fernando Negrão assume esse papel de federador, depois de a bancada laranja ter ficado descontente com o afastamento de Hugo Soares. Fernando Negrão, presidente da primeira comissão durante largos anos - foi candidato do PSD à Câmara de Lisboa nas autárquicas de 2013 -, é um deputado muito experiente e reconhecido entre pares.
Ontem, quando anunciou a candidatura - que disse "agradar" a Rui Rio e que será votada no dia 22 - fez questão de referir que o deputado Adão Silva, que também foi falado como um dos potenciais candidatos à liderança da bancada, muito próximo de Rui Rio, será o seu primeiro vice-presidente no grupo parlamentar. Perante os 750 delegados ao congresso, Rui Rio deverá assumir outras escolhas que promovam a coesão do partido, mas também é muito provável que deixe transparecer as ruturas.
Renovação Convocar novos quadros
Apesar de muitas figuras do tempo do PSD de Cavaco Silva e de Durão Barroso estarem ao lado de Rui Rio, há uma grande expectativa de que renove profundamente as listas aos órgãos nacionais do partido. Esta ideia esteve muito presente nos discursos da sua campanha à liderança do PSD, a de abertura a novos quadros do partido, com ligação a diferentes setores de atividade. Resta saber em que mulheres do partido apostará o líder para a paridade.
Compromissos Acordos com o governo do PS
Na campanha à presidência do partido, Rui Rio disse que está aberto aos consensos necessários para as grandes reformas do país. Admitiu que está disposto a apoiar um governo minoritário do PS caso não vença as legislativas de 2019. Como é um político que raramente se desvia do que diz, deverá manter essas ideias de pé nas palavras que dirigir ao congresso e ao país, no encerramento dos trabalhos, no domingo.
Mas são também essas duas ideias que mais o vão desgastar nos três dias de conclave. Os que não se reveem na sua liderança, com particular destaque para figuras ligadas ao PSD de Lisboa, vão exigir-lhe que defina até que ponto está disponível para entendimentos com o partido que não deixou o PSD governar, apesar de ter ganho as eleições. A estes, Rio voltará certamente a responder que primeiro está o país e depois o partido, e que é missão patriótica arredar a esquerda, leia-se PCP e BE, do poder.
As ideias Aposta no crescimento
A moção de estratégia de Rio ao congresso aponta as linhas gerais do que irá defender no seu consulado no partido, mas é provável que desafie no congresso António Costa para algum dos consensos que entende urgentes. E, como considera a descentralização "a reforma das reformas", é provável que essa seja uma delas. Mas Rio deverá também defender uma nova trajetória de crescimento para o país, assente na recuperação das empresas e de um regime fiscal favorável ao investimento. A inovação e o conhecimento são outros dois pilares de que não se irá esquecer.
Críticos Figuras que vão marcar terreno
É da lei do PSD, há sempre um leque de personalidades, há quem lhes chame barões, que marcam o terreno nos congressos do partido. Seja porque se perfilam para uma oposição interna ao líder seja porque querem marcar o terreno para o futuro, embora não estejam no plano do confronto com a liderança.
As vozes mais críticas que se irão ouvir na antiga FIL serão as de figuras ligadas ao PSD de Lisboa. A do antigo presidente da distrital e a do atual, Miguel Pinto Luz e Pedro Pinto, este último uma das figuras mais próximas de Pedro Passos Coelho. O primeiro desafiou publicamente o líder para clarificar os compromissos que quer fazer com o PS e acusou-o de fragilizar o partido ao admitir o apoio a um governo minoritário de António Costa. Irá repetir esses argumentos aos congressistas. A moção da assembleia distrital de Lisboa do PSD vai no mesmo sentido e Pedro Pinto também será uma voz incómoda.
Mas há outras personalidades de proa que irão marcar este 37.º Congresso, entre eles Pedro Duarte, Paulo Rangel, Luís Montenegro, Miguel Albuquerque e José Eduardo Martins.
O antigo parceiro de coligação de governo comparecerá no congresso com uma delegação de luxo: a presidente do CDS, Assunção Cristas, e dois vice-presidentes, Nuno Melo e Adolfo Mesquita Nunes.
Com Valentina Marcelino