Crime informático dispara. PJ vai reforçar Unidade Nacional

Registaram-se quase 1000 crimes informáticos em 2017. Inspetores que investigam esta área são pouco mais de 30
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Em 11 anos o crime informático aumentou 226%, de 299 denúncias em 2006 para 976 em 2017, como mostra o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), ontem divulgado. A subida no ano passado registou-se em mais 21,8% de crimes no espaço cibernético, com mais 175 casos do que em 2016 (de 801 para 976 casos) .

Em contrapartida, o número de inspetores da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da Polícia Judiciária não teve ainda o aumento prometido em 2015 para um total de 100. A UNC3T conta com pouco mais do que os 30 investigadores de origem, como admitiu o seu diretor, Carlos Cabreiro, reconhecendo que "tem de haver uma adequação dos meios a uma realidade criminal que tem aumentado em complexidade e solicitações".

O diretor nacional da Polícia Judiciária garantiu ao DN que a Unidade Nacional será dotada de mais elementos "ainda este ano" com "pelo menos 25% dos novos 120 inspetores do último concurso nacional a ingressarem na UNC3T". Virão mais 30 elementos. Almeida Rodrigues não se comprometeu com uma data concreta mas adiantou que "assim que os novos inspetores concluírem o curso e o estágio, ainda durante este ano, a Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime será reforçada". Mesmo com este reforço, a equipa fixa - entre os especializados na investigação do crime informático e os que investigam meios de pagamento -não ultrapassará muito os 60 a 70 efetivos. Uma meta ainda distante dos 100 inspetores prometidos por Almeida Rodrigues em declarações ao DN a 28 de março de 2015.

A Unidade Nacional para a cibercriminalidade demorou três anos até sair da gaveta. A PJ apresentou a proposta em 2012 mas só com a alteração da lei orgânica, em agosto de 2015, ainda com o governo PSD de Passos Coelho, foi possível criar formalmente esta Unidade Nacional considerada prioritária.Um ano depois de assumir que este departamento iria contar com 100 inspetores,o diretor nacional disse em público que o assunto estava nas mãos do Governo. Entretanto, a primeira Unidade Nacional de Investigação da Criminalidade Informática, criada em 2015, deu lugar à atual UNC3T, nascida em janeiro de 2017. Na prática, só mudou o nome porque pouco se alterou em número de inspetores e meios. Almeida Rodrigues diz que estes especialistas "têm sido capacitados com novos meios tecnológicos". Alguns dos novos 30 inspetores que ingressarão na equipa têm licenciaturas em Engenharia Informática , que era um dos cursos preferenciais neste concurso.

Já Carlos Cabreiro recusa comentar a alegada falta de recursos humanos e tecnológicos na unidade que dirige mas garante que "esta criminalidade é cada vez mais complexa com novas questões associadas aos meios de pagamento, ao malware, a valores bancários".

Novas ameaças e tendências

Nas subidas de participações por crime informático destaca-se o crime de acesso ilegítimo ou indevido (+21%), a devassa por meio informático (+16%), a falsidade informática (+16%) e a sabotagem informática (+27%) (ver infografia).

O RASI prevê que no futuro venha a aumentar a anonimidade na navegação e cifragem de dados "com a correspondente insuficiência do Estado para a decifragem, afetando a prevenção e a recolha de informação e de prova". Mais um motivo para o reforço de especialistas na unidade do crime informático.

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, prevê-se também que venha a aumentar o branqueamento de capitais com recurso a moedas, contas bancárias e cartões virtuais. Outros crimes com previsões de aumento nesta área são o APT (advanced persistent threat ou ameaças cibernéticas como a espionagem via internet); a interligação de botnets (grupo de computadores em rede que lançam bots ou programas com ameaças informáticas a servidores específicos) e malware ou vírus bancário); os acessos ilegítimos a dados sobre alvos predifinidos e as campanhas de extorsão com base em programas maliciosos (ransomware e sextorsion ou extorsão sexual)

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