Draghi acalma mercados e dá uma ajuda ao Orçamento de António Costa
Mário Draghi voltou ontem a surpreender os mercados pela positiva, ao declarar que o Banco Central Europeu (BCE) está preparado para lançar nova ronda de estímulos monetários em março. Em Portugal, a consequência imediata dessas declarações foi uma quebra nos juros da dívida pública a 10 anos. E são uma boa notícia para a execução do Orçamento para 2016, entregue pelo governo do PS no Parlamento.
Seis semanas após o pacote de estímulos do BCE ter dececionado os investidores por ser menor do que o esperado, as declarações de ontem fizeram subir as bolsas financeiras e os preços das ações na Europa e nos EUA, após grandes perdas desde o início do ano. O euro também caiu face ao dólar.
O banco central tem "o poder, a vontade, a determinação para agir e [beneficia do] facto de que não há limites" à sua ação para fazer subir a inflação até próximo dos 2%, declarou Draghi, ouvido na Comissão de Assuntos Económicos e Financeiros do Parlamento Europeu (PE).
Após superarem quinta-feira os 4,5%, pela primeira vez desde março de 2014, os juros em Portugal regressam agora aos 3,5% após as declarações de Draghi - as quais levaram ao alívio das yields de todos os países do euro.
Para o deputado João Galamba (PS), as afirmações de Draghi dão razão aos que dizem que a forma de ultrapassar a estagnação na UE "é abandonar definitivamente as políticas obcecadas com o défice". O governo de António Costa "dá um passo nesse sentido" ao apresentar uma "política orçamental mais expansionista", embora "com restrições" de Bruxelas, adiantou.
Duarte Pacheco, coordenador do PSD na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, enalteceu a "grande sensibilidade com a economia" que Mário Draghi tem mostrado, ao tomar sucessivas "medidas no sentido de estabilizar a situação económica" da UE "e permitir que haja um melhor crescimento económico". Isso "não é suficiente, mas a sua ação é relevante e por isso são de saudar todas as [suas] intervenções".
O social-democrata rejeitou, contudo, que a disponibilidade de Mário Draghi em injetar mais liquidez nos mercados seja vista como validando a proposta orçamental de Costa. "A injeção que ele pretende é na lógica de fazer que os juros genericamente baixem, pois permite um maior acesso ao investimento dos empresários e do Estado. Daí a dizer que é para os Estados gastarem mais vai um grande passo [pois] tem consciência do peso que a elevada dívida pública tem em Portugal", frisou ao DN.
João Paulo Correia, coordenador do PS na mesma comissão, lembrou que foi "a política [do BCE] de injetar dinheiro nos mercados que permitiu restituir confiança nos mercados e nos investidores" há vários meses, fazendo descer os juros da dívida pública dos países periféricos da UE - como Mário Draghi voltou ontem a conseguir.