Marcelo quer Cabo Verde mais próximo. Cabo-verdianos querem mais da UE

No segundo dia da visita, o PR saiu às ruas e teve vários encontros institucionais. Entre a política e a "diplomacia afetiva"

O sublinhar da amizade e dos vínculos históricos que existem entre Portugal e Cabo Verde tem sido um dos pontos fortes de uma vista repleta de afetividade e de trocas de elogios entre os chefes de Estado dos dois países. Mas mais do que a identificação cultural que já é conhecida, Marcelo Rebelo de Sousa entende que os dois países podem colaborar de forma mais abrangente e mais concreta. E é essa a mensagem que vai deixando por onde passa.

Quer nos encontros institucionais ao mais alto nível, nos discursos perante a comunidade portuguesa ou nos lugares mais remotos das duas ilhas - Santiago e Fogo - já visitadas nos dois dias, o chefe de Estado português não deixa passar a oportunidade de insistir na ideia de que Portugal - em boa parte, através da comunidade portuguesa, que, no arquipélago, supera os 16 mil habitantes - deve continuar o esforço de "aproximação", de "cooperação" e de "investimento" no território.

Da educação à investigação, passando pelo aprofundar das relações comerciais - sublinhando aqui a "ambição atlântica" dos dois países -, o chefe de Estado deixa o aviso: "É preciso tentar novos caminhos e novas soluções, ser mais ativos e criativos, e nunca incorrer no erro de que tudo está ganho nesta relação", afirmou, na sessão solene que teve lugar na Assembleia Nacional de Cabo Verde, perante os 72 deputados, a quem garantiu que os laços bilaterais são para manter "independentemente dos momentos, dos executivos e das maiorias parlamentares".

Segundo a tese de Marcelo, a aproximação entre os dois países faz-se, sobretudo, através das pessoas, com uma "diplomacia afetiva". Por isso, no segundo dia oficial de visita, o presidente português esteve nas ruas, onde, depois de recebido por um grupo de "batuqueiras" - que ensaiaram uma música com dedicatória especial para o presidente português - foi brindado com um banho de multidão no mercado municipal da Cidade da Praia.

Sempre acompanhado pelo homólogo de Cabo Verde, Marcelo bebeu, comeu, sorriu, abraçou e beijou as várias vendedoras que, vestidas de cores garridas e segurando alguma da fruta mais típica do país, ansiavam a chegada da comitiva. "Foi muito saboroso. Estamos de coração aberto para o receber", exclamava Lena, uma comerciante de 50 anos. "É o que eu esperava, é a amizade que têm pelo presidente e pelos portugueses", justificava Jorge Carlos Fonseca, o presidente de Cabo Verde.

À partida para a visita, temas como a mobilidade - e, aqui, a questão da livre circulação de pessoas e isenção de vistos entre os dois territórios, bem como nos restantes países que compõem a CPLP - ou a dívida de 200 milhões de euros que Cabo Verde contraiu com o governo português eram identificados como dois dos assuntos que dominariam a agenda, mas, também por via da insistência dos órgãos de comunicação cabo-verdianos, o tema da maior aproximação de Cabo Verde à União Europeia ganhou algum destaque.

Sobre este tema, já disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva - que integra a comitiva -, Cabo Verde pode contar com Portugal como "um dos seus advogados mais paladinos", sublinhando o facto de o arquipélago ter "a nossa tradição" em diversas áreas. Porém, em tempos de indecisão europeia em relação a matérias como a segurança ou o terrorismo, o processo adivinha-se difícil.

Marcelo, no Palácio Presidencial, garantiu que a ambição cabo-verdiana "pode contar com Portugal". Concorda em particular na questão da segurança, uma "matéria sensível" e que "coloca problemas" a Cabo Verde e à UE. Para já, o que existe é um documento do Governo de Cabo Verde, que pode, no entanto, sofrer alterações. Mas, Portugal, garante Marcelo, está ao lado do país.

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