Alternativa no PSD: Passos dá espaço a Montenegro

Há uma avaliação quinzenal sobre se o líder do PSD deve ou não enfrentar Costa na AR. Em junho, Passos fez agenda à Marcelo
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Passos fez um junho à Marcelo. Foi ao Brasil, visitou associações, convidou a imprensa a ver o jogo de Portugal na São Caetano num total de 14 ações nos primeiros 18 dias do mês (ver caixa) em que falou quase sempre e sobre quase tudo. O líder do PSD intensificou as ações para não perder palco, mas, acreditam os politólogos, está a ganhar tempo para redefinir a estratégia. Entretanto é permissivo e até ajuda ao protagonismo cada vez mais crescente de Luís Montenegro.

O líder da oposição apareceu muito, abordou a atualidade, mas com critério. Falar no quinzenal deixou de ser regra. O DN apurou junto de fonte da direção nacional que "será feita a avaliação a cada 15 dias sobre quem fala no quinzenal". A 14 de junho, Passos voltou a passar a vez de confrontar Costa ao líder parlamentar Montenegro, como tinha feito duas vezes em abril, num quase "apagão" mediático pós-congresso.

Nos quinzenais, a ideia de Passos é resguardar-se, já que o modelo de debate com o primeiro-ministro favorece sempre o chefe de governo. Como explica o politólogo José Adelino Maltez: "Não conheço nenhum primeiro-ministro que não tenha ganho um quinzenal, até Cavaco Silva ganhava."

Fonte social-democrata diz que, além disso, "António Costa transforma os quinzenais num comício e Passos não tem de contribuir para isso". Adelino Maltez fala de um Costa que "já não está enferrujado", sendo inteligente que o líder do PSD se resguarde.

Também o politólogo Carlos Jalali admite que acaba por ser uma boa estratégia "fazer depender a intervenção no debate quinzenal" de aquela ser "uma oportunidade para brilhar ou não. Ou se o momento é favorável ou desfavorável ao governo".

José Adelino Maltez acredita que a estratégia de Passos é assente numa "paciência de chinês", de "esperar para ver", já que até ao final do verão há três assuntos importantes de esperar o desfecho para se definir uma estratégia: "o brexit, as eleições espanholas e os dados da economia nacional".

Tanto Jalali como Adelino Maltez acreditam que é difícil a Passos descolar da "estratégia de "nós é que ganhámos as eleições"" e que tenta manter a pose de Estado. "Aquilo da bandeirinha na lapela até virou piada", lembra Adelino Maltez. Para o politólogo o objetivo de Passos é resistir. Entretanto, o líder do PSD não se importa de delegar algumas intervenções em vice-presidentes e no líder parlamentar, Luís Montenegro, que se ganha cada vez mais estatuto. Mas será consentido. Fonte próxima da direção social-democrata explica que "as intervenções de Montenegro são combinadas com Passos, estão sempre ao telefone um com o outro e todo o protagonismo é consentido".

Montenegro cresce

O que é certo é que Montenegro cresce cada vez mais como uma alternativa de futuro a Passos Coelho. Dois ex-líderes do PSD já o destacaram. Marques Mendes considerou, num dos seus comentários de domingo, na SIC, "legítima a leitura" de que, ao fazer "elogios a Luís Montenegro e sobretudo ao desejar-lhe sucessos políticos ainda no decurso do mandato presidencial, o que Marcelo está fazer é incentivá-lo a candidatar-se um dia à liderança do PSD".

Marques Mendes explicou que "em política nada sucede por acaso e Luís Montenegro é um dos nomes mais falados para poder suceder a Passos". O ex-líder do PSD aproveitou também ele para puxar por Luís Montenegro, considerando "justos" os elogios a "um político com qualidade e credibilidade".

Marques Mendes diz que isto não significa que o Presidente vai "imiscuir-se na vida interna do PSD", é "mais um sentimento de gratidão porque Montenegro foi dos poucos dirigentes do PSD a apoiá-lo publicamente na última campanha presidencial".

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