"Operacionalidade" das Forças Armadas "está em causa"
O ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea José Araújo Pinheiro defendeu hoje que os problemas no recrutamento atingiram uma gravidade tal que põem em causa "a operacionalidade de setores das Forças Armadas".
"O problema do recrutamento militar já não é novo, estamos confrontados com ele há muitos anos, o que julgo que é de hoje é a gravidade, a ponto de pôr em causa, di-lo-ei de forma fria, a operacionalidade de setores das Forças Armadas", defendeu o general José Araújo Pinheiro.
O antigo chefe do Estado-Maior da Força Aérea entre 2011 e 2016 falava na Assembleia da República durante uma conferência sobre recrutamento militar, promovida pela comissão parlamentar de Defesa, na qual pediu "empenho político" para haver "tranquilidade" nos processos de recrutamento.
"Julgo que não há dúvida de que o controlo das despesas é fundamental, mas nos processos que têm uma continuidade, em que as relações entre candidatos, o 'passa-palavra', é fundamental, este tipo de incerteza, este tipo de cortes, de quebras de cadeia, acabam por ter influência negativa", acrescentou.
Por outro lado, José Araújo Pinheiro apontou que os efetivos existentes acabam por ser sobrecarregados o que, "no 'passa-palavra'", "desmotiva algumas especialidades, mais sacrificadas, porque o seu tempo operacional é contínuo".
O general recordou que o conjunto de incentivos ao serviço militar voluntário criados com o fim do serviço militar obrigatório foram sendo reduzidos "seja por diplomas legais sucessivos, seja por disposições dos vários orçamentos do Estado".
No mesmo painel, interveio o antigo chefe de Estado-Maior da Armada almirante Fernando Melo Gomes, que defendeu que o modelo de recrutamento militar criado em 1999 tornou-se ineficaz a partir de 2012 sobretudo "devido ao encerramento dos centros de recrutamento e de parte dos gabinetes de divulgação, e à aleatoriedade das incorporações, que afastaram ainda mais as Forças Armadas da sociedade".
"Atualmente, e isto poderá variar de ramo para ramo, serão capazes de operar sustentadamente e bem em operações de baixa intensidade, mas não o poderão fazer em graus superiores da conflitualidade", argumentou.
"A preparação apressada, o treino inadequado, afeto a um sentido de dever por parte do pessoal, potenciam riscos a título individual ou da unidade, devido à ineficaz utilização dos equipamentos e sistema de armas, e devem ser, é imperativo que sejam, motivo de grande preocupação por parte do poder político, como já o são, embora discretamente publicitado, por parte das chefias militares", defendeu.