A "inércia" na gestão de migrações "aproveita ao crime"

Alertando para o terrorismo jihadista, Manuel Palos, diretor do SEF, sublinha que "foram várias as vozes que procuraram alertar e dar resposta aos problemas" desta forma de "recrutamento".
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O diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), esta tarde num almoço-debate, organizado pela revista Segurança e Defesa, criticou a falta de "solidariedade" na União Europeia, na gestão dos fluxos migratórios, que tem resultado numa "tragédia, recorrente de há vinte anos a esta parte". Para Manuel Palos, casos como Lampedusa, "é o reflexo mais cristalino de uma Europa que, à semelhança do restante mundo desenvolvido, voltou as costas à criação e à efetivação de verdadeiros canais para a promoção das migrações regulares".

No seu entender, "a inércia, neste domínio, aproveita ao crime organizado e transnacional, cada vez mais imbricado com as vantagens da globalização, porque esta traz consigo a dispersão geográfica da ilicitude, dos instrumentos do crime, das vítimas e dos agentes, por vários países, quando não por vários continentes, características transversais ao contrabando e ao tráfico de pessoas".

Apresentou alguns números: "870 mil milhões de dólares anuais, seis vezes o montante da assistência oficial para o desenvolvimento e perto de 7 por cento das exportações mundiais de mercadorias".

Na sua intervenção, Manuel Palos fez ainda algumas observações assertivas, sobre o terrorismo jihadista, pouco habituais entre as autoridades policiais."Ninguém supunha que os nossos jovens fossem algum dia recrutados para integrarem as fileiras de organizações criminosas numa luta fratricida no Iraque e na Síria, a cujos objetivos - e não às suas piores consequências - deveriam ser completamente alheios", assinalou.

Lembrou que "foram várias as vozes que procuraram alertar e dar resposta aos problemas postulados por esta forma de recrutamento por parte das organizações terroristas, culminando, a 24 de Setembro, numa Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, encimada pela afirmação de que todos os Estados devem impedir a circulação de terroristas ou grupos terroristas por meio de controlos de fronteira eficazes, por via do controlo da emissão de títulos e documentos de identidade, através de medidas de prevenção da falsificação e do uso fraudulento de documentos de identidade e de viagem, encorajando o recurso a análise de risco dos viajantes e à instauração de procedimentos de triagem que incluam a recolha e a análise de dados das suas viagens. Exortando os Estados a que intensifiquem e acelerem o intercâmbio de informações operacionais sobre ações ou movimentos de terroristas ou redes terroristas".

Mas, para Manuel Palos, não se pode apenas tratar desta questão como um "problema de segurança". Neste fenómeno, salientou, "não podemos escamotear que talvez estejamos no limiar das consequências de uma crise que vai longa, a par de uma profunda falta de valores e de uma visão de longo prazo para o problema fulcral do futuro que havemos de guardar para a mais qualificada das nossas gerações - a dos nossos filhos. Note-se que o que faz os jovens europeus alinhar naquele jogo perigoso é o mesmo que fez alinhar os jovens do Norte de África e do Médio Oriente nas vozes que fizeram as praças da Primavera Árabe - a falta de perspetivas".

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