Forças Armadas já têm uma mulher no curso para general
A data de promoção da coronel médica Regina Mateus ao generalato ainda é uma incógnita, por depender de vagas na Força Aérea e autorização do Ministério das Finanças. Mas o último passo está dado: frequenta o curso de promoção a oficial general.
A acompanhá-la no curso iniciado em novembro - que se prolonga até ao verão e cujo trabalho de investigação vai centrar-se na "incapacidade e absentismo nas Forças Armadas" - estão 25 homens (capitães-de-mar-e-guerra e coronéis) da Marinha, Exército e Força Aérea. Três deles são do Brasil e um por cada ramo.
A militar é a mais antiga coronel das Forças Armadas e chefiava o Centro de Medicina Aeronáutica da Força Aérea - ramo que foi o primeiro a admitir mulheres (1988) para a Academia e ao qual também pertence a primeira mulher a exercer funções (desde 2016) como assessora militar do Presidente da República: a tenente-coronel Diná Azevedo.
Regina Mateus escusou-se a falar ao DN sobre a sua ida para o curso ministrado no Instituto Universitário Militar (IUM), em Pedrouços, onde chegou após 23 anos de carreira - tantos como o piloto-aviador que chefia a Força Aérea, general Manuel Rolo - nos quadros permanentes do ramo e como oficial médica.
"É verdadeiramente uma médica militar, que exerceu funções ao nível do hospital como em áreas de conflito de elevada perigosidade" como o Afeganistão (três vezes), conta ao DN um oficial superior do ramo, sob anonimato por não estar autorizado a falar. Sobre o perfil de Regina Mateus, a mesma fonte adianta corresponder ao do "militar típico, que diz o que tem a dizer" e, aceitando outras opiniões, "exerce o poder quando tem de o exercer".
Regina Maria de Jesus Ramos Mateus, nascida em 1966 em Lourenço Marques (atual Maputo), frequentou a escola primária em Moçambique, na Rodésia e depois na Figueira da Foz. Feito o ensino secundário, tirou o curso de Medicina na Universidade de Coimbra, que concluiu em 1991 (fazendo o internato geral nos dois anos seguintes).
Conhecida por ser "toda ativa" ainda na vida civil, com uma das fontes a dar como exemplo o treinar natação "de uma forma competitiva", Regina Mateus concorreu em 1993 para a Força Aérea. "A principal razão foi a segurança no trabalho" após a confusão dos primeiros anos de democracia, contou há uns meses ao DN.
Após as dificuldades iniciais de ainda não haver botas ou calças com o seu número, a militar foi colocada no hospital do ramo (onde agora está o Hospital das Forças Armadas. Regina Mateus tirou depois o curso de medicina aeronáutica, fez o internato complementar em Cirurgia Geral (em São Francisco Xavier) e obteve o grau de assistente hospitalar em 2002. No ano seguinte chefiou a equipa de saúde militar presente no exercício de avaliação tática da NATO, em Ovar.
Anos depois, numa missão similar no mesmo local que durou um ano, o sargento-mor José Jorge integrava a meia centena de médicos, socorristas, enfermeiros ou condutores sob o comando de Regina Mateus. "Onde estava [a coronel], era um por todos e todos por um", lembra o enfermeiro militar agora na reserva, sublinhando que a oficial partilhava as horas de lazer e refeições com os subordinados - "bebia uma cerveja [mas] menos do que nós", recorda José Jorge - mas "a missão estava acima de tudo".
"Estava sempre preocupada com a saúde operacional dos militares envolvidos" nos exercícios e missões - além do Afeganistão, esteve na Lituânia, em São Tomé e Príncipe, Noruega ou Líbia - ou, no plano hospitalar, com os doentes, ao ponto de estar "disponível em casos de emergência mesmo quando os doentes" não eram seus, acrescenta José Jorge.
Um coronel no ativo confirmou esta informação ao DN, desde logo por ser um dos militares que beneficiou da disponibilidade da médica numa situação urgente.
Outro oficial superior no ativo, da Força Aérea e com missões no exterior ouvido também sob anonimato, traça igualmente um retrato positivo da coronel: "Não é uma mangas de alpaca, é uma operacional", do "tipo calmo" mas disciplinador. Além das missões no estrangeiro, a coronel Regina Mateus desenvolveu também o equipamento interno para as aeronaves de transporte militar C-295 "terem capacidade de ir buscar doentes infetados com o vírus do ébola a África, se fosse necessário".
Detentora da qualificação como Avaliadora de Proteção da Força" na área da saúde, a futura general participou em várias missões NATO dessa natureza em Portugal, Grécia, Turquia ou Espanha.
Nas várias reportagens onde é citada garante nunca ter sido objeto de discriminação por questões de género nas fileiras. Casada, sem filhos, a coronel que chefiou o centro de saúde da base aérea de Monte Real desempenhou ainda funções clínicas no Hospital de São Francisco Xavier.