"Não queremos entrar no governo pela porta pequena. Não somos o CDS do PS"
A moção que subscreveu defendia que o Bloco deve ser capaz de mobilizar uma maioria popular para um projeto diferente para o país. É compaginável com o acordo com o PS?
Absolutamente. O que a moção A diz é que estamos firmes neste acordo, garantindo que ele cumpre o seu objetivo, isto é, que vai continuar a permitir recuperação de rendimentos e direitos a cada ano que passa. Acreditamos que temos ideias, capacidade e força para disputar uma maioria social, que é necessária também para o desenvolvimento da situação política e que nos pode levar a um crescendo eleitoral para nos dar mais força também na negociação constante com o PS.
Disse que o Bloco pode vir a ser "a força mais forte de um governo". Qual é o horizonte de tempo razoável para que isso aconteça?
Devemos ser exigentes quando definimos objetivos, mas humildes na forma como esperamos que as pessoas nos reconheçam competências e confiança. Temos feito bastante mostrando que muitas das coisas que defendíamos são possíveis, ao contrário do que outros diziam, e que temos capacidade técnica e política para estarmos mais próximos do fator de decisão do país. Estamos disponíveis para tudo o que exijam de nós.
Imagina uma inversão de posições: o Bloco no atual papel do PS, no governo, e o PS a suportar um executivo vosso?
Queremos estar no governo de forma forte. Não queremos entrar no governo pela porta pequena, não somos um putativo CDS do PS, que troca lugares por ideias. Temos as nossas ideias e queremos conquistar espaço com elas.
Na Convenção houve uma demarcação acentuada da governação socialista. Porquê?
Não foi essa a nossa vontade. Nunca escondemos as nossas divergências com o PS. Sabendo das divergências, fazemos um confronto, tentando alcançar pontos de encontro. Mas não metemos na gaveta nenhuma das nossas ideias. Agora, estamos numa relação de forças com o PS e eles têm também ideias, batem-se por elas e têm uma posição eleitoral mais forte do que nós.
Foi graças ao BE que o PS tirou o socialismo da gaveta?
Foi graças ao BE que conseguimos um caminho diferente. Creio que mesmo as pessoas do PS reconhecerão que aquilo que o PS está a fazer é diferente do que faria se fosse governo com maioria absoluta ou se fosse governo sem esta maioria parlamentar. Orgulhamo-nos das mudanças que temos tido, mas queremos sempre mais. Somos uns insatisfeitos permanentes.
Se depender do BE, sem maioria absoluta a direita não voltará a formar governo?
Nunca foi devido ao BE que tivemos governos de direita. Sempre estivemos disponíveis para sustentar políticas de defesa das pessoas, nunca perguntámos às boas ideias qual é o seu cartão partidário.
Não faltou mais debate sobre ???????as autárquicas do próximo ano?
A recomendação geral da Convenção estabelece balizas, diz que a prioridade são listas próprias ou de independentes. A realização desse caminho será feita pelas concelhias. Não se discutem nomes nas convenções. Noutros partidos a lógica é diferente, mas não é essa a tradição do BE.
Admite, por exemplo, um cenário de "geringonça local" em Lisboa, liderada por Fernando Medina?
Temos as eleições e vamos bater--nos para ganhar o máximo de votos, pessoas para as nossas ideias e ganhar força para mostrar que, da mesma forma que refizemos a Assembleia da República no relacionamento com o governo e ganhámos força eleitoral para ganhar força na aplicação de ideias, o vamos fazer nas autarquias. Esperamos conseguir eleger muitos vereadores, elementos das assembleias municipais e de freguesia e ganhar câmaras.
Está fora de hipótese voltar a candidatar-se à liderança do BE?
A moção A tinha como candidata a coordenadora, a Catarina. Estou bastante confortável com essa escolha, é uma escolha que apoio e não faz sentido discutir alternativas neste contexto. No Bloco mais do que rostos, que são importantes na política, o importante são as ideias e as políticas.
Concorda com o desaparecimento da Comissão Permanente e o regresso ao modelo de um só coordenador?
O modelo de uma pessoa na coordenação é aquele que responde ao contexto político em que vivemos - e defendi-o anteriormente - e àquilo que o Bloco já praticou no passado. A Comissão Permanente aconteceu num contexto diferente da organização interna do partido. Foi necessária e positiva, cumpriu o seu papel.