Estudo de esforço nos Comandos à espera das causas das mortes

Investigadores da Universidade do Porto precisam de conhecer as razões que levaram ao internamento de outros nove instruendos.
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Nenhum dos nove instruendos dos Comandos que receberam tratamento hospitalar ou os dois que faleceram estavam a ser monitorizados pelos investigadores da Universidade do Porto que estudam os efeitos do esforço físico e psicológico nessas tropas especiais.

O responsável do projeto, professor Mário Vaz, adiantou no entanto ao DN que esse facto não afeta a investigação porque todos os 67 militares do curso "foram sujeitos à mesma carga de treino e de tempos de descanso".

O académico do Laboratório de Biomecânica da Universidade do Porto, que iniciou o projeto de investigação com o Exército há cerca de três anos, escusou-se a precisar quantos dos instruendos estavam a ser objeto de monitorização em permanência.

De acordo com fontes militares, o universo da amostra era pequeno mas não fixo - leia-se, durante as 12 semanas do curso todos iriam usar os equipamentos de recolha dos dados relativos às frequências cardíaca e respiratória ou à temperatura interna do corpo - a chamada "temperatura core", precisou Mário Vaz.

Para este especialista, essa "temperatura core" parece ser "o indicador de esforço que permite saber se um militar está ou não muito perto do seu limite" físico, sendo os dados recolhidos através da ingestão de "uma pastilha" - que é um termómetro - com um emissor incorporado que os transmite para o colete vestido pelos participantes.

Recorde-se que o 127º curso de Comandos iniciou-se a 3 de setembro, com 67 militares voluntários do Exército. A acompanhá-los estava um capitão médico do ramo, com formação específica em trauma e emergência pré-hospitalar que trabalha com o INEM desde 2011 e especificamente nas viaturas médicas de Emergência e Reanimação (VMER).

Acresce que o referido médico, que tem estado a ser ouvido no âmbito dos inquéritos em curso por parte do Ministério Público e da Polícia Judiciária Militar, presta serviço nas urgências do Hospital das Forças Armadas - e em São José, segundo uma das fontes - e dá formação em suporte básico de vida aos militares que integram as Forças Nacionais Destacadas no exterior.

Um dia depois do início do curso, um domingo em que se faziam sentir temperaturas na casa dos 40º centígrados e se iniciaram os exercícios a sério no Campo de Tiro de Alcochete, morreu um furriel e outro instruendo foi transferido para o Hospital do Barreiro - o qual viria a morrer este sábado no Hospital Curry Cabral por falência hepática.

Nos primeiros dias da semana passada foram internados outros nove militares, o que levou o Exército a suspender temporariamente o curso até à realização de novos exames clínicos para avaliar o estado de saúde dos instruendos e perceber quais os que têm condições de continuar.

Fonte oficial do Exército disse ao DN que esses instruendos continuam "em casa" a aguardar os resultados dos exames extraordinários efetuados no Centro de Saúde Militar de Coimbra - admitindo-se que alguns dos que apresentavam problemas ortopédicos possam não ter condições para prosseguir.

Relativamente a esses exames adicionais, Mário Vaz indicou terem sido pedidas análises específicas de "novos marcadores" - sobre os níveis de creatina quinase ou índice CK, envolvida na avaliação da rabdomiólise (registada nas referidas mortes dos dois militares, ou da proteína HSP70, associada ao chamado "choque térmico", precisou o académico.

Note-se que as provas médicas de classificação e seleção para o curso de Comandos - bem como para os de paraquedistas e de operações especiais - envolvem análises sanguíneas, avaliações músculo-esqueléticas e oftalmológicas, de otorrinolaringologia e aos dentes, eletrocardiogramas em repouso e em esforço ou radiografias ao tórax, entre outros exames.

Exames prévios, exigidos para admissão ao Exército, incluem ainda provas sensoriais e despiste de drogas de abuso, informou o ramo.

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