Costa na Índia em 2017, Angola e Brasil são ainda incógnitas
No dia em que tomou posse como primeiro-ministro, 26 de novembro de 2015, António Costa recebeu um convite oficial para visitar oficialmente a Índia. O convite está aceite e a visita em preparação. Ocorrerá garantidamente em 2017, provavelmente em janeiro.
Não ocorreu por acaso a celeridade do convite indiano. António Costa tem, pelo lado do pai, ascendência goesa (ver texto nestas páginas). E a Índia valoriza muito, assumidamente, a sua "diáspora" de líderes políticos internacionais.
Quando Costa se tornou primeiro-ministro, o The Times of India assinalou o facto com uma notícia intitulada "Viva Costa, Goa"s man in Portugal" (Viva Costa, o homem de Goa em Portugal). No texto lia-se, por exemplo, que a "ascensão de Costa à liderança do Partido Socialista, e agora a primeiro--ministro, tem sido um caso de estudo por ter sido assente numa estratégia metódica, meticulosa e reveladora de uma extraordinária frieza de espírito". "Essa sua qualidade da suprema calma - uma das mais famosas características dos goeses - será muito valiosa para ele no futuro turbilhão de desafios."
A visita à Índia está em acertos - não se sabe, por exemplo, se Costa levará ou não consigo uma vasta comitiva de empresários, como Cavaco Silva fez em 2007 (ver texto nestas páginas) -, mas parece mais concreta nos seus contornos gerais do que outras, também planeadas, a outros antigos territórios do império colonial português.
Sobre a anunciada visita a Angola não existe nenhuma informação oficial. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, já esteve em Luanda, em abril, e nessa altura disse à Rádio Nacional de Angola que o governo português está a "investir muito" na deslocação do primeiro-ministro. "Estamos a investir muito, do nosso lado, no conteúdo dessa visita. Até porque, no plano económico, há vários assuntos a tratar entre os dois países", disse Augusto Santos Silva.
A possibilidade da visita foi anunciada em Lisboa, a 17 de março, pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, que também falou na possibilidade de o Presidente da Repú- blica, Marcelo Rebelo de Sousa, se deslocar a Angola. "Sei que houve contactos entre Luanda e Lisboa e teremos, provavelmente nos próximos tempos, a visita do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal a Angola. Caberá agora aos nossos dois ministérios trabalhar para que consigamos encontrar as datas", contou o governante angolano.
Só que, dias depois, Marcelo Rebelo de Sousa fazia saber, através de fontes de Belém, que Angola não estava nas suas prioridades.
Por estes dias tem estado reunido em Luanda o VII congresso ordinário do MPLA (mais noticiário na página 13) e o PS valorizou o evento ao mais alto nível enviando para a capital angolana o presidente e líder parlamentar do partido.
Carlos César discursou ontem aos congressistas e reconheceu que, nas relações económicas entre os dois países, há "dificuldades" que resultam de "fatores internacionais de mercado". Defendeu, por isso, a necessidade de "concertar esforços para relançar políticas de reforço das nossas economias aprofundando as suas complementaridades na procura de benefícios comuns". "Esse é - disse - o objetivo em que o governo português recentemente empossado está sinceramente empenhado com Angola."
Segundo Carlos César, "a relação económica entre Angola e Portugal viveu um período enorme de crescimento, também fruto do fortalecimento das relações políticas e diplomáticas que tiveram especial impulso na última década". Foi algo que resultou, no seu entender, não só de muitas empresas portuguesas terem escolhido Angola para operarem como também das "empresas angolanas que investem no nosso país, que fomentam o emprego, o crescimento da economia e o desenvolvimento de Portugal".
Entre elogios ao Presidente de Angola e do MPLA, José Eduardo dos Santos - "uma figura referencial da história angolana e da emancipação africana" -, César falou também da necessidade de o seu partido e o angolano reforçarem relações: "O MPLA e o PS têm trilhado um caminho comum, um continuado diálogo político e uma colaboração concreta em áreas de interesse mútuo, incluindo no âmbito da nossa família política no seio da Internacional Socialista. Estou convencido de que esse caminho de proximidade será cada vez mais produtivo e a nossa presença neste congresso e a nossa saudação neste congresso é justamente para aqui testemunhar a garantia desse caminho novo de proximidade, de afetividade, de colaboração e de luta comum."
A agenda angolana de Costa ainda está por definir, bem como a brasileira. O primeiro-ministro tenciona deslocar-se oficialmente a Brasília - juntamente com o PR - para a cimeira da CPLP. Só que a instabilidade política no Brasil já provocou pelo menos um adiamento na cimeira, de julho passado para novembro. Mas mesmo esta data está por confirmar.