Frugal na comida e generoso nos abraços. O reitor despiu a toga

Sampaio da Nóvoa apresentou-se como cidadão-candidato e ganhou capital próprio. O seu currículo é de um vida na educação
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Os discursos acabavam, davam lugar ao jantar e logo depois António iniciava a sua ronda pelas mesas, uma a uma, um noivo sem noiva que agradecia a presença de cada um de sorriso posto e um "muito bem" como senha e contrassenha para saudação e despedida aos apoiantes.

António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa, 61 anos, minhoto de Valença, onde nasceu a 12 de dezembro de 1954, é frugal na comida, não nos abraços e nos beijos. Foi assim na estrada, nos contactos nas ruas, feiras e mercados. O académico despiu a toga pesada do reitor que foi na Universidade de Lisboa, arejou a poesia do discurso e mostrou-se generoso no contacto com quem lhe saiu ao caminho.

Nóvoa, ou Sampaio, como mais a norte muitos o chamavam, fechou a sua campanha na Aula Magna da Reitoria que dirigiu. Foi aí que pela uma segunda vez o país político achou que estava perante alguém que podia dar cartas na política.

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Nesse dia de maio de 2013, Sampaio da Nóvoa defendeu a unidade das esquerdas, que afinal falharia na hora da sua candidatura. Quase um ano antes, a 10 de junho de 2012, no discurso do Dia de Portugal, houve quem despertasse com o seu discurso.

"Habemus candidatum", escreveu então a socialista Ana Gomes no seu blogue. "Se ele quiser, naturalmente", acrescentou a eurodeputada, imaginando que a pudessem acompanha "vultos ilustres do país, como Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio". Acertou em tudo, até em Maria de Belém como adversária do PS que a eurodeputada também lançou.

Do seu futuro, Nóvoa rejeitou falar sempre. Estava focado na campanha, argumentava perante os jornalistas, e na segunda volta que se foi plantando no seu discurso. O "cidadão-presidente", como se apresentou na reta final da campanha, é hoje mais do que isso: de desconhecido, como lhe apontavam o país do comentário e os seus adversários, capitalizou apoios transversais à esquerda (apesar de o BE e de o PCP apresentarem candidatos próprios e de o PS dar liberdade de voto), trouxe gente que há muito andava arredada e colou muitas vezes o seu discurso ao do PS de António Costa. O "novo tempo" de Nóvoa é igual ao "tempo novo" de Costa e a descrição do país destes quatro anos seguiu de perto a leitura socialista.

O professor catedrático e antigo reitor da Universidade de Lisboa ganhou capital próprio, mas que (avisa a história recente) se pode esboroar em dois tempos - como aconteceu com Manuel Alegre na sua primeira corrida a Belém, ou com Fernando Nobre, que logo se apresentou como candidato do PSD - se não souber resistir aos encantos dos partidos. Ele que fez da sua condição de "cidadão" uma mais-valia na campanha, sem nunca hostilizar os partidos, contou com o significativo apoio do PS no terreno (de autarcas à direção de Costa).

Nóvoa nasceu no Minho, fez a escola primária em Caminha, passava férias na Póvoa de Varzim, de onde o pai Alberto, juiz e que foi ministro da República, é natural. Aos 10 anos, a família instalou-se nos arredores de Lisboa, em Oeiras, onde vive hoje Nóvoa. Nos entretantos, viveu em Coimbra (jogou futebol na Académica), regressou a Lisboa, onde faz o curso de Teatro, esteve quatro anos em Aveiro, no Magistério Primário, e vive na Suíça, onde completou o curso de Ciências da Educação, reconhecido pela Universidade de Aveiro.

Trabalhou com Jorge Sampaio na Casa Civil de Belém, fez doutoramentos no estrangeiro e chegou a vice-reitor da Universidade de Lisboa, em 2002. Sobe a reitor em 2006 e promoveu a fusão das duas universidades, a Clássica e a Técnica. Mas nesta campanha houve quem questionasse o currículo. Em maio de 2013 disse na Aula Magna que "um encontro pode decidir uma vida". A sua ficou traçada, uma vez mais, ontem.

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