Aprenderam a reciclar na escola. Tratam o ambiente por tu
São jovens, ambientalistas, ativistas de maneiras diversas e o que fazem nas suas profissões também é indissociável dessa forma de estar que assenta na preservação da biodiversidade, no consumo e na mobilidade sustentáveis para o equilíbrio do planeta. O futuro veem-no ensombrado, mas sem dramas. São as alterações climáticas, "um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou"; é a poluição marinha pelo plástico, que entrou em roda livre e está a sufocar os oceanos e a sua biodiversidade; é o crescimento exponencial da população e o consumo insustentável dos recursos comuns. Problemas imensos, cujas soluções são complexas. Mas eles não baixam os braços: fazem a sua parte e acreditam que um dos segredos está em passar palavra e trabalhar para a comunidade. "Se as pessoas estiverem informadas e sensibilizadas para os problemas, podem fazer muito mais", dizem. Afinal, foi por aí que começaram. Eles são a geração que recebeu o testemunho da reciclagem no jardim-de-infância e começou a praticá-la ainda de bibe. São a geração que levou para casa essa atitude e contagiou os pais. Hoje, para eles, essa é uma maneira de estar normal: é a sua. O DN foi conhecer quatro destes jovens. Eis as suas histórias, as suas preocupações e lutas.
Carlos Silva, 24 anos, biólogo e dirigente da Quercus
Em miúdo, a sua brincadeira preferida era explorar o bosque junto à sua casa, na aldeia da Carrasqueira, na região de Torres Vedras. "Procurava fósseis e tentava avistar os animais selvagens que havia naquela zona", lembra. Viu cobras e lagartos, anfíbios vários, muitos pássaros e águias a cruzar os céus. Ao contrário dos miúdos da cidade, cresceu num ambiente campestre, no meio da natureza, e afeiçoou-se a ela. "Sempre soube que queria fazer qualquer coisa nessa área", diz. Concluído o 12.º ano, a pensar nas possibilidades de emprego, ainda hesitou, mas a Biologia acabou por levar a melhor. "Foi a escolha certa", garante o jovem biólogo que, aos 24 anos, coordena em Campelo, Figueiró dos Vinhos, um projeto da Quercus de conservação de peixes de água doce para vários rios do país, em parceria com o Aquário Vasco da Gama e o ISPA. "Fazemos a reprodução em tanques das espécies endémicas em perigo e depois repovoamos os rios", explica Carlos Silva. Além deste trabalho como técnico, é também voluntário e dirigente da associação ambientalista, no núcleo de Lisboa, num percurso que acabou por lhe ser natural. "Quando fui estudar para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa percebi que não bastava trabalhar para as notas e que precisava de ser proativo e de me envolver em atividades ligadas à conservação da natureza." Foi o que fez, como voluntário, num centro de recuperação de animais selvagens da Quercus, em Montejunto. Fez um pouco de tudo: a receção dos animais que chegavam feridos, a preparação da sua alimentação, a manutenção do biotério. "Gostei imenso e fez-me perceber que queria trabalhar em conservação da natureza." No final do curso, teve a oportunidade de fazer um estágio na Quercus e depois acabou por ser contratado para o projeto das espécies de água doce. A par disso manteve a sua atividade de voluntário, dando palestras nas escolas, e já neste ano passou a integrar também a direção do núcleo de Lisboa da associação ambientalista. É a sua maneira de estar. "A biologia ajuda-me a perceber os problemas das espécies e a intervir, e como dirigente procuro passar a mensagem, porque só estando conscientes dos problemas as pessoas podem participar e ajudar a resolvê-los", diz.
O que mais o preocupa para o futuro em termos de ambiente é um misto de problemas, que vão do crescimento exponencial da população mundial, com um consumo dos recursos, até à poluição dos oceanos pelo plástico. No país, considera que é a poluição dos rios a preocupação maior. Soluções? "Passam necessariamente por mais consciencialização, pela mudança de hábitos no consumo, por exemplo, e por uma participação maior de cada um de nós." Ele, não tem dúvidas, faz a sua parte.
