Costa promove o sereno Guterres junto de 50 líderes mundiais
É difícil, mas António Costa não desiste de carregar o máximo que conseguir António Costa até secretário-geral da ONU. Além da questão dos refugiados - onde Portugal é visto como um bom exemplo - o primeiro-ministro português vai aproveitar a primeira cimeira humanitária (que começa hoje em Istambul, na Turquia) para ter encontros bilaterais com chefes de Estado e governo de outros países.
Não foram revelados os interlocutores de Costa, mas estão confirmados 50 líderes mundiais na cimeira e - estando muitos europeus já convencidos da opção Guterres - o primeiro-ministro deve optar por convencer outras geografias.
Começa então o enamoramento ao mundo. Desde logo, Costa leva Guterres na comitiva, dando-lhe palco. Faz sentido: a crise de refugiados é tema central e Guterres, enquanto ex-Alto Comissário da ONU para esta área destacou-se ao longo de mais de 10 anos. Costa sabe que nunca é demais lembrá-lo, na estratégia de promover a candidatura do português.
As qualidades de negociador de Costa vão vir ao de cima na cimeira. O ex-ministro e sucessor de António Costa no governo de Sócrates, Rui Pereira, lembra que "António Guterres e o PS pertencem a uma grande família política europeia muito forte, que é a dos partidos sociais democratas." E, por isso, acrescenta, "António Costa saberá desenvolver contactos tanto a este nível, como também, certamente, com os seus congéneres do Partido Democrata dos Estados Unidos."
Rui Pereira diz que "sendo certo que não é uma eleição fácil, a verdade é que, à nossa escala, temos conseguido nos últimos anos ocupar postos internacionais de alto nível: desde o próprio António Guterres, no Alto Comissariado para ps Refugiados da ONU, Durão Barroso, como presidente da Comissão Europeia e Freitas do Amaral, como presidente da Assembleia Geral da ONU." E remata: "Não é só no futebol, com Mourinho e Ronaldo, que Portugal se destaca!"
Tempo para afinarem a estratégia para a cimeira não faltou. Ainda ontem -a par do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, outro grande impulsionador da candidatura de Guterres -Costa acompanhou o ex-primeiro ministro na cerimónia em que recebeu o doutoramento honoris causa da Universidade de Coimbra.
Após ter recebido a distinção, António Guterres lembrou que a situação é "complexa", mas que pretende fazer valer os seus pontos de vista, aguardando "serenamente" a decisão dos Estados-membros.
"Estou muito tranquilo, fazendo naturalmente o possível para fazer valer os meus pontos de vista, mas aguardando serenamente as decisões da comunidade internacional", disse o ex-primeiro-ministro
Até agora, Guterres tem tido "expressões de grande simpatia e encorajamento", como não teve ainda "nenhuma reação negativa" à sua candidatura à liderança da ONU, notou.
Guterres admitiu as dificuldades, lembrando que "há muitas diferenças de opinião em várias zonas do mundo, sobre se devemos ter um secretário-geral homem ou mulher, se deve ou não ser da Europa de Leste".
O Presidente da República também se desfez em elogios a Guterres, que definiu como "a figura mais brilhante" da sua geração, acrescentando que foi "porventura, o primeiro-ministro mais amado de Portugal".
Marcelo tem feito o que pode e em setembro também fará a sua parte quando for a Nova Iorque à sede da ONU.
Agora é a vez de Costa, que deve ter as reuniõe bilaterais na terça, já que hoje fará um discurso ao início da tarde, onde deverá reiterar a disponibilidade de Portugal para acolher um número de refugiados acima da quota definida no quadro da União Europeia (10500 pessoas: 4974 por via da UE e 5500 em resultado de ofertas bilaterais).