Linda Amaral-Zettler: "A melhor maneira de prevenir é fazer inspeções"

Tem ascendência portuguesa e está no nosso País para realizar estudos sobre a legionela, a bactéria que infetou seis pessoas no Hospital CUF Descobertas. A investigadora Linda Amaral-Zettler, professora na Universidade Brown (em Rhode Island, nos EUA) está no Instituto Gulbenkian de Ciência, com uma bolsa do Programa Fulbright, a tentar descobrir novas formas de prevenção da doença. Considera que face ao número de casos nos hospitais, Portugal deveria ter inspeções obrigatórias da qualidade do ar
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Como vê as duas últimas ocorrências relacionadas com legionela em dois hospitais no País?
Parece que foram resultado de equipamentos que não foram adequadamente testados/tratados para a presença de legionela: o incidente de novembro originado nas torres de refrigeração e o atual possivelmente nos chuveiros, mas isso não explica os casos fora do hospital. Portanto, há claramente muito por saber sobre a exposição ao agente patogénico.

Pela investigação que tem feito para entender a diversidade de ambientes onde pode ser encontrada a legionela, qual a melhor maneira de prevenir o aparecimento da batéria?
Sabemos quais são as fontes comuns de legionela: elas tendem a associar-se a vários tipos de canalização de instalações e equipamentos de água aquecida (torres de refrigeração, unidades de ar condicionado, tanques de água quente hospitalares, spas, duches, hidromassagens, etc). Elas tendem a formar biofilmes, assim, uma boa maneira de evitar que eles aumentem em número é manter essas áreas limpas e livres de biofilmes.

Que medidas devem tomar os hospitais para evitar estes surtos?
A melhor maneira de prevenir surtos é fazer verificações regulares para a presença da bactéria e manter limpos os equipamentos e as áreas conhecidos por abrigar a bactéria.

Em Portugal, não há inspeções obrigatórias da qualidade do ar interior desde 2013. Acha que elas devem ser exigidas?
Eu acho que isso deve ser seriamente considerado dado o grande número de surtos recentes.

Como é que as pessoas se podem proteger da bactéria?
Certificando-se que evitam a água aquecida e os aerossóis em áreas que sabem poder abrigar a bactéria em maior número (torres de refrigeração, unidades de ar condicionado, tanques de água quente hospitalares, spas, cabeças de chuveiro sujas, hidromassagens, etc.). Se se for imunodeprimido, idoso ou tiver uma história de doença pulmonar ou tabagismo pode-se ser mais suscetível à doença.

O que é que está a estudar sobre a legionela?
A legionela é um patogénico ambiental, por vezes chamado patogénico humano acidental, porque só começou a utilizar o ser humano como hospedeiro desde que começámos a usar certos tipos de aparelhos e equipamentos (ar condicionado, spas, hidromassagens). Uma vez que não é propagada de pessoa para pessoa (excluindo um caso, logo em Portugal), os humanos às vezes são chamados "beco sem saída" evolutivo para a legionela. As suas presas naturais são eucariotas microbianos - micróbios unicelulares relacionados connosco. A legionela é um patogénico incomum, na medida em que não é específica do hospedeiro, mas pode infetar uma ampla gama de organismos. Estou no Instituto Gulbenkian de Ciência, com uma bolsa do Programa Fulbright, a utilizar a genómica - sequenciamento de ADN de todo o ADN num organismo- para entender a diversidade de ambientes e hospedeiros onde pode ser encontrada a legionela, mas também quais os tipos de células que não estão infetadas. Esperamos que isso nos ajude a saber como prevenir a doença.

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