Carolina Ribeiro, 20 anos, voluntária na Coopérnico
Foi "a onda de documentários sobre a produção da carne" - que coincidiu com a sua vinda, das Caldas da Rainha, para Lisboa para estudar Gestão na Universidade Nova, há três anos - que a fez mudar para "uma alimentação sustentável, porque estando por minha conta já podia ter essa autonomia", conta Carolina Ribeiro. Depois percebeu que podia fazer mais e, estando a estudar Gestão, pensou juntar o útil ao agradável. "Procurei projetos sustentáveis e encontrei a Coopérnico, cooperativa que produz energia solar e faz a gestão de cada projeto, desde o financiamento à sua concretização. Interessou-me, para juntar a parte ambiental à Gestão, e propus-me fazer voluntariado." Foi aceite. A par do curso, a sua rotina passa agora também por ajudar na contabilidade e no marketing da Coopérnico, ou nos contactos com os cooperantes. E nas Caldas da Rainha, depois dos fogos do verão, criou também com os amigos do secundário uma associação informal, a que deram o nome de Floresta Rainha, e vão às escolas da zona falar sobre a importância da floresta, da sua limpeza e dos problemas do ambiente em geral e da sustentabilidade. "Mas não são palestras chatas, nós ainda falamos a linguagem deles e fazemos as coisas de forma muito interativa, queremos que os alunos participem." A poluição dos oceanos pelo plástico é um dos temas que gostam de abordar. "Depois falamos de soluções, das alternativas ao plástico em objetivos do dia-a-dia, como as escovas de dentes de bambu, ou a possibilidade de comprar produtos não embalados, para diminuir o uso do plástico". Além desta intervenção nas escolas, o grupo da Floresta Rainha tenciona também promover ações de limpeza do lixo acumulado nas matas da região. "Não é só pela limpeza, é também para chamar a atenção. Da próxima, as pessoas pensam duas vezes antes de despejar o lixo no ambiente." Para Carolina, um dos maiores problemas para o futuro é a acumulação de plásticos no mar, algo que só o consumo sustentável e a educação ambiental podem ajudar a travar.
João Sargedas, 26 anos, ativista na associação Zero
Reciclar ficou-lhe da escola, "logo a partir do primeiro ciclo". É daí, diz João Sargedas, que vêm as suas convicções ambientalistas que, naturalmente, acabou por levar para casa. Depois, o facto de ter família em Sesimbra abriu-lhe portas a muitas caminhadas no meio da natureza, na serra da Arrábida, e quando chegou o momento de escolher o curso - "sempre gostei muito de matemática, por influência do meu irmão, que é físico de partículas", conta - decidiu juntar tudo. "Decidi-me pela Engenharia do Ambiente, que fiz na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa." Logo aí, no 2.º ano, participou nas jornadas tecnológicas do ambiente promovidas pelos alunos do curso, "com workshops, palestras e conferências sobre vários temas, para chamar a atenção da comunidade académica para estes problemas e para as possíveis soluções". A par disso tornou-se voluntário da Quercus e mais tarde, quando a Zero foi criada, há dois anos, foi um dos fundadores, mantendo-se hoje como ativista voluntário, a par da sua atividade profissional, que é igualmente na área do ambiente, na TAP. Na Zero, faz o acompanhamento das políticas de energia e das alterações climáticas, integrando, como representante da Zero, um grupo de trabalho internacional para a ação climática e a avaliação das políticas europeias do carbono. A ideia é ajudar a influenciar as políticas da Europa no combate às alterações climáticas. De resto, considera "que este é o maior desafio ambiental para este século, sobretudo porque a partir de um dado ponto elas "já não podem ser revertidas". E Portugal, diz, a par de outros problemas, como a poluição dos rios, é um dos pontos do mundo onde essas alterações climáticas mais se vão sentir. Soluções? "O ponto mais importante é a educação ambiental com informação séria e rigorosa", defende. "Quanto mais as pessoas estiverem informadas, mais fácil é criar o momento social e político para pressionar os decisores para as políticas ambientais". É por isso que luta.
Pedro Sequeira, 30 anos, voluntário na Climáximo
Foi por causa da bicicleta que Pedro Sequeira chegou às questões ambientais. Em Grândola, onde viveu até ir para Lisboa estudar, no Instituto Superior Técnico, era assim que andava sempre de um lado para o outro. Mas a Lisboa de 2007 era muito diferente do que é hoje, nesse ponto - havia poucas ciclovias e os ciclistas eram meia dúzia. "Durante um ano andei de metro, mas depois decidi voltar à bicicleta e lembro-me de que um colega do Técnico me disse, na altura, "dou-te uma semana". Aquilo ainda me fez teimar mais", diz. Até hoje, não só não largou a bicicleta como aderiu à MUBi, uma associação que promove a utilização da bicicleta como transporte suave e que acompanha as políticas nesta área, fazendo propostas para melhorar a circulação nas cidades. Isso deu-lhe um outro olhar sobre as coisas. "A mobilidade é uma questão essencial em termos ambientais e a bicicleta ajuda a reduzir a poluição na cidade e promove a vida saudável, mas também contribui para reduzir as emissões que causam as alterações climáticas, a maior preocupação ambiental para o futuro." Daí a um estilo de vida mais sustentável, procurando evitar os desperdícios e de preferência sem plástico associado, foi um passo. A sua participação na Climáximo, associação que se bate pela criação de empregos verdes ligados às energias renováveis e pelo fim dos combustíveis fósseis - participaram na organização do protesto do último fim de semana contra o furo que está planeado para Aljezur, no Algarve - foi o passo natural nesta sua caminhada. O ativismo também é em si mesmo uma motivação.