Durante anos, décadas, Algés foi vista como uma zona de transição: entre Lisboa e Oeiras, entre a cidade e o rio, entre a história e a modernidade. Hoje, tudo isso está em mutação. O que antes era um espaço de passagem, de infraestruturas densas e urbanismo desordenado, é agora palco de uma das maiores requalificações urbanas da Área Metropolitana de Lisboa. Com uma visão a longo prazo, investimentos públicos e privados estimados em mais de 250 milhões de euros até 2030, Algés está a ser redesenhada para ser não apenas um bairro moderno, mas também um modelo de regeneração urbana sustentável.A confluência de diversos projetos – a maioria relacionados com os transportes, mas não só – promete fazer de Algés um exemplo de renovação urbana integrada, inteligente e sustentável. Numa perspetiva, aponta Joana Baptista, vereadora do Ambiente e Mobilidade na Câmara Municipal de Oeiras, que ultrapassa o mandato de quatro anos, ou seja, para além de 2029. “Já estamos a projetar a Oeiras de 2050”. Com isto “Algés vai deixar de ser uma zona de passagem para se afirmar como um lugar de vivência urbana plena — verde, vibrante e com qualidade de vida”, num plano que prevê a requalificação da frente ribeirinha, o redesenho da mobilidade urbana, a recuperação do património edificado e a criação de novas centralidades culturais.A intervenção em Algés não se limita a criar um hub de mobilidade. Na verdade, tudo começa com uma intervenção intermunicipal na ribeira que passa em três municípios (Amadora, Oeiras e Lisboa). A vereadora explica que a situação só se resolve através do aumento da seção, por forma a responder a situações de chuva forte, como a que aconteceu em dezembro de 2022. “O município de Oeiras está agora legitimado pelo governo, pelo Ministério do Ambiente e pela Agência Portuguesa do Ambiente para resolver este problema”, afirma Joana Baptista, que refere que “este é um problema de todos”. São 40 milhões de euros de investimento em obras que o cidadão não vê, porque estão debaixo do pavimento, mas que são cruciais para garantir a segurança de pessoas e bens.Mais do que resolver a questão das cheias que tradicionalmente ocorrem naquela zona de Algés, a requalificação da ribeira oferece “uma janela de oportunidade” para, aquando da obra, “podermos transformar a cidade que já está consolidada”. É o caso da Avenida dos Bombeiros Voluntários, que liga Miraflores ao centro de Algés. A vereadora aponta que o município vai aproveitar para transformar aquela avenida numa área “mais urbana, mais apelativa e mais moderna, onde vamos privilegiar o transporte coletivo em sítio próprio”. Isso implica a retirada das viaturas que atualmente estacionam na avenida e a criação de estacionamento alternativo..Uma nova Algés: de nó rodoviário a centralidade urbana A criação do novo terminal intermodal será, muito provavelmente, a parte mais visível e que maior impacto terá em Algés. Trata-se de um equipamento que irá reunir, num único ponto, as ligações ferroviárias (Linha de Cascais), rodoviárias (autocarros), transporte fluvial (novo terminal fluvial) e mobilidade suave (bicicletas e trotinetas partilhadas).Como explica Joana Baptista (secundada por Rui Rei, presidente da Parques Tejo) a ambição passa por transformar Algés num hub de mobilidade, que sirva não só os residentes, mas também trabalhadores, turistas e estudantes. A zona, que atualmente sofre de congestionamento crónico, passará a dispor de soluções integradas e inteligentes.Tendo por base o “Estudo Urbanístico para a Interface de Algés”, que tem como intuito a reorganização e requalificação do espaço urbano, preparando-o para acolher uma maior multiplicidade de meios de transporte, está a ser criado o conceito de “interface metropolitana de nova geração”, um espaço que integre os diversos modos de transporte através de uma rede pedonal segura e confortável, apoiada num sistema de informação avançado e em formas de gestão integrada e inteligente do seu funcionamento.A atual estação de comboios será alvo de obras de modernização. O plano prevê a melhoria dos acessos pedonais, a criação de uma interface intermodal com autocarros e bicicletas, e a instalação de elevadores e escadas rolantes. A juntar a isto está ainda prevista a integração com o Passeio Marítimo e a proximidade ao terminal fluvial de Belém, que serão potenciadas para reforçar a conectividade.Na prática, o que existe hoje, lembra o presidente da Parques Tejo, são dois terminais: o de Lisboa e o de Oeiras. Com o projeto concluído haverá apenas um único terminal, que assegurará vários tipos de transporte e permitirá satisfazer as necessidades de pessoas que atravessam vários municípios. Sendo que o mais importante, frisa Rui Rei é saber “qual a melhor solução para servir as pessoas”, acrescentando que a grande inovação do projeto é a de que se está a criar “transportes públicos em sítio próprio”. Seja com o LIOS - Linha Intermodal Sustentável Ocidental – um projeto de BRT (Bus Rapid Transit), que liga Algés a Alcântara e ao Colégio Militar, em faixa exclusiva e com 16 autocarros elétricos, ou o elétrico 15, que vai chegar ao Jamor. Aqui, no âmbito da ARU (Área de Reabilitação Urbana) do Dafundo, está planeada a reativação da linha do elétrico 15, voltando a ligar Algés ao Jamor, com requalificação das ruas envolventes, alargamento de passeios e criação de zonas de coexistência, num investimento estimado em 5,6 milhões de euros só nesta área do Dafundo. “A transformação completa é a ligação ao rio com a nova cidade que vai surgir por debaixo do caminho de ferro e, ao mesmo tempo, a nova ligação fluvial e a preparação para, depois, ter a quarta travessia do Tejo em túnel e a ligação, no futuro, do metro Algés / Miraflores”..A mobilidade será complementada com o terminal fluvial - e com a quarta travessia do Tejo -, que completa um arco de ligação à margem sul, com a expansão do Metro do Sul do Tejo até à Trafaria, assim como com a criação de uma rede ciclável contínua, desde Algés até à Cruz Quebrada e ao centro de Lisboa. A ciclovia será integrada na frente ribeirinha, com pontos de apoio, iluminação LED, estacionamento para bicicletas e integração com parques de estacionamento dissuasores. O objetivo é incentivar modos de transporte ativos e reduzir a dependência do automóvel particular.Mais do que “simplesmente” transformar Algés num hub intermodal há que realçar que os vários projetos se interligam e criam alternativas à viatura individual. “Este é um projeto que chamamos de cardinal, que junta o SATUO, o LIOS, o BRT na A5 e o caminho de ferro”, explica Rui Rei, que acrescenta que estas novas soluções “não entram em conflito com o automóvel. Com isto aponta o presidente da Parques Tejo, os cidadãos vão conseguir chegar à capital e ter uma circulação interna com qualidade. E isto é absolutamente fundamental para Oeiras (e Lisboa). Porque, como lembra Joana Baptista, “perdemos competitividade quando não oferecemos um sistema de acessibilidade, um sistema de transporte público eficiente”.Com base nos projetos em curso, o investimento total previsto para a transformação urbana de Algés até 2030 ultrapassa os 500 milhões de euros, repartidos entre fundos públicos (municipais, nacionais e europeus) e investimento privado. Este plano de regeneração atua em várias frentes — habitação, mobilidade, sustentabilidade ambiental, requalificação urbana e inovação tecnológica — com o objetivo de reposicionar Algés como uma zona urbana de referência na Área Metropolitana de Lisboa.