Que desafios coloca o enorme aumento do turismo em Sintra?.Três, essencialmente. O primeiro, e mais importante, tem a ver com as pessoas. Não gostaria que se sentissem perturbadas com o afluxo turístico e até agora isso não está a acontecer, mas obriga a regulamentos, alguns não muito populares para restaurantes e bares, para compatibilizar o descanso das pessoas e a oferta turística. A mobilidade é outra questão importante. Milhares de pessoas visitam a Vila Velha de carro e não estávamos preparados para um afluxo destes. Isso obriga a um trabalho sobre a mobilidade, com a criação de um gabinete de mobilidade e transportes, de um novo parque de estacionamento na Portela, que está feito, o estudo de mais estacionamento, e a ligação entre o estacionamento e a Vila Velha por navetes elétricas, que está em estudo, e que é para começar a funcionar em 2018..Quantos novos lugares de estacionamento está a prever?.Só na Portela, que já está aberto e sempre cheio, são 500, e vão ser aumentados para 730. Estamos a pensar fazer mais um parque de estacionamento para 1200 carros ao pé do Ramalhão. Ao todo, serão mais de 3000 lugares novos para todo o concelho. E há o silo do Cacém, bem como o de Massamá. Estavam abandonados há anos e nós conseguimos que a REFER nos passasse os silos, que estão neste momento a funcionar. As pessoas deixam ali os carros e tomam o comboio. Quem compra o bilhete de comboio tem o estacionamento gratuito. Isto está a ser tratado e penso que este ano, no verão, já estará em funcionamento. Fizemos também um parque de estacionamento na Praia Grande para quase 200 carros..Como será o transporte entre os parques de estacionamento e o centro histórico?.Através de navetes elétricas, e o trânsito vai sair da Vila Velha. Só haverá carros para lá para levar as pessoas aos hotéis, e depois regressam. Isto é para avançar já em 2018. E há um velho projeto de teleférico, do Ramalhão para a Pena, mas isso terá ser sujeito a referendo..E o terceiro desafio?.É a manutenção dos nossos palácios. Temos que cuidar de que o aumento de turismo seja disciplinado para que o património não sofra com isso..Como é que isso vai ser feito?.Limitando entradas quando for necessário. Por exemplo, na [Quinta] da Regaleira. Queremos muito que as pessoas visitem, mas vamos ver qual é o número máximo a permitir, e vender esse número máximo de bilhetes por dia..Há edifícios antigos, inclusive no centro histórico, que estão vazios e a cair. Soluções?.Já houve mais, mas ainda há. A nossa ideia é lançar uma taxa turística, estamos a pensar nisso para 2018. E com essa verba fazer um fundo, a que podemos alocar alguma receita do nosso património. Estamos dispostos a fazer um protocolo, se a Parques de Sintra Monte da Lua concordar, para que uma parte das suas receitas, juntamente com a taxa turística, vá para a recuperação do património. Os particulares têm de participar, mas sozinhos podem não ter meios. Podemos pensar num sistema de cooperação com eles, para recuperar património nas zonas históricas..Qual será ser o valor da taxa turística?.Não sei ainda, mas não será mais do que dois euros, nem menos de um, por quarto de hotel. Admito que nos hotéis de cinco estrelas a taxa possa ser um pouco mais alta..Na vila veem-se agora mais turistas do que residentes. É um problema?.É. Estamos a resolvê-lo lançando no mercado habitação jovem. Os primeiros 20 andares já estão no mercado, temos uma bolsa de mais 20 já em 2018..Quanto gera o turismo para o concelho em termos económicos?.Não sei quantificar, mas estamos a ter um investimento grande a vários níveis e houve uma diminuição muito grande do desemprego. Em outubro de 2017, Sintra tinha o menor número de desempregados de sempre, desde que há estatística: 11 mil desempregados. Quando chegámos, há um pouco mais de quatro anos, tínhamos cerca de 21 mil desempregados. Isto tem a ver com o turismo mas também com um investimento muito grande da indústria, na saúde e o investimento da câmara, que é o maior investidor no concelho. Só nas estradas, nos últimos quatro anos investimos mais de 12 milhões de euros. Queremos que o turismo não seja só a vila histórica, mas o concelho todo. Temos muitas outras zonas de grande valor, como São João da Lampas, a Ponte da Catribana, as praias....Há transportes para esses sítios?.Ainda não há bons transportes. A mobilidade tem vários aspetos: estacionamento, fluidez do trânsito, transportes. Queremos que o trânsito saia da vila em 2018. Os tuk tuk estão regulamentados e há um prazo de ano e meio para serem todos elétricos, por causa do ruído. E depois há os transportes dentro do município. Estão a acabar as concessões e temos de começar a discuti-las, para ter disponibilidade de transporte, por exemplo para os turistas que querem ir a outros pontos de interesse no concelho. Queremos que o turismo popular conviva com o turismo de grande qualidade, que se interessa pela arqueologia, pela música, ou pelo bailado, e que os nossos festivais oferecem..Sintra sempre foi um destino romântico. Ainda é?.No conceito de romantismo atual, penso que sim. Veneza recebe milhões de pessoas e é um destino romântico. Temos tido um cuidado muito grande com o ambiente, e em conjunto com a Parques de Sintra Monte da Lua temos preservado a serra. O meu objetivo não é tanto a quantidade, é a qualidade da oferta turística para todos. Para s os jovens, os desportistas, os eruditos, os românticos..Será um ano de mudanças em Sintra?.Sim, de grandes investimentos e de algumas mudanças, que serão tranquilas, dentro da linha que temos seguido desde há quatro anos.