Ministra terá de explicar falhas no combate a incêndios
A ministra da Administração Interna deve ir ao Parlamento, com urgência, explicar o que "foi feito" para resolver as falhas ocorridas no incêndio de Pedrógão Grande, nomeadamente a nível do SIRESP, e que voltaram a revelar-se no fogo em Alijó. A exigência foi feita ontem pelo PSD, com o CDS a insistir na demissão e o BE a perguntar o que falhou, no dia em que o primeiro-ministro, António Costa, voltou a criticar a PT pelas "fragilidades inadmissíveis" na rede de telecomunicações. Disse "não perceber porque é que os cabos estão colocados de forma aérea".
E enquanto o estado de emergência municipal está para ser declarado em Alijó, onde o fogo consumiu já mais de mil hectares e obrigou a evacuar aldeias, a Proteção Civil reagiu às críticas ao SIRESP assumindo falhas, mas garantindo que as comunicações "nunca estiveram comprometidas". O PSD não se convence e diz, através do deputado Carlos Abreu Amorim, que a ministra da Administração Interna "tem de dar explicações, em primeiro lugar porque ainda é titular responsável da pasta que diretamente se relaciona com incêndios e, em segundo lugar, porque é a ela que cabe resolver problemas que já foram diagnosticados", numa referência ao SIRESP. Assunção Cristas vai mais longe e voltou a pedir a demissão de Constança Urbano de Sousa. O BE também quer saber se houve falhas e quais no fogo de Alijó.
António Costa fala em "fragilidades inadmissíveis", quando confrontado com os problemas nas comunicações durante o combate a incêndios. "É de senso comum que numa zona de grande densidade florestal, onde há elevado risco de incêndio, o sistema de comunicações de uma determinada companhia, que não vou dizer o nome para não me criticarem, assentar em cabos aéreos, e nessa rede circular não só a comunicação normal como as comunicações de emergência, expõe a rede a uma fragilidade inadmissível", afirmou o primeiro-ministro, à margem da inauguração do novo terminal do aeroporto de Faro.
Enquanto a discussão política se centra no SIRESP, no terreno o dia voltou a ser dramático com centenas de fogos em todo o país, com o que lavra desde a madrugada de domingo em Alijó a ser o mais preocupante. Depois de ter sido dado como dominado no domingo, o incêndio ressurgiu em grande força, destruindo floresta e mato, e forçando a Proteção Civil a retirar habitantes em várias aldeias.
Alijó tem cinco corporações
"Infelizmente em Portugal isto acontece com regularidade, há um grande problema: combate-se o fogo com água e quando as chamas são extintas julga-se que está resolvido. Mas surgem logo os reacendimentos. Se abrissem faixas de contenção, com máquinas e ferramentas de sapadores, o fogo ficava ali e não voltava a preocupar", disse ao DN Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD e que é um dos elementos que integram a comissão de inquérito ao incêndio de Pedrógão Grande. Quando os incêndios são grandes, como é o de Alijó, o combate com água gera sempre reacendimentos. "O perímetro nunca é efetivamente controlado. E há ainda os ventos, no domingo o vento era de leste, hoje [segunda-feira] já era de sudoeste e de repente os flancos tornam-se na cabeça do incêndio."
Para este investigador, a região nem tem uma grande acumulação de biomassa. "Alijó tem fogos frequentes, há um mosaico de áreas queimadas dos últimos anos, mas há ainda área florestal para arder", diz o especialista para quem o tema SIRESP "está a ser empolado". O sistema "tem problemas estruturais mas nunca se falou tanto como neste ano, devido a Pedrógão. Ajuda a desviar, precisamos sempre de desculpas."
No concelho de Alijó há cinco corporações de bombeiros (Alijó, Sanfins do Douro, Favaios, Pinhão e Cheires. Paulo Fernandes não atribui a esta situação uma anomalia decisiva. "Tem que ver com a histórias dessas corporações. Até houve mais uma, em Pegarinhos. Parece, de facto, excessivo para um concelho desta dimensão, concentrar mais a massa crítica era melhor."
Ao final da tarde, o fogo de Alijó ainda tinha três frentes ativas. No terreno estavam 500 operacionais, cerca de 170 veículos, oito máquinas de rasto e nove aviões. Durante a tarde, e por precaução, foram deslocadas 21 pessoas, entre crianças, idosos e acamados, das aldeias de Carlão, Vila Chã, Francelos Franzilhal e Santa Eugénia. O presidente da Câmara de Alijó já admitia declarar o estado de emergência municipal. "É um pedido de socorro, é um pedido de ajuda porque nós já não somos capazes de dominar isto, os homens que estão aqui já estão exaustos, precisávamos de mais alguma coisa", sustentou Carlos Magalhães.