Um antigo funcionário de uma repartição de Finanças de Lisboa, que começou esta quarta-feira a ser julgado por corrupção, assumiu ter recebido 5.000 euros do realizador Joaquim Leitão para resolver processos de dívidas e da carreira contributiva do cineasta..O arguido disse ao coletivo de juízes que conheceu o realizador de cinema em 2004/2005, quando Joaquim Leitão se dirigiu à repartição de Finanças onde trabalhava, com "liquidações oficiosas de 60/70.000 euros", acrescentando que o realizador de cinema "propôs" que ambos se encontrassem junto da casa do também ator, com quem trocou número de telemóvel..Pedro Afonso explicou ao tribunal que, nesse encontro, sugeriu a Joaquim Leitão, profissional que "admirava", nomes de Técnicos de Oficial de Contas, nomeadamente o do seu pai, para o ajudar a resolver a sua situação tributária e fiscal..Segundo o despacho de pronúncia, que remete para a acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, entre 2004 e 2011, "Joaquim Leitão entregou ao arguido Pedro Afonso a quantia de cerca de 20.000 euros, a título de contrapartida dos serviços por este prestados na resolução das suas questões fiscais e da carreira contributiva"..Parte deste valor, segundo a pronúncia, foi "encaminhado" para a arguida Virgínia Freitas, também funcionária na mesma repartição de Finanças, "para pagamento dos seus préstimos na resolução das questões fiscais e fornecimento de informações".."Após 08 de março de 2010, data da sua exoneração das funções públicas, o arguido Pedro Afonso recorreu à arguida Virgínia Freitas para obter as informações que pretendia para resolução das questões tributárias e fiscais dos seus clientes, na maioria dos casos, contribuintes que conheceu aquando do exercício das suas funções nas finanças", conta a pronúncia..Em dezembro de 2008, o arguido Pedro Afonso depositou na conta bancária da arguida Virgínia Freitas um cheque de 1.250 euros e, em dezembro de 2011, entregou-lhe um cheque de 1.000 euros, ambos emitidos por Joaquim Leitão Rodrigues..Hoje, em julgamento, o arguido confirmou as duas situações, mas justificou a entrega do dinheiro à arguida como sendo "pagamento" de empréstimos que a antiga colega lhe havia concedido para "investimentos na bolsa"..O despacho de pronúncia sustenta que, em 2005, o arguido "tratou da regularização junto da administração fiscal da não entrega de oito declarações de rendimento de Joaquim Leitão, mediante contrapartida de 5.000 euros"..Pedro Afonso confirmou ao coletivo de juízes a regularização das declarações, mas negou ter recebido os 5.000 euros, acrescentando que este valor serviu para pagar a regularização das respetivas declarações..A pronúncia refere ainda que Pedro Afonso pediu, em 2011, à arguida Virgínia Freitas, que consultasse o grau de deficiência da mãe de Joaquim Leitão e verificasse a "informação acerca dos rendimentos" do realizador, entre 2007 e 2010..Pedro Afonso terá pedido também informações de um prédio, na freguesia dos Anjos, em Lisboa, que pertencia a Joaquim Leitão, que havia sido penhorado no âmbito de um processo de execução fiscal. O arguido disse que tentou evitar ou atrasar a venda do imóvel, mas que tal não foi possível..O ex-funcionário das Finanças assumiu ter pedido essas informações, admitindo que essa atitude não foi a mais correta..Três funcionários de uma repartição de finanças de Lisboa começaram hoje a ser julgados por corrupção, por passarem informações confidenciais a outros oito arguidos no processo, a troco de 1,4 milhões de euros..À data dos factos, a acusação sustenta que dois advogados, um engenheiro, dois técnicos oficiais de contas, um comercial, um gráfico e uma colaboradora de um banco, no âmbito das respetivas funções, obtinham, através dos três funcionários de uma repartição de finanças de Lisboa, elementos pessoais, patrimoniais, bancários e fiscais, a troco de dinheiro.."No essencial ficou suficientemente indiciado que os arguidos com ligação à Autoridade Tributária forneciam aos demais arguidos, a troco de dinheiro, informação sigilosa a que acediam através das bases de dados tributárias, faziam constar de documentos oficiais dados que não eram verdadeiros", sustenta a acusação.