Empresas pedem às autarquias que não sejam um entrave

A maioria das empresas nacionais está concentrada no litoral e nos centros urbanos. Tendência revela-se difícil de alterar
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Qualquer que seja o resultado das próximas eleições autárquicas em cada um dos 308 municípios portugueses, uma coisa é certa: na segunda-feira 2 de outubro, a principal prioridade dos autarcas eleitos ou reeleitos continuará a ser a fixação das empresas já existentes na suas regiões e a atração de novas empresas que criem mais emprego e riqueza. A garantia é dada, com conhecimento de causa, pelo presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado (que concorre também ele à reeleição), na qualidade de presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).

Mas apesar de as autarquias terem instituído como primeira prioridade o apoio à atividade económica, como assegura o responsável da ANMP, a verdade é que a dinâmica empresarial continua ainda muito fortemente concentrada no litoral e nos grandes centros urbanos.

Os números comprovam esta realidade. De acordo com os dados da consultora Iberinform, Lisboa é ao mesmo tempo o concelho que concentra maior número de empresas (65 560), o concelho mais exportador (com 9,9 mil milhões de euros), com maior volume de negócios agregado (82 mil milhões), com mais trabalhadores (500 128) e com maior número de constituições (4330 só até agosto de 2017), dissoluções (1268) e insolvências (495) de empresas a nível nacional.

Entre janeiro e agosto de 2017 nasceram já na capital quase tantas empresas como as 5695 criadas em 2016. "Surgiram em Lisboa muitas empresas nos últimos anos e isso tem sobretudo que ver com o boom turístico", explicou ao DN/ /Dinheiro Vivo Paulo Nunes de Almeida, presidente da AEP - Associação Empresarial de Portugal, sublinhando que "as assimetrias no mapa empresarial em Portugal ainda são muito grandes". "Apesar do esforço feito ao nível do investimento, a realidade aponta para o facto de que estas assimetrias não têm vindo a ser reduzidas."

O país está muito inclinado para o litoral e toda a zona da Grande Lisboa, Grande Porto, Minho, Aveiro, Leiria. Uma tendência que não tem sido possível contornar, apesar dos investimentos que têm sido feitos ao nível das rodovias, da transferência de politécnicos e universidades para o interior do país, da criação de incentivos fiscais para as pessoas se fixarem e lá permanecerem", disse o mesmo responsável.

No entanto, garante, existem bons exemplos de concelhos com parques empresariais dinâmicos e "uma dinâmica brutal de investimento", tal como Viana do Castelo, Santa Maria da Feira, Leiria, entre outros. Destaque ainda para o eixo empresarial Aveiro/Vilar Formoso, passando por Viseu, onde tem havido muito investimento, com as empresas a reclamarem uma nova ferrovia para o escoamento dos produtos. "É um eixo com cada vez melhores empresas e viradas para os mercados exteriores", diz o responsável da AEP. Ainda neste eixo e no distrito de Viseu, o concelho de Nelas tem sido destacado pela capacidade de atração de investimento e criação de emprego (mil postos de trabalho nos últimos dois anos), tendo merecido, em 2016, a visita do ministro da Economia, Caldeira Cabral, a várias empresas do município.

Já nas exportações, a região norte continua a desempenhar o seu papel de "motor exportador". Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a maioria dos concelhos em Portugal aumentou as exportações entre 2013 e 2015. Com exportações acima de mil milhões de euros, em 2016, estão concelhos como Lisboa, Funchal, Oeiras, Vila Nova de Famalicão, Maia, Vila Nova de Gaia, Porto, Palmela, entre outros, mostram os números da Iberinform.

"Os dez concelhos mais exportadores são, na maioria, do litoral do país, o que confirma as assimetrias face ao interior", analisa Paulo Nunes de Almeida, evidenciando concelhos claramente exportadores: Vila Nova de Famalicão e Palmela, o que se prende com os pesos-pesados de capital estrangeiro neles situadas, e que influenciam fortemente as exportações, como a Continental Mabor e a Volkswagen Autoeuropa, respetivamente.

Por seu lado, as empresas viradas para o mercado interno têm beneficiado do boom turístico que se regista em alguns concelhos, sobretudo em Lisboa e no Porto (mas também no Algarve e no litoral alentejano), e outros concelhos das regiões do Douro e do Alentejo têm conseguido desenvolver-se por via de projetos ao nível das infraestruturas, tal como o Alqueva.

Assimetrias à parte, o presidente da AEP garante que as autarquias estão hoje mais viradas para as empresas e com maior dinamismo na captação de investimento. "Os concelhos competem entre si para mostrar o que têm de bom: proximidade a universidades e centros tecnológicos, mão-de-obra qualificada, acessibilidades, decisões rápidas no investimento, nos licenciamentos. Os autarcas já perceberam que têm de fazer este trabalho se querem ter mais investimento nacional e estrangeiro."

Do lado das empresas, a mensagem para o novo poder local que será eleito a 1 de outubro é clara: "Não nos dificultem a vida e deixem-nos trabalhar", garante ainda Paulo Nunes de Almeida: "As empresas sabem bem o que querem. E não querem que o poder político autárquico seja um obstáculo."

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