"Acreditação é importante para que os cidadãos tenham mais confiança nos serviços"
Quantas unidades de saúde já estão certificadas em Portugal?
Nós temos 112 unidades já certificadas por nós e temos 254 em processo de certificação.
Num total de quantas?
Ora bem, estamos a falar de cuidados primários, de cuidados continuados, de hospitais no seu todo e de serviços hospitalares e de departamentos hospitalares. Portanto, não lhe sei dizer. O que sei é o seguinte, é que há um movimento crescente, o aumento nos últimos dois anos foi brutal, tem havido um grande boom nos pedidos de certificação e nós temos estado a dar resposta, tendo em atenção que estes processos demoram cerca de um ano e meio.
A certificação tem três níveis e todos positivos, certo?
Bom, ótimo e excelente.
Portanto, a unidade ou não é certificada ou a partir do momento em que é certificada começa no nível bom
Depende dos standards que são cumpridos. Para conseguir ser certificada tem de ter 100% dos standards obrigatórios que dão o nível bom cumpridos e tem de ter ainda uma percentagem do nível a seguir cumprido. Para ter ótimo tem de ter 100% dos standards obrigatórios para o nível bom e 100% dos standards para o nível ótimo. Nós já temos uma USF com o nível ótimo e que está neste momento a trabalhar ativamente para rapidamente atingir o nível excelente.
Qual é?
É a de Valongo. Devo dizer-lhe que não há nenhuma em Espanha ainda. Claro que o nível de excelência é muito exigente, requer a existência já de investigação, projetos de investigação em curso, de publicações científicas em revistas indexadas, portanto tem todos os outros standards que estão para baixo mais os standards que visam a investigação e a inovação, o que é de uma exigência já muito grande. Porque é que nós optámos pelo modelo ACSA [de Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucia]? Ora, não havia nada ou havia muito pouco em Portugal, nenhum país tem dinheiro para acreditar todo o parque de atividades público com sistemas comerciais. E portanto, nós aqui, só tínhamos uma opção: ou criávamos um modelo próprio como criou a França, como criou a Holanda
Que demora muito tempo....
Que demora muito - leva de quatro a seis anos -, ou tentávamos encontrar um modelo que nos fosse cedido que estivesse de acordo com a realidade da organização do sistema de saúde português. E pela pesquisa que fizemos o sistema que encontrámos que melhor respondia às nossas necessidades é o que é aplicado na Andaluzia. Isto implicou acordos políticos ao mais alto nível...
Com o Estado espanhol.
Sim, com o Estado espanhol. Estamos a melhorar o sistema em conjunto, portanto, o sistema hoje é partilhado, digamos assim, e nós, Direção-Geral da Saúde, ficámos com o usufruto da utilização deste sistema no país inteiro que é praticamente gratuito, há uma espécie de taxa que se paga mas que não visa o lucro, portanto é prestado por nós. Isto para recuperar o tempo perdido, porque é extremamente importante que a certificação seja feita - e há diferenças entre a certificação e a acreditação. O que é que distingue a acreditação da certificação? A certificação é a verificação de conformidades de acordo com uma norma estabelecida, os standards estão estabelecidos e verifica-se se está conforme ou não está conforme. A acreditação significa, dado o conhecimento público, que aquele serviço tem crédito. Isto é importante para quê? Para que os cidadãos tenham mais confiança nos serviços...
E nos próprios profissionais.
E é motivador para os profissionais também. E depois aquilo é um vício, aquilo é altamente viciante. Todas as pessoas com quem eu falo que sofreram um processo de certificação sofreram de facto no princípio, porque aquilo dá imenso, imenso trabalho e imenso desgaste, mas uma vez montado estão permanentemente a querer melhorar, entram num processo de melhoria contínua, e aquilo é viciante. E a realidade é que o número é exponencial, estamos a aumentar brutalmente o número de unidades que estão em processo de certificação, 72 destas 254 são centros de referência, o que é muito curioso, já estão em processo de certificação 72 centros de referência, dos quais oito até já estão acreditados.
As 112 foram em quanto tempo?
O programa começou quando foi criado o departamento, em 2010, mas primeiro foi preciso preparar os auditores, portanto, na realidade, o grande desenvolvimento foi nos últimos dois, três anos. Eu devo dizer que nos últimos dois anos entraram em processo de certificação 135 novas unidades e foram certificadas 88, o grande boom foi feito nos dois últimos anos, em que já temos auditores formados em número suficiente e também os serviços estão mais despertos para solicitarem eles próprios a acreditação, uma vez que a acreditação não é obrigatória, é voluntária. Mas cada vez mais já reconhecem que têm necessidade. E a avaliação que temos feito e o grau de satisfação destes serviços é grande. No caso dos hospitais, se nós acreditarmos por serviço ou por departamentos, criamos um movimento que é muito do agrado dos portugueses que é o "tu estás, eu também queria estar", por isso há o efeito de pedra no charco.
Concorrência, quase.
Exatamente. Eles sentem a necessidade de também entrarem neste processo, e depois o grau de satisfação é enorme. E nós ficámos muito contentes porque, de facto, o Ministério da Saúde tomou a decisão certa em relação a este modelo, até tendo em conta a criação das redes europeias de referência pela Comissão Europeia.