"A Web Summit teve um impacto na economia na ordem dos 200 milhões de euros"

Entrevista a Miguel Frasquilho, presidente da AICEP

Apostou forte na vinda da Web Summit para Portugal. Já fez um balanço que é extraordinariamente positivo, na forma como decorreu o evento e na forma como o viu. Há pouco estávamos a falar sobre isto e estava a dizer que o mais importante não são estes 200 milhões de influência direta na economia, mas o que vem aí. O que é que acredita que vem aí?

Primeiro, deixe-me dizer-lhe que a AICEP foi, de todas as agências públicas - penso não estar a exagerar se disser isto - aquela que talvez tenha desempenhado um papel mais fundamental para trazer a Web Summit para Portugal. Foi quando nós nos juntámos ao processo, a convite do Meo Arena, numa reunião de trabalho, que depois o governo, à altura, foi envolvido através do vice-primeiro-ministro e isso constituiu a garantia de que os promotores precisavam - porque, até aí, não havia coisa nenhuma - para vir para Portugal. Depois entrou também a Câmara de Lisboa... Mas a AICEP, desde o início, acompanhou o processo e tem vindo a acompanhar desde então e faz parte, também, da troika portuguesa, juntamente com o Turismo de Lisboa e o Turismo de Portugal, que juntamente com os promotores organizaram o evento. Este evento, devo dizer-lhe, superou todas as expectativas que eu tinha e que já eram elevadas. Eu estive na Irlanda no ano passado, onde estiveram mais de 40 mil participantes. Neste ano, tivemos 55 mil em Lisboa, a maioria estrangeiros, obviamente. Mas o mais interessante é que a maior parte destas pessoas que cá estiveram não conheciam Portugal, ficaram a gostar muito do nosso país, que é geralmente o que acontece quando as pessoas cá vêm. Há um impacto direto, que é importante, para a economia a curto prazo, mas o que nos interessa mais é o impacto induzido, aquele que, para já, não é mensurável. E porque é que não é mensurável? Porque de todos os contactos que foram feitos de todos os encontros entre empreendedores, empresários, financiadores, etc. vai resultar...

Em negócios no futuro.

... o levantamento de financiamento para as empresas. E eu vou deixar-lhe este número. Em 2014 e em 2015, as startups que estiveram presentes em Dublin foram capazes de levantar financiamento, em cada um dos anos, de mais de mil milhões de dólares. Eu espero, sinceramente, que em Portugal, na primeira edição desta Web Summit, as startups possam ter batido esse recorde.

É uma coisa que acontece, como sabe, facilmente nos Estados Unidos e não na Europa.

Não, não. Mas aconteceu na Irlanda. A Web Summit mudou, entretanto, a sua localização e eu penso que pode acontecer esse montante ser batido. Isso é extraordinário. Nós tivemos cerca de 1500 startups aqui. Mais de 10% eram portuguesas. Já viu o que é as startups portuguesas serem capazes de levantar o financiamento de que necessitam para desenvolver a sua atividade, para desenvolver os seus negócios, para estarem mais presentes não só em Portugal mas pelo mundo fora? O emprego que podem criar, a riqueza que criam, a inovação? É extraordinário. Para se perceber do que é que nós estamos a falar, eu penso que só houve dois acontecimentos em Portugal recentemente, vamos dizer nos últimos 20 anos, que podem assemelhar--se em termos de impacto e dimensão, que foram a Expo"98...

E o Euro 2004.

... e o Euro 2004. Mas com uma vantagem para a Web Summit. Qual é essa vantagem? É que a Web Summit...

O custo é menor.

Bom, o custo é infinitamente menor. O apoio público...

Mas é engraçado que não se diz quanto é que Portugal teve de pagar para poder ter cá a Web Summit.

Mas eu digo-lhe já: 1,3 milhões. 1,3 milhões é a proposta que está em cima da mesa.

De todas as instituições?

1,3 milhões, das três instituições: AICEP, Turismo de Lisboa e Turismo de Portugal. Quanto é que foi o impacto direto estimado de que nós falámos há pouco? Duzentos milhões sobre a economia. Portanto, penso que não há dúvida nenhuma sobre o retorno. Agora, deixe-me só dizer-lhe uma coisa. Qual é a diferença da Web Summit para o Euro e para a Expo? É que a Web Summit vai estar cá nos próximos três a cinco anos. Ou melhor, eu vou-lhe dizer. Ela vai estar cá...

Há garantias? Três anos vai ter. Fizeram o mesmo na Irlanda. E depois deixaram a Irlanda para vir para Portugal.

Não, os promotores já falaram em cinco anos.

Se continuar a correr bem.

E eu estou muito convencido e vou dizer-lhe que penso que a Web Summit vai estar muito mais do que cinco anos em Lisboa e em Portugal. E isto é extraordinário porque Portugal, durante este tempo, é o centro tecnológico do mundo. Durante esta semana, foi efetivamente o centro tecnológico do mundo! A tecnologia hoje afeta a nossa vida nas suas mais variadas vertentes. E foi por isso que nós tivemos 20 conferências setoriais dentro da conferência Web Summit. Ora, nós sermos falados em todo o lado, termos investidores que, de outra forma, não viriam a Portugal conhecer as nossas empresas, o nosso ecossistema de startups, etc., isto é verdadeiramente extraordinário. Digo-lhe, é um game changer e eu não tenho dúvidas nenhumas de que havia um Portugal antes da Web Summit e vai com certeza haver outro Portugal depois da Web Summit. E esse Portugal é muito melhor.

Mas a Web Summit resulta de uma estratégia para chegarmos a este patamar ou é um ponto de partida para aquilo que Portugal também quer ser?

É um meio para... Faz parte da estratégia que nós desejamos. Porque, repare, a evolução do nosso ecossistema de startups já estava em marcha. Há a feliz coincidência de agora se juntar a essa estratégia a Web Summit. E, aliás, o governo tem, através do Programa StartUP Portugal, apoios muito interessantes para as startups portuguesas que provam que há aqui, de facto, uma estratégia para desenvolver ainda mais o nosso ecossistema e para termos mais unicórnios, que são empresas com valorização acima de mil milhões. Só temos um, por enquanto, mas eu estou convencido de que os próximos vêm a caminho.

A ver vamos. Esperemos que seja assim.

Exatamente.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG