Aumentos na função pública podem pôr em causa a recuperação de outros direitos?

António Costa não fecha a porta à atualização das remunerações, mas o Programa de Estabilidade não as prevê. Sindicatos vão aproveitar 1.º de Maio para pressionar. Funcionários explicam a sua posição ao DN
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Isabel do Carmo, médica endocrinologista e uma das maiores especialistas portuguesas em obesidade

"Durante um período de dois anos, entre 2016 e 2017, alguns direitos que tinham sido perdidos durante a crise financeira, nomeadamente em relação aos pensionistas, foram recuperados. Na minha opinião, é compatível aumentar os funcionários públicos e elevar o orçamento em setores como o da Saúde, para que alguns aspetos sejam repostos. Na função pública, a área da Saúde é a que está mais em causa. O problema nesta área não se prende tanto com os funcionários mas sim com a questão dos equipamentos. Durante quatro anos, edifícios e equipamentos desgastaram-se sem as devidas manutenções. Apesar de ser necessário maximizar o uso, os equipamentos devem ser alvo de trabalhos de manutenção com frequência."

Eurico Reis, juiz desembargador

O juiz desembargador Eurico Reis não vê problemas na subida dos ordenados da função pública. "Antes pelo contrário", defende o magistrado, que lembra que os aumentos salariais dos juízes são indexados aos dos funcionários do Estado, que viram os seus rendimentos muito "comprimidos" nos últimos anos, enquanto se registavam outros aumentos. "Ora, quanto mais os trabalhadores estiverem preocupados com as suas questões pessoais - por exemplo, se não tiver dinheiro para ter alguém a cuidar dos pais, para pôr os filhos numa creche -, menos estarão disponíveis para o serviço à comunidade, que é a sua função". Para Eurico Reis, o que está em causa é a qualidade dos serviços. "Até porque há um limite para o sofrimento".

Helena Freitas, coordenadora do Centro de investigação de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra

"Penso que faz muito sentido que se pondere a possibilidade de haver aumentos na função pública. A maior parte dos investigadores são professores das universidades que têm sentido alguma desmotivação por não ter havido aumento de salários nem progressões nas carreiras nos últimos anos. Há uma grande desproporção em relação aos nossos colegas de outros países europeus. E não creio que isso ponha em causa outras situações, como as progressões nas carreiras. A última recuperação de rendimentos, por exemplo, não pôs nada em causa e até criou uma clima mais positivo e favorável. Estas coisas têm é de ser discutidas de forma transparente. Sei que é difícil, porque não é essa a nossa tradição, mas essa discussão deve ser feita."

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